O trailer do novo Caça-Fantasmas foi uma das coisas mais detonadas na internet em tempos recentes por nerds em polvorosa. Seja pela má qualidade da peça de marketing, seja pura misoginia pelo fato de que substituíram os marmanjos do filme original por uma equipe totalmente feminina, a questão é que fazia tempo que algum produto pop não atraía tanto ódio.
Eu também não gostei do trailer porque achei que tudo que ele mostrava passava uma ideia de mais uma refilmagem pasteurizada e pouco inspirada, com o intuito de arrancar uns trocados do pessoal saudoso que late enfurecido pelas redes sociais, mas verá o longa mesmo assim. E não é que, ainda bem, o trailer realmente mandou mal e não passa o que é o filme?
Eu não dava nada por este Caça-Fantasmas, mas ele acabou surpreendendo positivamente. No fim das contas, ele é bem legal. Vai ganhar um destaque no coração de milhões de nerds como acontece com o original, lembrado até hoje com carinho? Provavelmente não, ainda que mais provavelmente por culpa desse excesso de opções e informação do mundo moderno que talvez impeça ou dificulte a molecada de hoje de formar laços afetivos mais duradouros com produtos da cultura pop.
Mas isso é outro papo para outra ocasião. Por enquanto, vale dizer que embora não deva ficar marcado na memória, ele também cumpre bem seu papel de divertir o público apreciador do cinemão pipoca por cerca de duas horas.
IF THERE’S SOMETHING STRANGE IN YOUR NEIGHBORHOOD
A nova produção é um remake completo e desconsidera totalmente os dois filmes anteriores, algo que os próprios trailers dele deixavam confuso ao mencionar abertamente as produções oitentistas. Então não, não há qualquer relação direta entre o novo e os velhos.
No entanto, a história espelha quase tintim por tintim a estrutura de roteiro do original. Um trio de cientistas desacreditadas por seus pares consegue testemunhar aparições fantasmagóricas e tentam provar ao mundo sua existência, desenvolvendo equipamentos para capturar os fantasmas. Em determinado momento, elas ganham uma quarta integrante e depois terão de enfrentar uma ameaça maior, que periga destruir toda a cidade.
No quesito originalidade, ele realmente não é lá aquelas coisas, mas ao fazer o simples, praticamente recontar a história que já conhecemos, acerta muito mais do que erra, principalmente no que importa, as piadas. O filme todo é muito engraçado, com montes de situações cômicas. Algumas não funcionam, mas a maioria consegue arrancar boas risadas.
As quatro protagonistas estão muito bem, até mesmo a Melissa “eu não gosto dessa gordinha” McCarthy, do qual o delfonauta já deve ter percebido que eu não sou muito fã. Mas a melhor é mesmo a Holtzmann (Kate McKinnon, que eu não conhecia, mas veio do Saturday Night Live), uma espécie de versão feminina do Egon, visto que é ela quem constrói todos os equipamentos e até seu cabelo lembra o da versão animada do personagem, porém com uma pegada muito mais zoeira.
Outra grande surpresa do filme, veja só, é o Chris Hemsworth como o secretário com vários parafusos a menos do grupo. Quase todas as vezes que ele aparece, ele rouba a cena. Não é de hoje que dizemos aqui no DELFOS que o Thor é mesmo um fanfarrão.
I AIN’T AFRAID OF NO GHOST
E embora eu tenha dito vários parágrafos acima que esta produção não tem relação com o original, isto não quer dizer que ele não possa prestar suas devidas homenagens. Então fique de olhos abertos para um monte de referências e, sobretudo, participações especiais que recheiam o filme. Algumas são quase easter eggs, outras são mais polpudas. A maioria delas conta como um destaque positivo a mais.
Bem como a sacada de responder à altura aos detratores que desceram o cacete na produção pelas internets durante todos os estágios de produção. Foi outra boa sacada incorporar as críticas e fazer piadas com isso.
No entanto, o filme tem lá seus pontos onde deixa a desejar. O vilão é bem fraquinho, sem contar que seu plano de usar fantasmas para tocar o terror é algo estranhamente específico e nem um pouco prático considerando-se sua motivação para fazer o que faz.
Eu, particularmente, também não gostei do terceiro ato, sobretudo a grande batalha final, que é onde o filme mais se aproxima daquela ideia de “remake para uma nova geração que precisa de estímulos sensoriais mais potentes”. É tudo muito exagerado, excessivamente colorido, barulhento, acelerado, regado à nova versão da canção tema, meio rock, meio hip hop (outro pecado, a original ainda é insuperável) para prender a atenção de uma garotada de capacidade de concentração cada vez mais dispersa. Falta classe e charme. Sobra CGI e uma correria vazia.
Ainda assim, o saldo final é mais do que positivo, considerando-se que muita gente acreditava que esta seria uma das bombas do ano. Está bem longe disso, na verdade, e eu assistiria a uma continuação dessas Caça-Fantasmas numa boa. Tem potencial para reviver a franquia e espaço para melhorar muitas coisas. Acima de tudo, mostra que o espírito dos antigos Caça-Fantasmas está vivo e bem dentro dessa nova equipe. Então deixe suas restrições de lado e pegue uma sessão, ou periga um fantasma puxar seu pé à noite!
CURIOSIDADE:
– Não há como resistir. É impossível escrever uma resenha sobre Caça-Fantasmas, inclusive falando sobre a dita cuja, e não incluí-la. Então, delfonauta, fique com Ray Parker Jr. e uma das melhores músicas-tema do cinema. Ghostbusters!