Coletiva Fragmentado: M. Night Shyamalan

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Para promover Fragmentado, o diretor e roteirista M. Night Shyamalan veio a São Paulo para uma rodada de eventos, sendo o primeiro deles uma entrevista coletiva que aconteceu logo após a cabine de imprensa do filme e onde estive presente representando o DELFOS.

Assim que o filme acabou, houve um almoço por conta da Universal, e você sabe que nada deixa os jornalistas mais felizes do que uma boa boca livre. Após o repasto, rumei para a sala onde aconteceria a coletiva, que fica na frente do cinema e eu nunca tinha notado antes.

Pelo que entendi, ela é uma espécie de lounge para clientes VIPs do shopping, tipo aquelas salas VIPs de aeroportos, manja? Agora porquê diabos alguém precisa de uma sala VIP num shopping center, aí já não faço a menor ideia. Enfim, o recinto pequeno foi arrumado com cadeiras para os jornalistas, um lugar ao fundo e ao lado para os fotógrafos e o palco para a estrela do evento.

Na hora marcada, 14h, Shyamalan adentrou o recinto para meia hora programada de conversa com os jornalistas, que acabou se estendendo por uns minutos a mais. E como não podia deixar de ser, muitas das perguntas giraram em torno do surpreendente final do filme, que deixou todo mundo de queixo caído.

Por isso, vou deixar esse grande bloco de perguntas para o final, com um grande aviso de spoilers para não estragar a surpresa de ninguém, e começar com os questionamentos livres de estragões. Portanto, pode ler numa boa até chegar ao aviso, que essas partes não entregam nada.

PERSONALIDADES CATIVANTES

Começando a rodada de perguntas mais inofensivas, foi questionado sobre o uso de porões em seus filmes, que parecem aparecer constantemente, ele disse: “é verdade, mas nunca havia tido esse ‘clique’. Há algo de dramático em um espaço sem janelas, é claustrofóbico. Acho espaços confinados estimulantes para a imaginação”.

Sobre a criação do personagem, Shyamalan ressaltou que trabalhou com um psicólogo e que quase tudo, com exceção da Fera, é pesquisado, falando da conexão entre corpo e mente e imaginando o que aconteceria se alguém que sofre desse transtorno imaginasse que fosse um ser sobrenatural.

Também foi perguntado sobre como foi o trabalho de James McAvoy, ao que ele começou dizendo que “em situações como essa, você faz uma oferenda aos deuses do cinema e torce pelo melhor, e funcionou, pois James entrou para o filme”, chegando até a citar Haley Joel Osment (o menido de O Sexto Sentido) como um desses casos felizes.

“James já tinha feito um filme sobre esse transtorno (nota: Shyamalan não citou o filme e eu não consegui descobrir qual é. O mais perto que cheguei em minha pesquisa é Filth, onde ele interpreta alguém com Transtorno Borderline, o que obviamente não é a mesma coisa). Ele é destemido, super corajoso, quase ‘robinwilliansnesco’ em sua capacidade de fazer vários personagens. E consegue trazer empatia para as várias personalidades. Tentamos fazer uma personalidade por dia para que ele pudesse se concentrar e ele foi 100% comprometido com o projeto”.

Sobre as personalidades ruins do personagem Kevin, o cineasta disse: “todo mundo fica brigando pela consciência e por organização. Às vezes é preciso personalidades mais sombrias, elas são necessárias para um indivíduo com esse trauma sobreviver no mundo. Há causa e propósito para elas. Para o Kevin elas não são realmente más, são protetoras”.

MAIS UMA GRANDE REVIRAVOLTA

HORA DO AVISO: o resto da matéria a seguir contém grandes SPOILERS malvados. Pare aqui, assista ao filme primeiro e depois volte para ler o resto do relato da coletiva. Ao delfonauta mais teimoso, prossiga por sua conta e risco. Depois não diga que não foi avisado!

Shyamalan começou a entrevista dizendo que tinha a ideia do filme há muito tempo, 17 anos atrás, para ser mais exato, e que ela era o outline para outro filme. “Vocês sabem qual”, brincou com os jornalistas que haviam acabado de assistir ao filme. Também disse ser fascinado por esse transtorno (o TDI, Transtorno Dissociativo de Identidade, do qual o protagonista sofre) e afirmou que falou com um dos principais psiquiatras da área para pesquisar. “99% (do que está no filme) é verdade, a química corporal realmente é capaz de mudar”.

Claro, não demorou para surgir a primeira pergunta sobre a conexão de Fragmentado com Corpo Fechado. Ao que ele respondeu: “A última cena sempre foi pretendida para estar lá. E Bruce Willis a fez quando lhe pedi que a gravasse como um favor a mim. Queríamos ter certeza de que não houvesse spoilers“.

Ao que ele concordou que foi um grande milagre nenhuma informação a respeito do final ter vazado após as primeiras exibições. “Fizemos exibições teste, mas sem mostrar a cena final. Quatro meses atrás mostramos o filme no Texas com o fim pela primeira vez e foi como um orgasmo coletivo. E as 500 pessoas presentes simplesmente guardaram o segredo. Na exibição seguinte, a mesma coisa. Tem sido um caso de boa vontade coletiva, então estou contando com vocês”, brincou.

Perguntado sobre porque demorou tanto tempo para retomar a história, disse que nunca se sabe porque alguém está pronto para fazer algo ou não. “Sentia que a audiência ainda não estava pronta (anos atrás). Os tempos e o tom eram sombrios, mesmo com trechos de comédia, Corpo Fechado era sombrio e lúgubre demais para a época. Agora sinto que esse tom funciona, sinto que estou conectado de novo”.

“Essa mudança de tom com o público tem acontecido cada vez mais. Jack Sparrow e Tony Stark, dois alcoólatras, são nossos heróis agora. Sempre me interessou trazer escuridão e dor para uma situação cafona (cheesy) e acertar esse equilíbrio”.

Claro, fazer algo ligado a um filme de 17 anos atrás pode significar que as novas gerações talvez não façam essa ligação. Perguntado sobre isso, respondeu: “nos casos de A Visita e Fragmentado, as principais plateias foram de 14 a 32 anos. Há duas plateias se encontrando neste filme. Estava crente de que a parcela mais velha ia curtir o fim e os mais novos iam boiar, mas iam acabar se informando e iriam atrás de assistir o antigo.

Concluiu a coletiva sem querer entregar muito, mas disse que está escrevendo a última coisa relacionada a esses dois filmes, e que espera que saia ano que vem. Em seguida, agradeceu aos presentes, se despediu e foi-se embora, pois ainda tinha um longo dia de eventos promocionais pela frente.

Tive uma boa impressão do sujeito no geral. Sempre havia lido que ele era meio nariz empinado, cheio de si. A impressão que tive não foi essa, e sim de um diretor bastante seguro de seu trabalho, independente dos resultados, alguém muito preparado para falar a respeito e defender seus conceitos. E, sobretudo, alguém que fica à vontade falando sobre tudo isso.

Seja como for, agora resta ver e rever Fragmentado e entrar na discussão que já está rolando por aí. Seria este o começo do renascimento artístico de M. Night Shyamalan? Deixe sua opinião nos comentários.

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