Ah, Castlevania. Uma série que dispensa apresentações – desde a sua primeira versão, no saudoso MSX, é conhecida como uma das melhores coisas já feitas pela Konami. E também como responsável pela destruição de inocentes joysticks pela sua dificuldade impiedosa. Bom, a questão da dificuldade tem mudado com os jogos mais recentes da série, mas isso é assunto para uma outra resenha.
Meu amor pela série começou no longínquo ano de 1990. Estando com o meu recém-comprado Phantom System em casa e, sendo forçado a me torturar, quero dizer, jogar apenas Ghostbusters (que vinha com o videogame), enchi o saco dos meus pais até me associar a uma locadora de games perto de casa. Ao fazer isso, ganhei três cupons, cada um dando direito a uma locação. Na primeira vez que usei não havia nada de muito relevante disponível (e não ajudava muito o fato de eu não conhecer jogo nenhum), então acabei pegando Sector Z, um shooter meio enjoado da Capcom. Na segunda vez, também não tive muita sorte, e acabei levando Cobra Command, da Data East (bem na linha de Choplifter e igualmente chato). Da terceira vez, entretanto, a coisa melhorou um pouco, e fiquei na dúvida entre RoboCop e um tal de Castlevania. Hmmm… Vampiros? É, acho que vou arriscar! Desde esse dia criei uma certa obsessão, e hoje em dia, tenho praticamente todos os jogos lançados da série, inclusive alguns raros (e CAROS) jogos que só saíram no Japão.
Há algum tempo cheguei a dedicar uma página ao assunto, a Ruins Of Castlevania, mas por falta de tempo da minha parte, acabei matando a dita cuja. Aliás, se bobear ainda encontro alguns dos meus textos da página por aí, pois um montão de gente copiava descaradamente. Bem, sem mais delongas, comecemos a falar sobre esse cartucho que, pelo menos para mim, foi o início de um vício que dura até hoje.
Castlevania foi lançado em 1986 no Japão e em 1987 nos EUA. O nome japonês, Akumajou Dracula, significa “Castelo do Demônio Drácula”. Essa, aliás, é a única menção ao Drácula, eterno vilão da série, pois no cartucho americano ele só é conhecido como “O Conde”.
O jogo é estrelado por Simon Belmont, um dos mais famosos membros da família Belmont, os caçadores de vampiros oficiais da série. A propósito, quem já teve o (des)prazer de assistir ao ridículo desenho da Nintendo, “Capitão N”, por favor se esqueça daquele sujeito afetado que dizia ser Simon Belmont. Ele provavelmente bateu com a cabeça no chão e o primeiro nome que viu depois do tombo foi esse.
História? Não, isso não é necessário! O jogo foi lançado nos saudosos anos 80, a década da ação descerebrada (old-school detona!), então a única história é a seguinte – há um vampiro mau na parada e há um cara fortão para acabar com a raça dele! Aliás, será que eu sou o único que sente falta dessas “histórias”?
Bom, o jogo assemelha-se bastante com Vampire Killer (o primeiro jogo da série, para o MSX) em se tratando de gráficos, sistema de fases e música. Não é surpresa, pois a base do jogo do NES foi justamente Vampire Killer. A estrutura de jogo, porém, é completamente diferente. Castlevania é um jogo de ação linear naquele clássico estilo de “ande para a direita, pule buracos e destrua os inimigos”, enquanto a versão do MSX tem toques de adventure.
Graficamente, como se trata de um jogo das primeiras gerações do NES, não espere nada de espetacular. O personagem é basicamente um frame marrom claro com contorno marrom escuro, mas os cenários de fundo são muito detalhados e sombrios. Preste especial atenção nos fundos das fases 7, 8 e 9, pois há muitos vitrais bem detalhados para a época.
E a música? É impossível jogar Castlevania e não se lembrar da clássica (que inclusive ganhou o nome do jogo do MSX) Vampire Killer, dos estágios 1, 2 e 3! O mínimo que posso dizer é que as músicas deste jogo são verdadeiros clássicos! Os cinco canais de som do NES não fazem milagres, mas não confundamos execução com composição. E o compositor fez um trabalho muito bom, pois as músicas dão a ambientação de ação perfeita para o jogo. Provavelmente a única música realmente irritante do jogo é a que toca durante a luta contra o Drácula, pois é bem curtinha e repete bastante, já que o nosso querido chefe final não é nada fácil. Já os efeitos sonoros, bom… Este é um dos primeiros jogos do NES a utilizar vozes, embora seja apenas um “ugh” quando Simon é atingido. De resto, o delicioso som do chicote atingindo o inimigo e do machado rodopiando no ar. Tudo que você pode esperar de um jogo de videogame de 8-bits, sem decepcionar.
Já que falei em dificuldade no começo desta resenha, devo avisar aos delfonautas – este é um dos Castlevanias mais difíceis já lançados! Qualquer um fica com as mãos suadas enfrentando o monstro de Frankenstein e a Morte (fases 12 e 15, respectivamente). Porém, como a inteligência artificial da época não era essas maravilhas, quando você perceber a forma de ataque dos inimigos verá que não é impossível vencê-los (apesar de parecer no começo). Prepare-se para um grande desafio ao começar esse jogo e acrescente uns pontos à dificuldade devido à falta de passwords no cartucho (saves eram privilégios de RPGs e adventures como Zelda e Dragon Quest). Desligou o videogame? Prepare-se para passar por tudo de novo. Bom, pelo menos a Konami foi suficientemente generosa para dar continues infinitos.
Os controles respondem muito bem, embora Simon tenha uma movimentação meio dura. Por exemplo, durante um pulo não é possível mudar de direção. Entretanto, os comandos saem sem atraso, e quando você já tiver se acostumado com as respostas do personagem, não terá a menor dificuldade em controlá-lo.
Agora a jogabilidade propriamente dita – você começa com um chicote de couro (alguém lembrou de Judas Priest aí?) e, conforme for progredindo, aumenta a sua força, transformando-o num chicote de corrente curto e, mais tarde, num longo. Você também pode encontrar armas secundárias como faca (longo alcance, mas fraca), o machado (ataca em arco), a água benta (é jogada bem próxima a você, mas se você sabe usá-la pode vencer facilmente os chefes do jogo), a cruz (age como um bumerangue – vai e volta) e o relógio (pára o tempo, mas só funciona contra os primeiros chefes). Para utilizá-las você precisa ter corações, que são conseguidos durante as fases nos diversos candelabros (que devem ser destruídos).
Castlevania é imperdível. Se os jogos da nova geração fossem tão divertidos quanto este, tudo estaria melhor (os novos jogos das Tartarugas Ninja que o digam). Mesmo depois de terminar, você vai querer jogar de novo, seja para ouvir as músicas, ou para ver se consegue vencer a Morte novamente ou se foi apenas sorte daquela vez. Se conseguir encontrar para comprar e tiver um NES, não pense duas vezes. Ah, sim: o jogo foi relançado recentemente pela Nintendo para o Game Boy Advance na série Classic NES Series (com o bônus de se poder salvar o progresso), e não é nada difícil encontrá-lo por aí!