Call of Juarez: Gunslinger

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No final do século passado, quando jogos como Doom eram a última bolacha do pacote, e vários clones surgiam semanalmente, eu achava muito estranho que não existia nenhum com temática western. Daí em 1997, veio a Lucasarts e lançou o cult porém desconhecido Outlaws, que inclusive foi um dos primeiros jogos a sair no Brasil dublado em português (e, segundo a Wikipedia, foi o primeiro game a possibilitar que o jogador usasse um sniper).

Eu comprei na hora, mas mesmo assim, os faroestes continuaram muito raros nos games, especialmente nos FPSs, terreno no qual a franquia Call of Juarez reina praticamente sozinha. E mesmo ela abriu mão dessa temática em Call of Juarez: The Cartel, lançado em 2011. Call of Juarez: Gunslinger traz a série de volta ao seu terreno de origem. E mais do que isso, temos aqui um jogo simplesmente muito divertido.

A HISTÓRIA

Ao contrário de boa parte dos jogos de ação, Call of Juarez: Gunslinger tem seu principal charme na história. Aqui conhecemos Silas Greaves, um famoso e velho caçador de recompensas que é reconhecido em um bar. Os outros clientes chegam nele e falam que ele “deve ter um monte de histórias para contar”, e isso basta para que Silas comece a narrar toda sua vida, e como foi o encontro dele com famosos pistoleiros do Velho Oeste, como Billy The Kid, Butch Cassidy ou Jesse James. Você joga esses flashbacks.

E aí é que está o charme. Silas é um velho, e está bebendo. Isso faz com que suas historias fiquem progressivamente mais exageradas, justificando o bem-vindo climão de videogame do jogo. Só que o sujeito acaba exagerando tanto na história que seus ouvintes começam a questioná-las, e isso gera diálogos super engraçados que são refletidos no jogo. Por exemplo:

Silas: E aí eu fui atacado por dúzias de inimigos.
Dúzias de inimigos aparecem
Cliente: Fala sério! Dúzias?
Silas: Ok, talvez não dúzias.
Outro cliente: Uns três ou quatro, talvez?
Os inimigos somem e sobram apenas três ou quatro

Este é apenas um de muitos momentos assim, e cada um deles é capaz de arrancar sorrisos. Às vezes a narrativa de Silas até se adapta ao que você está fazendo. Por exemplo, em uma missão você tem que desarmas dinamites em uma ponte, mas eu resolvi atirar nelas só para ver se explodiam. Elas explodiam, e eu morri, conforme esperado. O que eu não esperava era que Silas falasse “exatamente! Se eu não tomasse cuidado, um tiro perdido poderia destruir tudo”.

Especialmente no final do jogo, quando Silas começa a ficar bastante bêbado, a coisa fica ainda mais divertida. Em determinado momento, um dos clientes pergunta algo para ele, e o caboclo simplesmente começa a cantar uma música sobre morte. Música muito legal, por sinal.

Tem até uma hora que Silas faz uma pausa para tirar água do joelho e o jogo para por um tempo, enquanto você ouve os outros clientes comentando sobre o exagero da história. Isso deixa jogar Gunslinger uma experiência única nos games, e acaba dando a ele um climão divertido semelhante à série How I Met Your Mother. Mas felizmente, o jogo em si também é muito legal.

O SONIC DOS FPS

Lembra quando surgiu o Sonic, para encarar o Mario de frente? Eram jogos semelhantes, mas o Sonic era mais rápido, mais focado na adrenalina do que na exploração. Esta é uma excelente analogia para a jogabilidade de Call of Juarez: Gunslinger, especialmente porque eu comecei a jogá-lo um dia depois de zerar o lento e cerebral Bioshock Infinite.

Este é um jogo que você vai basicamente correndo e distribuindo pipocos para qualquer um que popar na sua frente, enquanto a palavra headshot e um placar vai aparecendo na tela. É um jogo que te incentiva a matar rápido para aumentar seus pontos, possibilitando upgrades que, completando o ciclo, vão ajudá-lo a matar de forma ainda mais rápida e estilosa.

Existem apenas três tipos de armas: rifles, escopetas e alguns revólveres, e todos são bem divertidos. Meu único problema com isso é justamente que a escopeta é tão legal, e tão poderosa, que considero uma pena que a maior parte dos combates presentes no jogo seja à distância, o que torna a arma quase inútil na maior parte do tempo. E como você tem que escolher entre carregar a escopeta e o rifle, vai normalmente carregar o rifle, que serve para mais situações. E claro, em true western fashion, você poderá usar dois trezoitões ao mesmo tempo. O mais legal? Sempre depois de um combate, seu personagem faz alguma coisa com as armas, tipo um malabarismo estiloso ou soprar a fumacinha do cano.

Além do tiroteio em si, você ainda tem o tradicional bullet time (que, após alguns upgrades, acaba possibilitando headshots automáticos) e até a possibilidade de desviar de balas. Pois é, lembra que eu falei que a história de Silas fica cada vez mais exagerada?

CELEBRIDADES DO VELHO OESTE

Cada fase narra o encontro de Silas com uma das celebridades do velho oeste, e na tradição Kratos, ele acaba exterminando quase todo mundo, para desespero dos outros clientes, que começam a questionar, falando coisas como “mas não foi assim que Jesse James morreu”, ao que o narrador imediatamente adapta a história para algo que seja historicamente correto.

Isso significa que cada fase termina com o seu encontro com uma dessas celebridades. Alguns desses encontros são chefes tradicionais. Ou seja, um inimigo com energia inflada, e que vai exigir muitos furos até cair. A maior parte, no entanto, será um minigame de duelo, que é bem tenso, mas não tão interessante de jogar. Como são bem curtos, no entanto, não chegam a estragar ou mesmo a ficar realmente chado. Algumas vezes, inclusive, você fará um duelo contra dois pistoleiros, e rola até um impasse mexicano no final do jogo.

OUTRAS FORMAS DE JOGO

O modo história tem 14 fases, e tem uma duração bastante respeitosa, especialmente considerando que este é um jogo baixável de 15 dólares. Depois disso, você ainda pode brincar um pouco em um modo que é apenas uma sequência de duelos, e ainda tem o modo arcade.

O arcade é uma sequência de 10 fases curtas (normalmente abaixo de cinco minutos) onde apenas o que interessa são os pontos e o tempo. Aqui você vai ficar jogando a mesma fase repetidas vezes na tentativa de bater seu placar e o dos seus amigos. Particularmente, não sou um grande fã de jogar por pontos, então não vi muita graça, mas se você é daqueles que gasta horas em jogos como Tetris ou Angry Birds, é bem provável que se divirta bastante por aí. Para mim o prato principal é mesmo o divertidíssimo modo história.

Como é praxe nos games de hoje, o modo história também é permeado por uma pá de colecionáveis, que trazem informações históricas do velho oeste, algumas vezes até com fotos dos pistoleiros que você encontra no jogo. Tem alguns bem legais, mas dada a adrenalina que permeia a jogabilidade, ficar procurando por trequinhos no cenário parece realmente fora de lugar por aqui.

BANGUE, BANGUE!

Por tudo isso, Call of Juarez: Gunslinger se tornou a melhor experiência western que eu já tive em um videogame. Pois é, eu gostei mais dele do que de Red Dead Redemption, mas admito que isso se deve bem mais ao gênero e à narrativa estarem mais dentro do que me apetece por aqui.

O que temos aqui é aquele tipo de diversão descompromissada, semelhante neste aspecto ao primeiro Uncharted, antes da série querer virar filme.

É puro gameplay, e um gameplay muito divertido, permeado por um clima descompromissado e uma narração excelente que dá ao jogo muito de seu charme. Vale 15 dólares? Vale bem mais, mas felizmente você pode comprá-lo por quinzão!

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
call-of-juarez-gunslingerAno: 2013<br> Gênero: FPS<br> Preco: US$ 15,00<br> Plataforma: Xbox 360, PS3 e PC<br> Fabricante: Techland<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>