Infamous

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Sabe, aos poucos meu trauma com jogos de mundo aberto vai se desfazendo. Acredito que essa mudança começou a rolar com Assassin’s Creed, pois foi quando reparei, pela primeira vez, que o simples fato de circular por aquele mundo, escalando prédios e o escambau podia ser divertido.

Infamous tem muito – MUITO – a ver com o jogo do assassino que diz credo. Tirando, é claro, o fato de que aqui você não é membro de uma sociedade secreta – aqui você é um super-herói. E Infamous é, muito provavelmente, o melhor jogo de super-heróis feito desde o arcade do Homem-Aranha ou de Batman Returns do Super NES.

GÊNESE

Você é Cole McGrath, um motoboy. Um dia, seu cliente pede para que você abra o pacote que ele encomendou. BUM! Uma tremenda explosão destrói boa parte da cidade e mata uma quantidade considerável de pessoinhas. Isso coloca a cidade em uma quarentena. Você, claro, não se importa. Afinal, como todo nerd sabe, se você está no epicentro de uma mega-explosão, não vai morrer, vai apenas ganhar superpoderes. E é exatamente isso que acontece com Cole, que ganha o poder de controlar eletricidade. Ele agora vai aprender a lição número um de todo super-herói:

COM GRANDES PODERES VÊM GRANDES RESPONSABILIDADES. A NÃO SER QUE VOCÊ NÃO AS QUEIRA

Não demora muito para as pessoas começarem a pedir ajuda para Cole. Ao mesmo tempo, ele percebe que pode usar seus poderes para benefício próprio. Por exemplo, com a cidade em quarentena, alimentos são jogados pelo governo. E aí, o que você faz? Divide com seus patrícios como um mariquinha ou mostra que é trüe, queima a galera e pega tudo para você e seus miguxos? Essa é a primeira missão do jogo, e dá a tônica para tudo o que vem depois.

SER HERÓI É OPCIONAL

Se você decidir ser um fruta, as pessoas vão começar a tirar fotos suas, a aplaudir quando você passar na rua e, é claro, a pedir ajuda. Por outro lado, se optar pelo caminho da trueza, sua aparência vai mudar para algo mais badass, a eletricidade que você controla vai ficar vermelha e todo mundo vai fugir ao avistá-lo. A não ser, é claro, uns manos que vão ficar atirando pedrinhas dizendo que Cole vai pagar por suas atitudes. Você, é claro, vai recompensá-los mostrando os benefícios de um raio elétrico na cara.

Obviamente, suas decisões afetam a história, mas bem menos do que deveria. O final, por exemplo, é praticamente igual, seja você bonzinho ou mauzinho. Em um dos momentos mais memoráveis, o vilão vai brincar de Duende Verde e obrigar o jogador a escolher entre alguém muito especial ou várias outras pessoas genéricas. O resultado (leia “quem morre”), porém, é o mesmo, independente da sua escolha, o que tira um pouco a sensação de que é você quem está no comando da história.

Por outro lado, seus poderes são bastante diferentes dependendo do lado escolhido. Os poderes from Hell são bem mais voltados à destruição, enquanto os from Heaven evoluem na direção da defesa e da captura dos desafetos. E sabe o que é mais estranho? Isso torna o jogo bem mais fácil caso você opte por ser um bom menino.

Uma coisa que me incomoda nos jogos que permitem ao jogador ser o vilão é que, ou eles são completamente cômicos, como Stubbs, Overlord e Destroy All Humans ou, quando são sérios, caso você escolha o caminho do capiroto, sempre acaba se dando mal, em comparação com o caminho das frutas, que sempre traz um final fofo e cuti-cuti. Pô, alguém podia ousar e fazer uma história séria contada do ponto de vista de um vilão e, portanto, com um final feliz para ele, né não?

A história é contada através de desenhos com efeitos 3D que deixam tudo bem interessante e com a maior cara de gibi. Se você é fã da nona arte, vai delirar, tanto com a estética quanto com o roteiro.

ANDANDO PELA CIDADE

Este é o ponto em que Infamous realmente lembra Assassin’s Creed. Isso porque boa parte da sua movimentação será feita através de escaladas em prédios. Funciona mais ou menos assim: escale até o teto do prédio mais alto que encontrar. A partir dali, movimente-se rapidamente pulando de um teto para outro, deslizando por cabos de energia elétrica e, o mais legal, planando através de energia estática. Quando tudo funciona bem, a locomoção é eletrizante. Há, eu sou um gênio dos trocadalhos, diz aí! 😛

Para os controles serem acessíveis, a Sucker Punch optou por uma estratégia diferente da usada no jogo do Assassino Crente. Como se Cole fosse magnético, ele é automaticamente atraído para qualquer lugar em que possa agarrar ou deslizar, o que torna tudo muito fácil e intuitivo. Bem mais, aliás, do que no Assassin’s Creed que, convenhamos, é bem complicado para jogadores não acostumados com alta complexidade de controles.

Infamous, ao contrário, é completamente acessível. Até sua namorada (supondo que ela não seja uma gamer) será capaz de se locomover pela cidade como uma verdadeira super-heroína, de forma rápida e empolgante.

Essa acessibilidade, porém, vem com um preço: a falta de controle. Ao contrário de Assassin’s Creed, onde, uma vez acostumado com os controles, a imersão nunca é quebrada, aqui Cole frequentemente vai se segurar nos lugares errados e você vai ficar brigando com seu Dualshock. Por exemplo, às vezes você quer pegar um item vários andares abaixo, mas tem que ficar constantemente mandando Cole largar das janelas ao invés de simplesmente cair de uma vez. Em alguns momentos, ele chega até a ir para a esquerda quando você vira a alavanca para a direita. O.o

RECONSTRUINDO OU DESTRUINDO A CIDADE

Existem 39 story missions em Infamous, o que é missão pra cacildis! Tem também sidequests, mais especificamente 15 missões “hail, satan” e outras 15 “pelo rei, pelas terras e pelas montanhas”, além de várias neutras.

Porém, as side-missions neutras dificilmente são neutras, pois não raro envolvem salvar alguém ou atender a um pedido de um cidadão. Por outro lado, as missões do mal são bem legais. Envolvem, por exemplo, objetivos como “destrua a cidade até a polícia vir atrás de você” ou “mate todos os manifestantes que estão fazendo um protesto pacífico”. Já as das “terras verdes onde os dragões voam” costumam envolver coisas como ajudar a polícia, desarmar bombas e afins.

Tem muita variedade nesse jogo. Muita mesmo. Porém, alguns tipos de missões se repetem e especialmente essas nem sempre são legais. Por exemplo, uma que rola várias vezes se chama Counter Surveillance e envolve destruir aparelhinhos presos em prédios. Se você procurar sacal no dicionário, provavelmente vai encontrar fotos de uma dessas fases.

A maioria, felizmente, é bem legal e envolve a já tradicional corrida por pontos da cidade, destruir coisas, desarmar coisas, ajudar pessoas e matar pessoas. Enfim, tem coisa para todos os gostos por aqui.

Como se isso não fosse suficiente, você ainda pode procurar por blast shards que aumentam seus poderes e mesmo procurar por gravações de áudio à Bioshock que aprofundam a excelente história do jogo.

A dificuldade merece um destaque positivo. Em nenhum momento o jogo parece fácil demais (acredite, você vai morrer pra caramba). Porém, a morte nunca chega a ser frustrante, graças a excelentes checkpoints que te colocam direto de volta no ponto mais lógico possível (GTA deveria aprender com esse aqui nesse ponto). Na verdade, em alguns momentos, os checkpoints são tão generosos que vão até colocar você em um lugar mais adiantado da fase, por onde você ainda não tinha passado, mas isso acontece bem poucas vezes e não chega a atrapalhar muito.

OLHANDO A CIDADE

Não espere que Empire City seja tão rica, bonita e viva como Liberty City. Na verdade, tirando as missões e as buscas por itens, não tem mais nada para fazer aqui. Não espere ficar namorando ou assistindo a shows de comédia.

Visualmente, Infamous também não é nada demais. Nos poucos momentos em que as coisas acontecem de dia, até existem cores e lugares interessantes para olhar, porém, 80% do jogo rola à noite, onde tudo fica azul escuro. Em determinado trecho, aliás, tudo fica simplesmente cinza. E monocromatismo nunca é uma boa.

Os personagens, por outro lado, são bem animados e têm designs interessantes, embora seria mais legal se existissem mais tipos diferentes de inimigos (cada uma das três ilhas tem uns dois ou três tipos que nunca se misturam aos das outras).

Também estranhei o fato de que, embora esta seja uma típica história de super-heróis, Cole nunca chega a usar algum tipo de uniforme ou algum nome heróico. Aliás, ele nem sequer chega a mudar a roupa de motoboy do início do jogo e todo mundo o chama de Cole o tempo inteiro, o que é uma traição do movimento heróico, véio.

OUVINDO A CIDADE

A música é praticamente inexistente, aparecendo apenas em alguns poucos momentos e, mesmo assim, são composições bem esquecíveis. O som e ambientação, por outro lado, são bem legais e temos aqui ótimas interpretações de quase todos os atores.

O elo mais fraco, infelizmente, é justamente o Cole. Quando você é malvadão, até faz sentido ele falar com aquela voz rouca à Rorschach, mas se você está sendo o maior defensor dos frascos e comprimidos desde o Superman, ele deveria ter uma voz mais simpática e jovial, que não assustasse velhinhas indefesas.

ELETRICIDADE TÉCNICA

Existem alguns problemas técnicos em Infamous, como é comum em jogos de mundo aberto. Em determinado momento, eu estava correndo pela rua e de repente comecei a atravessá-la como se fosse a Kitty Pride. Não, eu não estava descobrindo um novo poder mutante, era um pau mesmo, que logo resultou na minha morte quando o personagem caiu em um mar de nada.

ELETRIFICANTES CONCLUSÕES

Infamous tem alguns problemas, mas ainda assim é um jogo muito legal, que deve ser experimentado por qualquer pessoa que tenha algum interesse em histórias de super-heróis. E, se você está no DELFOS, com certeza está nesse grupo.

TROFÉU ABACAXI: DEMO ELÉTRICO

Isso não tem nada a ver com a resenha em si, mas não posso deixar de reclamar do demo desse jogo, onde você assume o papel de um Cole completamente turbinado, com todos os poderes mais pintudos já adquiridos e, ainda por cima, com o mana se renovando sozinho (no jogo real, o mana só é recuperado absorvendo a energia de coisas elétricas). Ou seja, por mais que faça todos os upgrades, o jogador que comprar o game, nunca vai atingir o nível de pintudice que experimentou no demo, o que é deveras frustrante.

E outra, precisava demorar tanto para liberar o poder de planar pela cidade? Acostumei-me no demo a usá-lo como meu principal meio de locomoção e me senti castrado quando o jogo final chegou e eu constatei que isso só seria liberado perto da metade da história. Poxa, essa não deveria ser uma das habilidades base do herói?

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