É engraçado quando a própria distribuidora não acredita no filme, você não acha? Em uma clara e vã tentativa de fazer o público pensar que está é uma continuação, ou mesmo algo relacionado, de Contatos Imediatos do 3º Grau, colocaram aquele “contatos” esperto no título. Poxa, se é para ser cara de pau, chame logo de Contatos Imediatos do 4º Grau e ainda escreva no pôster “um filme assistido por Steven Spielberg”. Pelo menos ficaria engraçado.
Agora sabe o que é pior? O filme nem precisaria de tanta insegurança, pois tem qualidades e até inovações. Logo no começo, Milla Jovovich se apresenta e diz que tudo o que você vai ver é uma dramatização de coisas reais e documentadas. E mais, as imagens e sons serão constantemente comparados aos originais.
“Ôxi”, pensei com meus botões. “Então tá”. Aí conhecemos a Dra. Abigail Tyler, que aparece intercalando sua versão real com a da Milanesa à Jovovela. Ela é uma terapeuta da cidade de Nome, e vários dos seus pacientes estão sofrendo a mesma crise. Em outras palavras, estão sendo abduzidos pelos alienígenas mais malvados desde o Chorão.
A partir daí, o filme demora um pouco para engrenar, apesar de algumas cenas que ficam fortes quando o diretor nos lembra visualmente que elas são adaptações de gravações reais. Porém, quando realmente começam a falar de alienígenas propriamente ditos (lá pela metade), o bicho engrena forte. E, maninho, ele dá tanto medo que eu me arrependi de, justamente nesse dia, ter deixado a mamadeira em casa. Por causa disso, tive que ser macho e agüentar o resto apenas com meu cobertorzinho de segurança.
Há muito tempo um longa não me fazia pular da cadeira e esse conseguiu isso. E por Odin, tem algumas gravações de áudio reais que mostram até as vozes dos alienígenas. Sem exagerar, durante estes 98 minutos, soltei mentalmente a maior parte de “cacildis” que já soltei no cinema.
A direção é especialmente boa. Muitas vezes, vemos ao mesmo tempo as gravações reais e as feitas para o filme, permitindo comparações deveras interessantes. Tirando o medo, estava empolgado por estar vendo uma nova forma de cinema, que mistura imagens realmente documentais (e não apenas simulando essa estética) com as “fictícias”.
Assim, saí da sala empolgado, crente que tinha assistido a uma obra inovadora e digna de quatro, quiçá até de cinco Alfredos. Porém, durante toda a projeção, fiquei em dúvida se era tudo de fato real. Considerando o pôster, o trailer e até o final, que passa vários minutos explicando em texto o que aconteceu com os protagonistas (lembrando inclusive dos nomes trocados) depois dos fatos mostrados, imaginei que provavelmente era mesmo real.
Porém, sou desconfiado pra dedéu e pensei que, se de fato essas imagens já existissem e fossem conhecidas do público, no mínimo do mínimo, a Dra. Abigail Tyler teria uma página na Wikipédia. Fui lá procurar e o sistema me indicou esta aqui, que explica que não só as imagens divulgadas como reais foram gravadas para o filme, como a Universal teve que pagar multa pela sua campanha de marketing enganadora.
E saber disso arruína absolutamente TUDO que eu vi de bom e relatei acima. A mistura de atuações com imagens reais perde completamente seu propósito se ambas são fictícias. E a edição estilosa acaba virando apenas uma simulação de HQs como já vimos várias vezes.
Claro, ninguém espera que um filme fique constantemente te dizendo que tudo que você vai ver é mentira. Mas prometer imagens reais e mostrar simplesmente coisas atuadas e gravadas em câmeras de qualidade inferior é simplesmente errado. E decepcionante. E, cacildis, o pôster promete uma história real. E não é!
Assim, não é questão de suspensão de crença, é questão de vender algo viciado. Quem compra o ingresso para esse filme compra uma coisa e recebe outra. Por mais que propagandas manipulem e raramente sejam honestas, esse talvez seja o caso mais enervante que já vi. E olha que eu fiz faculdade disso!
Pense, por exemplo, no caso da Bruxa de Blair, que talvez tenha sido o primeiro a fingir ser real. Agora repare que eles não escreviam que era real no pôster. Diziam apenas algo como “está é a fita encontrada na floresta”. Sim, é manipuladora, pois nos levava a pensar algo. Mas dizer isso é mais ou menos como escrever no pôster de O Senhor dos Anéis que Frodo precisa levar o anel para Mordor. Só que, graças à metalinguagem e ao assunto mais real e contemporâneo abordado por Blair, a gente era levado a acreditar que aquilo era real. Mas o filme não abria com o Tom Hanks ou qualquer outro ator conhecido dizendo que tudo que você ia ver era real.
Dessa forma, temos aqui algo que poderia ser um excelente filme de terror jogado no lixo por ambições mesquinhas e desonestas. E, para piorar, dá para o diretor Olatunde Osunsanmi (duvido você digitar isso sem ser copiando letra por letra) um status de maníaco religioso. No final, um dos ETs diz na imagem “real” que é deus e o próprio diretor pergunta para a Abigail “real” se ela acredita nisso. Ela diz algo na linha “não, porque ele me fez sentir mal. Mas ele pode ser alguém que consegue fingir que é”. Ou seja, Satã, né, minha querida?
Faça-me o favor! Essa cena já foi constrangedora quando eu achava que a mulher ficou doida, mas ver que o filme foi feito com o objetivo de mentir sobre si mesmo para passar essa mensagem de “os alienígenas são poderosos e malvados e Satã ordena que eles te peguem à noite” faz com que eu queira encerrar essa resenha por aqui. Já perdi tempo demais com essa porcaria. Tchau!