Pixels

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A galerinha que já tem mais de 30 anos e passou sua infância jogando clássicos dos arcades nos fliperamas mais próximos de casa, com certeza vai se sentir um tanto nostálgico ao assistir Pixels. Eu me senti. E o pessoal mais novo, que só conhece jogos como Galaga e Space Invaders dos livros de história gamística, também vão apreciar esta aventura com pique de matinê.

Até que a parceria entre o diretor Chris Columbus (responsável por escrever ou dirigir vários clássicos da Sessão da Tarde) com o astro Adam Sandler funcionou bem, embora, a exemplo de outro filme com games em primeiro plano, Detona Ralph, não seja a orgia gamística que poderia e tinha potencial para ser. Mas estou me adiantando. Antes, a sinopse:

Uma raça alienígena intercepta imagens de jogos de arcade antigos e confunde isso com uma declaração de guerra. Eles partem para a ofensiva contra a Terra atacando-a justamente na forma de personagens pixelados desses clássicos arcades. Cabe então ao Adam Sandler, um ex-prodígio dos videogames na infância, e seus amigos nerds, salvar o mundo.

Temos aqui um daqueles clássicos produtos ao estilo “desligue o cérebro e divirta-se”, afinal, o que mais se pode esperar de um longa onde o cara do The King of Queens é o presidente dos EUA? E se você fizer isso, vai mesmo se divertir um bocado, principalmente se você se lembra dos anos 80.

Inúmeras piadas, não apenas sobre games, são de elementos da cultura pop do período, e um monte delas é bem legal. Muitas falas do Adam Sandler também são carregadas dessas referências ou de sarcasmo, e também garantem momentos bem engraçados.

Os efeitos especiais são bonitões e o visual dos personagens de games pixelados, e o fato de que eles transformam tudo que tocam em cubinhos, funciona bem na tela e falam à nostalgia dos gamers das antigas. As sequências envolvendo as batalhas são legais, principalmente a do Pac-Man, envolvendo carros no lugar dos fantasmas.

Só é pena também que essas mesmas sequências, o que o filme tem de melhor, sejam um tanto curtas e acabem se resolvendo sem grandes problemas ou esforço. O clímax, por exemplo, é tão curto que acaba deixando aquela sensação de incompletude, de que correram para resolver o filme de qualquer jeito.

Muito disso, fiquei com a clara impressão, se deve porque este ainda é um veículo do Adam Sandler, e ele tem o mesmo roteiro que a imensa maioria dos seus filmes. Sério mesmo que não dava para colocar mais batalhas, mas arranjaram espaço para lhe dar um interesse amoroso? Isso é um filme sobre games, não precisamos de mulheres aqui!

Ao ter que dar tempo de tela ao protagonista e ao seu desenvolvimento romântico, acabou roubando espaço das cenas de ação, que no fim das contas é o que todo mundo quer ver. Outra coisa estranha é que, conforme já falei, apesar de só mostrar elementos de games antigos e de todas as referências aos anos 80, este é o tipo de longa que vai funcionar muito melhor com uma molecada mais nova.

Sua levada de aventura leve e condução remetem a aventuras mais juvenis. Claro, ainda tem piadas e referências suficientes para a galera mais velha, mas não deixa de ser um filme com um feeling infanto-juvenil, mirando justamente em quem nem tinha nascido na década dos mullets e dos sintetizadores. Se a intenção era essa mesmo, não deixa de ser bizarro optarem por utilizar games de 30 anos atrás, da primeira onda dos arcades.

Também poderia ter usado da temática para discutir justamente a diferença entre gerações. Até tem algumas coisinhas, como a cena onde o Adam Sandler explica para uma criança o que era uma casa de fliperamas ou onde eles discutem as diferenças entre os games antigos e os atuais, mas é muito pouco, e se tivessem investido mais nesse tipo de interação, tornaria a coisa ainda mais legal.

Com tudo isso pesado na balança, o resultado geral ainda é deveras divertido, desde que não se tenha altas expectativas quanto ao produto final. Pixels funciona bem tanto para adultos saudosos de um tempo com menos botões para apertar, quanto para a molecada que nunca jogou com um personagem pixelado na vida.

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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
pixelsPaís: EUA<br> Ano: 2015<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 105 minutos<br> Roteiro: Tim Herlihy e Timothy Dowling<br> Elenco: Adam Sandler, Kevin James, Michelle Monaghan, Peter Dinklage, Josh Gad, Brian Cox, Sean Bean, Jane Krakowski e Dan Aykroyd.<br> Diretor: Chris Columbus<br> Distribuidor: Sony<br>