Primeiro Alien, e agora Gladiador II. Parece que Ridley Scott perdeu a criatividade e resolveu passar seus anos dourados revisitando franquias de décadas atrás. Gladiador II é uma continuação tardia, mas é também uma história mais ou menos independente. Explico: ele revisita personagens e situações do filme anterior, mas é perfeitamente compreendido por quem não lembra da aventura do Russel Crowe. Pense em Ghostbusters Mais Além, por exemplo.
GLADIADOR II: MAIS ALÉM
A princípio parece que estamos vendo uma história totalmente independente. Durante a expansão do sempre babaca Império Romano, a cidade de Hanno (Paul Mescal) é invadida pelo exército de Acacius (Pedro Pascal), e sua família e amigos são massacrados. Ele, infeliz que só, é levado para morrer no Coliseu e entreter romanos sádicos.
Como ele demonstra raiva, brutalidade e vontade de viver quando é colocado para lutar contra um grupo de macacos, acaba comprado por Macrinus (Denzel Washington), um treinador de gladiadores. Ele recebe uma oferta inrecusável. Ou luta para sobreviver, até comprar sua liberdade, ou morre na arena. São fatos que se repetiram numerosas vezes na nossa história: um prisioneiro de guerra precisando arriscar sua vida para entreter seus captores.
GLADIADOR II E O PREÇO DA ARTE
Gladiador II parece um filme muito, muito caro. Os cenários, os figurinos. Este é um filme espetáculo, um arrasa-quarteirão que faz até as grandes produções da Marvel parecerem coisas feitas em notebooks da Xuxa. Vivemos em uma época com ingressos de cinema caríssimos e filmes criados basicamente em computação gráfica realista. Não sei se foi o caso aqui, mas digo que Gladiador II parece os filmes antigos, quando os efeitos eram práticos. E assim, impressiona e diverte apenas com seu visual. A música, épica e sensacional, também não fica para trás.
Aliás, nada fica para trás. Os atores estão todos muito bem. Não me lembro de ter visto Paul Mescal antes, mas ele é muito carismático. Tal qual Kazuma Kiryu, é um herói bem masculino sem nunca ser tóxico ou usar de sua força para o mal. Em mais de uma cena, seus colegas tiram sarro dele, de forma que parece hostil, e em outros filmes ele explodiria e reagiria com violência. Aqui, embora seja forte o suficiente para distribuir sopapos, ele simplesmente entra na brincadeira e ri junto. Uma lição de vida, realmente.
TREINANDO GLADIADORES
Outro que se destaca positivamente é Denzel Washington. Este é um ator que já vimos muitas vezes e normalmente seus papéis são do sujeito que transborda masculinidade. Aqui ele está bem diferente, com um jeito andrógino que combina bastante com o personagem. A transformação parece até física.
Não sei se é um truque combinando câmera e figurinos mais largos (talvez seja a idade do ator, que está beirando os 70), mas ele parece muito mais magro e frágil do que em qualquer outro filme em que o tenha visto antes. Seja qual for o truque, é uma transformação considerável, e nem por isso seu personagem é menos intimidador. O carisma do ator também faz com que a gente não saiba até perto do final se ele é amigo ou inimigo.
FALANDO EM AMIGO OU INIMIGO…
E isso me leva ao personagem do Pedro Pascal, que também fez com que eu pensasse na minha própria vida. Acacius é um herói do Império Romano, e responsável pelas mazelas que afligiram Hanno. Assim, é o principal alvo da raiva e desejo de vingança do protagonista. Porém, do seu lado, ele se incomoda com a babaquice imperialista romana e planeja dar um golpe para tirar os imperadores corruptos do poder e dá-lo ao Senado. E não, a ironia de isso tudo rolar em uma co-produção entre EUA e Reino Unido, provavelmente os dois impérios mais babacas da história, não é perdida em mim.
O fato é que Hanno não sabe como Acacius se sente, apenas vê o mal que ele fez. É aquela velha situação de que uma conversa poderia colocá-los do mesmo lado. Ora, Acacius sequer sabe do ódio que o protagonista sente por ele. Será que há alguém assim na sua vida? Alguém que você prejudicou e que te considera um vilão e que se pá você nem registrou? É de se pensar, não?
A LUTA DE RIDLEY SCOTT
Na verdade, boa parte do drama do filme é concentrado nesta antagonização entre Hanno e Acacius, a ponto que isso é o responsável pela minha principal decepção. O fatídico encontro entre os dois poderia e deveria ser muito mais legal. Sabe quando o Deadpool fala que os fãs esperaram anos pela luta entre o Wolverine e o Dentes de Sabre? É tipo isso. E acaba quase tão rápido quanto, só que sem a piada.
Curiosamente, este não é um filme que carece de boas cenas de ação. Elas são frequentes e excelentes, e acontecem em abundância antes e depois da luta supracitada. Mas não deixa de ser decepcionante que a briga mais carregada de contexto termine como um pum sem cheiro.
Eu gostei muito de Gladiador quando assisti a ele lá na época de outrora. Faz muitos anos que não vejo de novo, e sinceramente não esperava gostar muito da sua continuação. Felizmente, estava errado. Gladiador II é um excelente filme, e um impressionante espetáculo de produção, que há de conquistar os corações digladiantes de qualquer fã de épicos históricos. Eu sou um deles.
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