Carmageddon talvez seja uma das séries mais influentes da história dos games. O primeiro jogo foi lançado em 1997, meses antes do primeiro Grand Theft Auto chegar às lojas e causou uma polêmica absurda, chegando a ser totalmente proibido de ser lançado no Brasil.
O motivo para tanta polêmica é que foi o primeiro jogo (pelo menos o primeiro que eu conheci) a permitir que o jogador atropelasse e matasse transeuntes. Aliás, permitir não, ele incentivava, dando bônus e fazendo piadas para mortes criativas. E isso tudo era deveras engraçado para o espinhudo Corrales adolescente, que se matava de rir enquanto atropelava velhinhas e jogadores de futebol americano. Além disso, ele trazia um combate entre veículos que influenciou fortemente séries como Burnout. E para completar, ele trazia na trilha sonora músicas do Fear Factory.
Carmageddon II: Carpocalypse Now, em 1998, foi um dos jogos que mais joguei na vida. Ele melhorava tudo do jogo original, e ainda trazia na trilha sonora músicas legalzudas do Iron Maiden, como The Trooper e Man on the Edge.
Este teve seu lançamento permitido no Brasil, desde que os pedestres fossem modificados para zumbis. A Stainless Games fez a modificação, mas colocou no site oficial um patch que permitia reverter o jogo à sanguinolência original. Obviamente, todo mundo baixava o patch.
A série continuou em 2000, com Carmageddon TDR 2000, que não foi mais desenvolvido pela Stainless Games e era bastante inferior aos anteriores. Muito tempo depois, a Stainless recuperou os direitos da série e lançou Carmageddon Reincarnation em 2014, que saiu apenas para PCs, e agora chegamos a Max Damage que sai hoje para os consoles da geração atual.
MAX DAMAGE
Eu não joguei o Reincarnation, mas ao colocar Max Damage para rodar, ele foi instantaneamente familiar. Seu primeiro evento dá bastante liberdade ao jogador. Você pode vencer destruindo todos os carros oponentes, matando todos os pedestres (uma tarefa hercúlea, já que há centenas) ou simplesmente sendo o primeiro a vencer a corrida. Em cada evento, um dos seus oponentes tem um carro marcado, o que significa que se você destruí-lo, vai faturar o veículo.
Há outros tipos de eventos menos livres, mas todos com o twist de Carmageddon. Por exemplo, há corridas simples com voltas, mas se você não estiver a fim de velocidade, pode roubar as voltas que os outros completaram destruindo seus carros. Há também uma corrida por checkpoints, na qual os objetivos ficam aparecendo no mapa e você deve ser o primeiro a chegar a cada um deles. O primeiro carro que alcançar um número X de objetivos leva a taça.
Uma variação deste modo especialmente divertida é uma na qual, ao invés de checkpoints, os objetivos são pedestres específicos. Os carros lutam para serem os primeiros a matar o desgraçado (completo com o locutor falando “get that bastard”). É comum você ir seco, na direção do fulaninho, e do nada vem um outro carro de outra direção e pega o pedestre antes de você, em um momento totalmente “putz!”.
MOSTRANDO A IDADE
Apesar de ser bem fiel aos clássicos, não dá para negar que a fórmula de Carmageddon envelheceu mal. Quando ele surgiu, atropelar pedestres era uma novidade. Caramba, violência em games ainda era novidade. Hoje, qualquer genérico de GTA permite atropelar pedestres livremente. Sem falar jogos como Dead Rising 3, que enchem as ruas com zumbis e você consegue atropelar centenas deles em poucos segundos.
Além de não ser mais novidade atropelar gente, as ruas de Carmageddon: Max Damage são bastante vazias. Ao contrário de um GTA V, no qual você precisa se esforçar para não atropelar ninguém, aqui você precisa se esforçar para pegar alguém, pois há muito pouca gente na rua.
Lembro de no primeiro jogo você poder entrar em um estádio e atropelar uma galera lá dentro. Talvez eu esteja lembrando com óculos nostálgicos, ou fui estragado por jogos altamente populosos como Dead Rising 3, mas até mesmo o estádio em Max Damage parece um tanto vazio. O jogo dá combos para você atropelar várias pessoas em rápida sucessão, mas acredito que meu combo mais alto foi por volta de três pessoas. Muito pouco.
O combate entre carros igualmente envelheceu mal. Jogos como Burnout pegaram a fórmula e a aprimoraram. Em Burnout, com uma batida bem dada, você destrói o oponente. Em Carmageddon, é comum você ter que empurrar o pusilânime até uma parede, e ter que ficar dando ré e esmagando ele contra a parede repetidas vezes até o maldito finalmente dizer chega. A emoção e a adrenalina de Burnout dão lugar a tédio e repetição. É impossível estar tentando destruir um carro e não exclamar algo tipo “caramba, explode logo”.
Para completar, os gráficos são bastante datados, e a jogabilidade não é precisa o suficiente, o que é agravado pelos carros serem leves demais. É muito fácil capotar e cair de ponta cabeça. Um dos power ups, chamado “gravidade de Júpiter” ou algo assim, deixa seu carro mais pesado e mais próximo da realidade. Isso deveria ser o padrão, não um power up.
CARMAGEDOM
Ainda assim, o jogo é divertidinho. É aquele tipo de jogo que é melhor para jogar uma ou duas partidas rápidas de cada vez, e não ficar jogando por horas. Penso que uma estratégia à Rocket League, de distribui-lo gratuitamente para assinantes da Plus e da Live Gold, poderia dar muito certo. Vendendo, especialmente pelo preço que estão pedindo, vai acabar limitando os jogadores aos nostálgicos que jogaram os clássicos dos anos 90.
E é basicamente isso que temos aqui. É quase um relançamento de Carmageddon II, sem trazê-lo à época mais moderna. Outros jogos, como Dead Rising e Burnout acabam oferecendo experiências melhores e mais atualizadas para bastiões da jogabilidade de Carmageddon. Aqui simplesmente falta a adrenalina de Burnout no combate entre os carros, e as ruas recheadas de pedestres que vemos em tantos outros jogos da geração atual.