É sempre chato quando uma série que você acompanha chega ao fim. Mesmo que você saiba que as possibilidades já se esgotaram, e que esticar demais acaba sendo pior, não dá para evitar uma certa tristeza. Mas o que é realmente frustrante é quando os índices de audiência, as críticas negativas, ou simplesmente a burocracia da indústria televisiva fazem com que sua série querida saia do ar antes do final. Chega a ser revoltante.
Um exemplo desse problema foi Heroes, que era muito amada, mas foi cancelada antes de ter tido uma conclusão digna e acabou numa grande decepção. Você deve se lembrar que lá atrás, quando nós ainda fazíamos notícias, já tinha gente sondando um possivel retorno para ela, e agora, no fim de fevereiro, a NBC confirmou que a série vai mesmo ganhar uma segunda chance, na forma de Heroes Reborn, uma minissérie que vai estrear ano que vem e deve ter ao menos algumas participações do elenco original.
Destino parecido com o de 24 Horas, que ficou uma eternidade enrolada com a produção de um filme, mas que no fim das contas vai voltar à Fox para 12 novos episódios. Um dos exemplos mais antigos provavelmente é o de Uma Família da Pesada, que foi cancelada em suas primeiras temporadas, ficou um tempo fora do ar e daí voltou e nunca mais foi embora.
Outro caso muito bem sucedido foi o da clássica Veronica Mars, que teve duas temporadas ótimas e uma terceira bem fraca, e então foi cancelada em 2007. Até que, no final do ano passado, Kristen Bell, a intérprete da Veronica, e Rob Thomas, o criador da série, fizeram uma campanha no Kickstarter para possibilitar a produção de um filme. A repercussão foi enorme, e em poucos dias o projeto arrecadou nada menos do que cinco milhões de dólares, mais que o dobro do que eles pediram. O filme foi bem recebido, e já se fala de uma sequência e de uma nova websérie.
Quem também criou esse hábito de resgatar séries queridas que por um motivo ou outro foram canceladas é o Netflix. Um dos primeiros conteúdos originais que eles lançaram no começo do ano passado foi uma nova temporada da excelente Arrested Development, que teve três temporadas na Fox antes de ser cancelada. E eles também salvaram The Killing da extinção. Duas vezes.
Tudo isso indica que esta é uma época propícia para o resgate destas séries que se foram cedo demais, frequentemente deixando cliffhangers e aquela sensação incômoda de caso mal-resolvido. Abaixo estão as cinco que eu mais gostaria de ver retornando.
MENÇÃO HONROSA: ALMOST HUMAN
Este foi o caso mais recente de série promissora que não teve tempo de atingir seu potencial. Produzida por J.J. Abrams, Almost Human é um Sci-Fi policial que estreou ano passado na Fox. Nela, Karl “Judge Dredd” Urban é Kennex, um detetive que, como manda a lei vigente em 2048, é obrigado a ter um parceiro andróide. E ele ganha Dorian, interpretado pelo ótimo Michael Ealy. Kennex é um sujeito rabugento que parece detestar humanos e andróides igualmente, então a convivência dos dois não é lá muito fácil.
Essa história de parceiros que não se dão bem mas passam a se respeitar e admirar mutuamente já foi feita em trilhões de filmes policiais, e o arco do robô que quer entender a humanidade também não é exatamente novo. Mas a série brinca com isso, colocando um personagem andróide que sabe lidar com emoções melhor do que seu parceiro humano. O relacionamento dos dois é impressionantemente cativante e rende diálogos excelentes. Além disso, o futuro que eles nos mostram aqui é muito interessante, e o roteiro levanta perguntas realmente intrigantes. Devo dizer que Almost Human foi uma forte concorrente a entrar no meu Top 5 de melhores temporadas de 2013.
E apesar de tudo isso, a Fox resolveu não encomendar uma segunda temporada. Os fãs já começaram as campanhas e petições para salvar a série, e eu apóio, porque realmente, Almost Human tem potencial demais para acabar na primeira temporada.
Mas você deve saber que essa não foi a primeira grande mancada televisiva dos executivos malvados da Fox, não é? Então continue comigo.
5 – THE IT CROWD
A TV estadunidense tem a incômoda mania de esticar e saturar suas séries até que acaba estragando (estou olhando para você, Dexter). Já os britânicos, além de ter temporadas bem curtinhas, ainda têm o costume de encerrar séries muito cedo, frequentemente deixando a sensação de que a premissa ainda tinha muita coisa boa a oferecer.
Um exemplo recente deste problema foi a excelente sitcom The IT Crowd: ela teve quatro temporadas de apenas seis episódios e foi cancelada. Quase dois anos depois, em setembro do ano passado, foi ao ar o episódio final, um especial de 40 minutos que concluiu a série. Embora um pouco apressada, foi uma despedida bastante digna, contendo grande parte das características que fizeram a série ser tão divertida (inclusive a infame frase “você já tentou desligar e ligar de novo?”).
Graham Linehan, o criador da série (que é responsável também por Father Ted), comentou que decidiu parar por aí porque “não estava mais tão empolgado quando era antes”, e que já estava atingindo um ponto em que “começa a parecer estranho que Roy, Jen e Moss ainda estão presos naquele porão”, e então “parecia o momento natural para terminar”.
É compreensível, e uma decisão sensata. Ainda assim, a série inteira teve só 28 episódios, pouco mais do que a gente tem em uma única temporada de Supernatural, por exemplo. E isso dói. Pelo menos uma quinta temporada propriamente dita a gente merecia, mesmo que viesse atrasada, afinal, este último episódio já provou que os fãs sabem esperar.
4 – SPACED
Muito antes de chegar às telas grandes e ser elevada aos pedestais da cultura nerd com a pérola Todo Mundo Quase Morto, a parceria entre o diretor Edgar Wright e seus amigos Simon Pegg e Nick Frost já rendia bons frutos na TV, com a sitcom Spaced.
Contando com o senso de humor e o nerd pride que os deixou famosos, a série é muito bem escrita e hilária. Ter os dois protagonistas como roteiristas deixa a atuação bem natural e genuína, e a direção de Wright também se faz muito presente e deixa tudo ainda mais cartunesco e nerd. É tipo uma versão noventista e britânica de Community, só que com momentos ainda mais absurdos:
A série ficou no ar por duas temporadas de sete episódios, e então foi encerrada. Como no item anterior, nem foi um cancelamento dramático, eles só resolveram não continuar mesmo. Mas era tão legal que, até hoje, toda vez que a turma se reúne para algum projeto, começa novamente a especulação sobre reviver Spaced. As declarações sempre são mistas. Às vezes eles dizem que não vai rolar, às vezes eles falam sobre fazer uma reunião tardia do tipo Antes do Pôr do Sol, e às vezes o Simon fica pregando pegadinhas só para torturar os fãs esperançosos. Eu estou com os que correriam em círculos se eles resolvessem retomar.
3 – JUSTIÇA JOVEM
Este foi realmente dolorido. Embora nos cinemas a DC tenha um caminho tortuoso, nos cartoons eles sempre foram os melhores. E Justiça Jovem foi o ápice. Fugiu totalmente do óbvio, trazendo os sidekicks que não têm tanta importância nos quadrinhos e os colocando sob o holofote, aprofundando e desenvolvendo todos com muita competência e nos fazendo ver os heróis principais com uma nova perspectiva. A equipe é diversificada, o roteiro não tem medo de pegar pesado quando necessário e o design e a animação são impecáveis. Uma tonelada de potencial.
Apesar da segunda temporada ter acabado com um belo cliffhanger e um monte de personagens novos introduzidos, parece que as vendas de brinquedos ficaram muito abaixo do esperado, e então, ano passado, o Cartoon Network resolveu cancelar ela e a nova série do Lanterna Verde, para colocar as novas Beware The Batman e Teen Titans Go!.
Eu adoro o Batman e sempre fui fã do primeiro cartoon dos Jovens Titãs, mas essas novas séries não chegam nem perto da qualidade de Justiça Jovem. Não é à toa que até hoje os fãs sentem a perda e continuam pedindo pelo retorno. Esses dias foi anunciado que o Netflix resgatou Star Wars: The Clone Wars, outra série animada muito querida que ia ficar sem lar. Bem que Justiça Jovem poderia ser a próxima, não é?
2 – PUSHING DAISIES
Só Hannibal já me converteu a fangirl do roteirista e produtor Bryan Fuller. E eu também já estava stalkeando o Lee Pace depois que ele fez o Thranduil em O Hobbit: A Desolação de Smaug. Sendo assim, ver Pushing Daisies, que foi criada pelo primeiro e estrelada pelo segundo, foi uma consequência natural. Mas eu realmente não imaginava que seria uma das melhores séries que eu já vi.
Ela conta a história de Ned, o piemaker (ou “fazedor de tortas”, se preferir), um rapaz que tem um talento muito peculiar: ele pode trazer pessoas de volta à vida com um toque. No entanto, um segundo toque e a pessoa revivida morre novamente, dessa vez para sempre. Se depois de um minuto ele não der o segundo toque, a pessoa fica viva, mas outra nos arredores morre, para restaurar o equilíbrio. Junto com o Detetive Emerson Cod, Ned usa seu dom para interrogar vítimas de assassinato e prender os criminosos. Até que Chuck, a namorada de infância de Ned, é assassinada. Ele a revive, mas consequentemente, nunca mais pode tocá-la.
A série foi descrita como “um conto de fadas forense”, e é basicamente isso. Usando a cinematografia hiper colorida característica de Bryan Fuller, com narração em verso e até uns momentos musicais, a série é a epítome da fofura, mas todos os personagens têm um quê de trágico, e as piadas são afiadas, pendendo para o humor negro. O elenco inteiro é excelente, e a série em si é puro charme. Ela teve duas temporadas, concorreu a vários Emmys e Golden Globes, e depois foi tragicamente cancelada, em parte por causa da greve de roteiristas que rolou em 2007 e 2008.
Eu não fui a única a assistí-la recentemente: há milhares de novos fãs ansiando por mais tempo com Ned, Chuck, Olive, Emerson e companhia, e ela voltou a ser assunto internet afora. Fuller diz que está disposto a reunir o elenco em algum novo projeto. Mas legal mesmo seria se ele desse uma de piemaker e trouxesse a própria série de volta à vida. Se precisar manter a regra e outra série tiver de “morrer”, a gente sacrifica um reality show qualquer. 😛
1 – FIREFLY
Mas nenhuma outra série deixou tantos fãs inconformados como Firefly. Quando se fala em cancelamentos precoces, esta é sempre a primeira a ser citada, e também sempre é trazida à tona em qualquer entrevista com o diretor Joss Whedon (de Os Vingadores), que criou a série lá em 2002, ou Nathan Fillion, que interpretava o protagonista. E não é à toa.
Uma mistura de Sci-Fi com Western, Firefly acompanha o Capitão Mal Reynolds e sua tripulação em suas viagens interplanetárias a bordo da Serenity, a nave da classe firefly que inspirou o nome da série. Depois de terem lutado no lado perdedor de uma guerra civil, eles agora vivem fugindo da Aliança, a fusão dos EUA e da China que governa o novo sistema solar. O elenco e os personagens são todos excelentes e cativantes; o roteiro faz um ótimo trabalho em equilibrar aventura, ação, comédia e a questão ética de um bando de foras-da-lei; e ainda tem a constante alternação entre referências da cultura estadunidense e da chinesa. É um grande misto entre antigo e futurista, e funciona muito bem.
A série teve míseros 14 episódios, dos quais só 11 foram transmitidos. E num horário desfavorável, às sextas-feiras, e para piorar, fora da ordem correta, porque os executivos malvados da Fox acharam que o primeiro episódio não seria um bom piloto. Obviamente, tudo isso fez com que a série tivesse índices medíocres de audiência, que não compensaram o custo de produzir uma série sci-fi, e aí veio o cancelamento. Realmente uma lástima. Se eles tivessem permitido, Firefly podia ter tido o mesmo destino do reboot de Doctor Who: acumulado cada vez mais fãs em cada vez mais lugares, e com maiores lucros, os visuais poderiam ter ficado cada vez mais sofisticados. Poderia ter sido um sucesso enorme e duradouro.
Tivemos o filme Serenity e algumas séries de quadrinhos na Dark Horse (que também deu continuação a Buffy, A Caça Vampiros, outra do Whedon), mas o que nós queríamos mesmo era ter novos episódios toda semana. Ver os membros do elenco original em outras séries como Chuck, Hannibal, Castle e afins ainda não é a mesma coisa, mesmo com as referências que o Nathan Fillion sempre dá um jeito de fazer em todos os seus trabalhos.
Ted Sarandos, executivo no Netflix, já disse em entrevista que não pensa em trazer Firefly de volta porque “os fãs ainda são os mesmos de quando estava na TV e agora eles são menos e ainda mais passionais”. O que está absolutamente errado, já que o número de fãs deve ter quadruplicado desde então. Talvez agora seja tarde demais, mas aposto que todo mundo ainda gritaria “SHUT UP AND TAKE MY MONEY” ao primeiro que topasse reviver aquele universo de alguma forma. A esperança, afinal, é a última que morre.
Você gostaria de ver o retorno dessas cinco? E se sente órfão por alguma outra série querida que foi extinta cedo demais? Conte-me nos comentários.