Cama de Gato

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Que atire a primeira pedra aquele que nunca se enrolou todo com uma mentira, uma desculpa esfarrapada ou até mesmo com algo que ninguém podia saber. Falo sério, vá por mim. Eu mesmo já fiz várias coisas que gostaria que ninguém ficasse sabendo, como chorar de raiva e frustração após uma briguinha imbecil com aquela namorada que sempre achei ser a mulher ideal. Ou ainda fazer verdadeiras loucuras, típicas de um adultescente descobrindo o mundo fora do seu quarto (sim, eu tenho 25 anos e me refiro à máxima “sexo, drogas e Rock And Roll”).

É mais ou menos isso que define a trama do nacional Cama de Gato, filme que marca a primeira investida no cinema do diretor de teatro Alexandre Stockler e que finalmente estréia nos cinemas, depois de quatro anos finalizado. Ele é um dos criadores do movimento T.R.A.U.M.A. 99 (Tentativa de Realizar Algo Urgente e Minimamente Audacioso, resposta brasileira ao manifesto Dogma 95, no mesmo esquema de produção independente).

O filme tem algumas peculiaridades. Se você observar o elenco, vai descobrir que está lá o global Caio Blat (como o protagonista Cris). Não sou nenhum fã do rapaz, até porque nessa época, em 2000, ele ainda não tinha toda essa fama que conseguiu com as novelas Um Anjo Caiu do Céu e Da Cor do Pecado, alguns filmes (como o ótimo Carandiru, dirigido por Hector Babenco) e inúmeras peças de teatro. Mas tenho que reconhecer que, dessa nova geração, ele se garante como um bom ator que, se bem dirigido, rende atuações convincentes. É o que acontece em Cama de Gato, um típico filme que junta três adolescentes de classe média alta, sedentos por sexo, adrenalina e muita diversão. O problema é que eles não se preocupam se, para satisfazer seus desejos, seja necessário matar, estuprar, zombar da cara dos outros e ainda ficar palpitando sobre possíveis teorias de como melhorar o país, numa clara alusão às atuais eleições municipais e seus planos de governo mirabolantes que raramente se cumprem.

Confesso que esperava mais desse filme, porque todos diziam que tinha cenas polêmicas, fortes demais para os mais puritanos e politicamente corretos (veja a seqüência de sexo no quarto de Cris e tire suas próprias conclusões) e que era bastante ousado e inovador. Já vi filmes piores, mas acho que faltou imprimir um ritmo mais intenso e um desenrolar mais claro dos personagens chave. Outra coisa me chamou a atenção: tanto no início, como no final, depoimentos de pessoas entrevistadas pelo diretor e elenco, que deram sua opinião sobre alguns temas citados no filme, como violência, sexo e leis que deveriam ser realmente cumpridas, e que, de certa forma, acrescentaram um certo charme ao filme que é, no geral, meio capenga.

Mas se você é fã de cinema nacional, principalmente dessa terceira grande fase (sim, terceira, porque as duas primeiras vieram sob o fardo de Carla Carmurati, em 94 – com o pioneiro da chamada retomada do cinema nacional, Carlota Joaquina – e com Walter Salles, em 98, com o seu pra lá de premiado Central do Brasil), vale uma conferida.