Eu reconheço que Adam Sandler já fez muita coisa de qualidade duvidosa no cinema. Tem filmes dele que beiram a estupidez e conseguem ser completamente sem graça, mesmo sendo comédias. O que acontece neste Click, no entanto, é diferente. O filme não pode ser bem classificado como comédia, pois está mais para uma comédia romântica que intercala partes do humor meio grosseiro típico do Adam Sandler com momentos tristes e de trilha sonora melancólica e, ao final, uma lição de moral para emocionar a família.
A premissa, todavia, é bem interessante e, até a metade do filme, os momentos engraçados prevalecem com base nesta idéia: um arquiteto que não consegue conciliar seus momentos familiares com seu árduo trabalho vai a uma loja chamada “Cama, Banho e Além” e, no setor do “Além” encontra um cara meio maluco que lhe dá um controle remoto universal. Só que ele vai descobrir, em seguida, que o termo “universal” é levado ao pé da letra pelo aparelhinho, pois o mesmo controla tudo ao redor dele.
Como ele faz isso? Bom, imagine que sua vida fosse um filme em DVD, caro delfonauta. Com o tal controle, você poderia rever tudo o que quisesse no seu passado, podendo escolher se quer ver as coisas escutando comentários ou não. Mas espere! Não é só isso não! Você ainda poderia paralisar as pessoas quando quisesse, diminuir o volume de conversas chatas para não ser obrigado a escutar baboseiras e o melhor, pular capítulos! Vamos supor que você quer muito acessar o DELFOS, mas está numa ilha deserta, de férias com seus parentes mais chatos, incluindo sua sogra. Com o controle nas mãos, bastaria você dizer “pular para o dia em que chegaremos em casa” e apertar o botão do “Forward”.
O que acontece, na realidade, é que pra você o tempo pula até o momento desejado, mas para o mundo ao redor o tempo corre normalmente e você também está lá, no chamado “piloto-automático”, ou seja, o seu corpo agüenta toda a chatice, mas, para a sua mente, é como pular um capítulo. Legal isso, não? A principio parece ser bem legal, mas o problema de tudo, que faz a trama do filme começar a ficar triste, é que o aparelho tem memorização automática e é esse o outro lado da moeda.
Quando Michael Newman (o personagem de Sandler) começa a pular por repetidas vezes as coisas de seu cotidiano, como discussões com a esposa, o tempo perdido no trânsito e etc, tudo desaba ao seu redor. No momento em que ele decide não fazer mais isso, já é tarde. O controle memorizou e todas as vezes que sua mulher começa a brigar com ele, pula o capítulo até ela ter se acalmado. O pior é que essa é só uma das coisas memorizadas, e o que acontece é que o tom cômico do filme muda completamente quando o tempo vai passando cada vez mais rápido e logo nos deparamos com um Michael Newman velho, que mal reconhece os próprios filhos (que, para ele, crescem uns 3 anos a cada dia) e também não sabe que morreu uma pessoa muito importante de sua família (que eu obviamente não vou contar quem é, para não estragar a surpresa), enquanto ele estava no “piloto automático”.
Esse momento em que Newman se dá conta de que sua vida toda passou sem que ele tivesse aproveitado nada dela é bem triste mesmo. Foi nessa hora que esse crítico que vos escreve quase chorou. Ainda digo que Click é o filme mais triste de Adam Sandler por causa dessa parte final, que se resolve de modo bem clichê, mas que não chega a estragar essa comédia romântica.
Confesso que, com esse Click, até me lembrei daquele filme Um Homem de Família, com o Nicolas Cage, afinal a melancolia de alguém que só vive para o trabalho e não aproveita a família está presente aqui do mesmo modo que está no filme de Brett Ratner. A diferença está mesmo no tom mais bem humorado presente no roteiro deste aqui, que, apesar de bobo e muitas vezes grosseiro, faz rir bastante. É por isso que esse é, também, o filme mais engraçado de Adam Sandler. Confuso? Então assista e entenderá melhor.