É impressionante a quantidade de reações negativas que a palavra Jazz pode provocar nas pessoas. Facilmente podemos ouvir coisas como “música para intelectuais”, “pô, mas parece que cada um tá tocando uma música diferente”, “os caras não querem se divertir, só mostrar que tocam pra caramba” e a indefectível pergunta: “ué, mas isso não é música só de negão?”. É evidente o pouco conhecimento que a imensa maioria das pessoas possui a respeito desse gênero musical. Mesmo ferrenhos apreciadores de outros estilos musicais, como a nossa MPB ou o Heavy Metal, podem ser enquadrados nesse grupo, embora muitos de seus ícones sejam fãs declarados de grandes jazzistas.
Seguindo esse caminho, chegamos a algumas situações muito engraçadas: Elza Soares, aquela que foi casada com o Garrincha e carregava latas d’água na cabeça, e Tony Iommi, aquele que cresceu nos bairros operários ingleses e que gosta de Sabás Negros, pertencem a nichos musicais muito diferentes. No entanto, ao ler entrevistas com qualquer um dos dois, é possível descobrir o que têm em comum: uma admiração absoluta pelo Jazz.
Nesse sentido a “Coleção Folha Clássicos do Jazz”, lançada pelo Jornal Folha de São Paulo no mês de setembro de 2007 e com previsão de finalização em fevereiro do presente ano, torna-se uma excelente oportunidade para aqueles que quiserem dar os primeiros passos neste tão fascinante gênero musical. Composta de 20 volumes no formato livro-CD, os disquinhos chamam a atenção pelo belíssimo acabamento e as informações neles contidas. Cada um dos volumes conta com uma pequena biografia e contextualização da obra produzida pelo músico em questão; relacionando-a com as demais ramificações do Jazz e os acontecimentos históricos que sem dúvida influenciaram a música e foram influenciados por ela. Ah, sim, digno de nota é a o layout dos cds imitando os antigos discos de vinil. Um único senão: porque estampar o nome do jornal na lombada?
Trompetistas, baixistas, bateristas, cantoras, clarinetistas. Músicos de diversas vertentes celebrizaram-se tocando o Jazz e são apresentados nessa coleção. Impossível falar dos 20 nomes aqui presentes. Cito alguns. Claro, aqueles dos quais gosto mais. Louis Armstrong, um dos maiores nomes do Jazz, tem seu trabalho apresentado no volume 3. Abandonado pelo pai, criado pela mãe e a avó, aprendeu a tocar corneta num reformatório. Celebrizou-se como exímio trompetista. Ao adotar um repertório mais comercial, chegou a disputar posições nas paradas de sucesso com nomes de maior apelo popular como os Beatles. O baterista Art Blakey tornou-se célebre ao fazer de seu grupo, os Jazz Messengers, uma verdadeira máquina de revelar talentos. Era capaz de escolher com tamanha precisão seus músicos que, mesmo com o freqüente entra-e-sai, conseguiu manter a identidade musical do grupo. Este é apresentado no volume 5. Já a cantora Ella Fitzgerald, que aparece no volume 6, é uma ex-prostituta que, aos 17 anos, já estava à frente da orquestra de um dos grandes nomes do Jazz, Chick Webb.
É sempre bom que se diga que o Jazz, ou muitos de seus sub-gêneros, carregava com suas inúmeras improvisações também o objetivo de divertir suas platéias. Fazer dançar, sabe? Ian Paice e sua trupe que o digam. Cantar a tristeza também faz parte do repertório desses músicos. Billie Holliday o fez magistralmente e tem seu trabalho apresentado no volume 12 . Aliás, é sempre bom que se diga, a biografia de boa parte desses músicos faria facilmente Jim Morrison ou Tommy Lee parecerem iniciantes no quesito “porralouquice”. Senão, dêem uma pequena olhada na biografia do saxofonista Charlie Parker, que morreu aos 34 anos num estado de degradação pelo álcool e drogas que o médico que fez sua autópsia acreditou se tratar de um senhor de 60 anos.
Tudo isso, por um preço bastante acessível, pode ser encontrado nas bancas de jornais; e com a possibilidade de adquirir somente aqueles volumes que interessarem. Agora, alguém pode estar se perguntando: que diabos um texto sobre Jazz está fazendo no DELFOS? Eu também não sei. Se você realmente estiver lendo isso no DELFOS, envie um e-mail para o Corrales e tente descobrir o motivo da publicação.