Desconhecidos me ensinou algo. Ou então mentiu para mim. Acontece que através de toda uma vida jogando FPS, eu aprendi que escopetas são extremamente poderosas à queima-roupa, mas que a distâncias pouco maiores, ficam praticamente inúteis. Logo na primeira cena de Desconhecidos, um desconhecido dá um tiro de escopeta e, a muitos metros de distância, ela quebra o vidro de um carro. Quem mentiu? Sério mesmo, eu quero saber. É pro meu TCC!
CRÍTICA DESCONHECIDOS
Antes da sessão de Desconhecidos, eu assisti a seu trailer, e fiquei com uma sensação estranha. Parecia que ele estava escondendo uma revelação um tanto óbvia. Pois depois de assistir ao filme, devo dizer que minha intuição acertou. Porém, a tal revelação é um momento vital do longa, que inclusive é montado de forma a esconder isso pelo maior tempo possível. Então seria um estragão comentar isso nesta crítica, mas vai ser difícil.
Desconhecidos começa com uma mulher sendo perseguida por um cara, após uma introdução escrita falando sobre um prolífero serial killer. A coisa segue mais ou menos como você espera, apenas com uma montagem diferente. Acontece que Desconhecidos é um filme não linear.
UM FILME NÃO LINEAR
Logo no início, ele diz ter seis capítulos, mas curiosamente começa pelo terceiro. E depois vem o quinto. E assim por diante. Assim, ele apresenta um desafio: você precisa lembrar como cada capítulo terminou para o numericamente seguinte fazer sentido. Não é difícil, mas torna vital prestar atenção na numeração.
No capítulo 1, em que o casal se conhece, a moça faz um tremendo discurso dizendo como mulheres que buscam sexo casual correm sérios riscos de violência. Isso é verdade, e acredito que muitas moças vão se identificar com o discurso. Mas ele acaba adquirindo contornos totalmente opostos depois da viradinha que não pode ser comentada.
Porque Desconhecidos é isso. Um filme sobre expectativas de gênero e como elas podem ser deturpadas e distorcidas. Isso é exacerbado pela sua montagem não-linear que, assim como em Amnésia, acaba deixando-o ainda melhor. Teria bem mais para falar, mas sinto que já falei demais e não quero estragar sua experiência – se você não matar a charada vendo o trailer, como eu. A boa notícia é que, mesmo se você vir a viradinha chegando, ainda vale ver, pois o longa é mais do que apenas sua reviravolta. M. Night Shyamalan que aprenda.