Cinco bandas que dão medinho

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Existem muitas teorias e debates sobre as razões por trás do estranho fascínio que nós temos pelo terror. É difícil explicar, mas há uma satisfação muito peculiar em poder experienciar massacres sanguinolentos, assombrações, monstros inimagináveis e todo tipo de insanidades horrendas no ambiente seguro de um filme, um livro ou um game do gênero. O medo é uma parte muito intrigante da natureza humana, e a ficção é um jeito saudável de explorar, entender e lidar com o lado negro que existe em todos nós.

A música também tem um grande poder quanto a isso. Os melhores e mais assustadores filmes de Terror têm as trilhas sonoras mais arrepiantes, daquelas que voltam à sua cabeça nos momentos mais inconvenientes, como quando você está sozinho no escuro e tem de voltar do banheiro para o seu quarto de madrugada. Musica transmite emoções, e como o medo é uma das emoções mais intensas, muitos grandes artistas têm nessa habilidade de assustar o seu ponto forte.

E por mais que outros gêneros tenham seus representantes, é no rock que as coisas ficam realmente medonhas. Seja por meio de letras, de estética, de performances de palco ou simplesmente de um comportamento maníaco natural, certas bandas nunca falham em instaurar o horror em nossos corações. Hoje, eu confesso para você as cinco bandas mais assustadoras de todos os tempos. Aquelas que mais me dão medinho. Aqueles que fazem as máscaras do Slipknot, a maquiagem de Marilyn Manson e os shows de Ghost B.C. parecerem até normais. Pegue sua fraldinha e confira.

MENÇÃO HONROSA: BLACK SABBATH

Você já deve saber da lenda de como o Black Sabbath ganhou seu nome, e se você pertence ao lado trüe da força, provavelmente conhece muito mais detalhes e momentos asssustadores da banda do que eu. Sendo assim, eu vou contar minha própria historinha.

Um dos melhores CDs que meu pai tem em sua pequena coleção é o The Ozzman Cometh. Apesar de ser uma coletânea da carreira solo do Ozzy, ele também tem alguns dos grandes sucessos do Sabão Preto, como War Pigs e Paranoid. Desde bem pequena, eu gostava quando ele ouvia este CD: ele tem as divertidonas Crazy Train e Bark at the Moon, e algumas ótimas baladas como Goodbye to Romance e Mama, I’m Coming Home, que eu sempre achei muito bonitas. Mas tinha um momento específico do CD que eu implorava para que ele pulasse, ou então fugia para a casa da minha tia só para não ouvir: Mr. Crowley. Não era nem a música em si, mas aquela introdução, com o órgão, que simplesmente me aterrorizava.

Mal sabia eu que havia uma faixa ainda pior naquele CD que eu só fui descobrir depois que cresci e fui ouví-lo por minha conta: a própria, a lendária Black Sabbath. Ao me deparar com uma música estranha logo no começo daquele disco tão familiar, percebi que mesmo meu pai sempre começava a ouvir pela faixa dois, de tão creepy que esta música é. O que só piorou quando eu passei a entender também a letra. Black Sabbath, principalmente na versão demo (trocadilho não intencional), onde a voz do Ozzy soa ainda mais transtornada, me arrepia até hoje.

5 – MISFITS

O Misfits foi outro susto. Uns bons anos atrás, quando eu tinha acabado de descobrir o punk e estava devorando tudo o que via do gênero, alguns álbuns do Misfits estavam entre os muitos que eu fui buscar na Argentina. Nas primeiras ouvidas, eles me pareceram especialmente simpáticos e, ouso dizer, até fofos. Eu tinha visto os penteados e as capas dos discos, que mais pareciam pôsteres de filmes B, mas assumi que fosse só mais uma dessas bandas divertidonas que usam esse tipo de estética para dizer “gente, olhem como eu sou malvadinho”. Já tinha acontecido quando eu conheci o The Cramps, então achei que fosse o caso outra vez.

Parece ridículo, mas ouça a clássica Last Caress. Parece só uma faixa Punk muito da digna, com um vocal gostoso de ouvir, um refrão grudento e uma influência de Rockabilly que cai muito bem. Até que, como aconteceu comigo na época, você preste atenção na letra. “Peraí, ele acabou de dizer ‘eu estuprei sua mãe hoje’? Que diabos eu estou ouvindo?”, você pensa.

E esta não é nem de longe a pior letra deles. Tem músicas sobre todo tipo de atrocidade: arrancar a cabeça de menininhas e colocá-las na parede, enfiar um machado na cabeça da sua amada, rola até zumbis estupradores do espaço! Mas tudo muito bem disfarçado em melodias e vocais bonitinhos:

Se fosse algo tipo Cannibal Corpse, que você pode facilmente ignorar a letra porque não dá para entender nada mesmo, ok. Mas com Misfits, além de entender as letras, dá uma enorme vontade de cantar junto, e acompanhar com palminhas ou estalando os dedos.

Nada mais creepy que zumbis psicopatas que parecem tão contentes enquanto descrevem cenas horrendas em detalhes. Mas as músicas são tão legais que eu acabei superando as letras sórdidas e abracei meu gosto pela banda. No último dia das bruxas, eu até usei a faixa Halloween numa atividade especial para meus alunos de inglês. Imagina como foi bonitinho um grupo de crianças de 11, 12 anos cantando em coro sobre gatos mortos pendurados em postes. *-*

4 – ALICE COOPER

Só de ler o título da lista você provavelmente já deduziu que Alice Cooper seria citado. Ele foi o pioneiro que inspirou e influenciou tantos outros artistas que dão medinho. Até mesmo aqueles que nos assustam por motivos completamente diferentes, como Jello Biafra e Johnny Rotten. Além de sua icônica maquiagem e figurino, os shows do tio Alice contam com números singelos envolvendo cadeiras elétricas, forcas, brinquedos estranhos, cobras, a famosa guilhotina e muito, muito sangue falso.

O objetivo sempre foi escandalizar mesmo. “Eu criei o Alice por necessidade. Olhei em volta no Rock and Roll, no fim dos anos 60, e senti que não havia um vilão. Não havia uma personificação do mal”, ele mesmo contou. “Onde está este cara que entra no palco e faz todo mundo dar um passo atrás? Foi para isso que o Alice surgiu”. Como naquela época a divulgação vinha principalmente dos comentários do próprio público, as histórias de suas performances horrendas rapidamente viraram lendas, e suas turnês chegaram a ser banidas algumas vezes.

Agora, todo mundo já sabe que isso é só teatro. Ele realmente teve um período dark, mas não teve a ver com o personagem, mas sim com o alcoolismo. Ele chegou a ir para a reabilitação, numa instituição que posteriormente inspirou o álbum From The Inside. Mas com a ajuda de sua esposa Sheryl – que ainda está com ele, depois de quase 30 anos – ele eventualmente superou este problema. No fim ele é um tiozinho super legal, que trata bem seus fãs, convida jornalistas para serem figurantes zumbis em seus shows e até hoje paga royalties para seus ex-colegas, por ter seguido usando o nome que era da banda em sua carreira solo. Ele inclusive é religioso, por incrível que pareça.

Mas mesmo que as coisas que ele faz não sejam mais tão chocantes para nós quanto eram nos anos 70, e que grande parte de sua obra seja tão comédia quanto terror, nada muda o fato de que seus álbuns conceituais contam histórias realmente creepy, e que algumas de suas músicas são genuinamente esquisitas, dessas que se evita ouvir depois do pôr do sol.

3 – ROB ZOMBIE

Um dos muitos fãs ilustres do item anterior, este é um verdadeiro especialista em coisas que dão medinho. Além de sua banda White Zombie e de sua prolífica carreira solo, onde ele escreve e canta sobre zumbis, bruxas, demônios, fantasmas, serial killers e outras bizarrices, ele ainda é diretor de respeitados filmes de Terror como Rejeitados Pelo Diabo e o remake de Halloween. A qualidade de seus filmes é discutível, mas é fato que ele é ótimo em criar cenas que parecem pesadelos ou números de freak show.

Mas assim como o tio Alice é na verdade um fofo, e que Marilyn Manson é um cara bastante inteligente, Rob também tem um lado menos medonho que é possível achar se você olhar mais de perto. No fim o zumbi roqueiro é só um fanboy apaixonado por filmes antigos de Terror. Ele também fez um dos trailers falsos de Grindhouse, escreveu uma HQ e fez pontas na dublagem de cartoons como Liga da Justiça Sem Limites. Ainda assim, ele parece uma versão turbinada e (ainda mais) from hell do Alan Moore, e convenhamos que isso soa bem assustador.

2 – MERCYFUL FATE

Convenhamos, Black Metal dá medo. Além dos motivos óbvios, como o corpse paint, os temas satânicos e/ou pagãos, as sombrias florestas norueguesas, os logotipos ininteligíveis e o hábito de queimar igrejas, ainda tem o fato de que essa cena é lar de muitos dos indivíduos mais insanos da música.

Varg Vikernes do Burzum, por exemplo, carinhosamente apelidado aqui no DELFOS como “assassino do Black Metal”, matou outro músico conhecido como Euronymous, do Mayhem, e não pareceu muito arrependido quando foi preso. E o próprio Euronymous, que por sua vez, já era famoso por ter usado uma foto do cadáver de seu vocalista, que cometeu suicídio, como capa de um álbum. É cada história mais tenebrosa que a anterior, parece coisa de filme de terror “baseado em fatos reais”.

Mas como essa lista trata de bandas que sabem aterrorizar, e não sobre maníacos que por acaso também tocam em bandas, resolvi ceder a medalha de prata para uma banda que, embora não seja Black Metal, também é de importância inestimável para essa vertente mais extrema do Metal: o Mercyful Fate. Graças a seu tremendíssimo vocalista King Diamond, o Mercyful Fate tem o pacote completo: as letras satânicas, as introduções assustadoras, o corpse paint e as caretas, as capas de álbum, tudo. E ainda um detalhe na qual o Rei Diamante é o grande mestre, e que também me dá medo: os falsetes.

E ainda mais assustadores são os discos solo do King Diamond. Todos eles são conceituais, e as histórias que eles contam são melhores e mais impressionantes que grande parte dos filmes de terror que eu já vi. Tem terror psicológico em The Graveyard, possessão e feitiçaria em Voodoo, e até algumas histórias reais em The Eye. Alguns, como o Abigail e o Them, tiveram até sequências. O cara é praticamente o Stephen King da música.

1 – TWISTED SISTER

Calma, não faça pipi na minha foto, delfonauta. O medo é uma coisa totalmente subjetiva, e em muitos casos, irracional. Antes que você começe a argumentar o quão tremendão é o Twisted Sister, eu já digo que eu sei e concordo. É só que clowns, man. They creep me out. Muita gente concorda que existe algo de muito errado e muito desconcertante nas feições exageradas e coloridas de um palhaço.

Muitas bandas, como o Mudvayne, o Slipknot, o Mushroomhead e o próprio Rob Zombie usam isso como artifício para criar medinho, intencionalmente. Não é o caso de Dee Snider, mas não dá para negar que ele se assemelha muito a estes terríveis monstros circenses. O fato de ele estar geralmente inserido em contextos cartunescos, e as expressões faciais que ele faz enquanto caracterizado, acabam colaborando ainda mais para essa semelhança.

Mas é fato, há muito mais no Twisted Sister além dos clipes estilo papa léguas e a maquiagem de evil drag queen from hell. Na sua coletânea de ideias sobre música, o Corrales já falou muito eloquentemente sobre a seriedade inesperada das letras da banda, e o frontman já se mostrou especialmente ácido em suas críticas.

Ele foi, por exemplo, um dos primeiros artistas a se manifestarem contra quando surgiu o infame caso do PMRC, em que uma comissão de esposas de senadores estadunidenses, liderada por Tipper Gore, resolveu alertar os pais sobre discos que contivessem violência, drogas, sexo e/ou “o oculto”. Este escândalo culminou na criação do selo Parental Advisory. A supracitada We’re Not Gonna Take It, inclusive, ficou na lista apelidada de Filthy Fifteen, as quinze faixas consideradas mais ofensivas pela tal comissão, junto com outras de gente como Judas Priest, AC/DC, Mötley Crüe, W.A.S.P. e o nosso segundo lugar, Mercyful Fate.

Dee, Frank Zappa e John Denver testemunharam nos tribunais contra esse nonsense, argumentando que isso constituía censura, que muitas das faixas citadas tinham sido mal-interpretadas e que tudo isso era contra-produtivo, já que o selo só atiçava a curiosidade dos jovens. E em seguida, uma enxurrada de outros artistas – do metal, do punk, do alternativo e até do rap – se manifestaram em apoio e lançaram músicas sobre o tema. Mais recentemente, rolou até um filme a respeito, chamado Warning: Parental Advisory, em que Snider atuou e reproduziu o mesmo discurso que fez no tribunal. Discurso esse que deixou os engomadinhos tão desconfortáveis quanto eu fico na presença de um palhaço.

Esses são os meus. Mas repito: o medo é completamente subjetivo, então passe nos comentários e me conte que outras bandas te fazem se encolher em posição fetal. Outras bandas satânicas de Black Metal? Outras melodias ainda mais creepy? Outras letras que reacendem traumas da sua infância? Algum disco com mensagens estranhas gravadas ao contrário? Divida conosco.

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