Lembro que quando o Angra se separou, muita gente disse que isso poderia ser bom para os fãs, pois onde antes tínhamos uma banda boa, agora teríamos duas. No final das contas, ninguém mais da banda fez nada que realmente me apetecesse depois disso. De qualquer forma, essa afirmação pode ser verdade para o Savatage, já que sua “separação” rendeu três ótimos grupos, cada um carregando características distintas da mais bela banda de Metal que já existiu (musicalmente falando, é claro). Infelizmente, o que tornava os caras tão especiais era justamente a soma dessas características e, separadas, não formam um conjunto tão tremendão quanto o original.
Vejamos, no Trans-Siberian Orchestra, temos o lado mais fofo. Muitas baladas lindíssimas e completamente sentimentais tornam seus álbuns ideais para você ouvir naqueles momentos românticos.
Do lado completamente oposto, temos o Jon Oliva’s Pain, saciando a sede dos fãs pelo lado mais pesado, brutal, mais old-school mesmo e beirando o quase Thrash dos primeiros Sava-álbuns.
Por fim, no Circle II Circle temos aquele estilo que foi praticamente criado pelo Savatage durante os anos 90 (embora os primeiros flertes nessa linha tenham vindo no Gutter Ballet, de 1989), ou seja, Metal com piano bem forte, bonito, cheio de melodias e corais. Nem tão Pop quanto o TSO nem tão pesado quanto o JOP. Ou seja, o que temos aqui é o Savatage “médio”, se é que você entende.
E acredite, isso é bom. Não tem nenhuma outra banda que eu conheça que faça algo parecido com o que o Circle II Circle (e antes, o Savatage) faz. Só que a sensação que tenho durante toda a audição é a falta da variação que a matriz tinha. Burden of Truth é um belo disco, mas poderia se beneficiar de algumas músicas mais pesadas, já que deixa bastante a dever nesse aspecto. O lado mais Pop do TSO até que não faz tanta falta, já que temos várias baladas aqui.
Falando das músicas do CD propriamente ditas, tem duas que são realmente maravilhosas. Heal You, a primeira delas, tem aquele jeitão AOR do fenomenal Edge of Thorns. Na verdade, parece até saída desse disco, em especial no refrão. A outra, Burden of Truth, é uma música relativamente comum, mas tem aquele coral polifônico tradicional da matriz. Só que, bem no finalzinho, a música pára e fica apenas o coral, a capella. Lindo, delfonauta, muito lindo. Na verdade, eu diria que é o melhor de todos esses corais, batendo até mesmo a super-ultra-mega-tremendona-uma-das-melhores-músicas-da-história-do-Metal Chance.
Tirando essas duas, o resto do disco ainda é bom. O vocal de Zak Stevens continua belo como sempre e o instrumental é típico do Savatage, sem firulas, porém eficiente.
Não gosto de escrever uma resenha comparando uma banda a outra, mas nesse caso acho que não tem muito jeito. Burden of Truth é, sem exagero, uma versão simplificada e menos variada de álbuns como Dead Winter Dead e Wake of Magellan. Particularmente, entre a matriz e a filial, prefiro a matriz. Mas na falta dela, temos que nos contentar com as filiais, né? E eu concordo com o que disse o amigo Mauricio Dehó em sua resenha do Jon Oliva’s Pain: que volte o Savatage! Talvez a banda de Metal mais especial que já existiu.