Sabe, delfonauta, tem coisas que me deixam sinceramente chateado. Lembro quando eu comprei meu PS4, esperando gráficos sensacionais e alta tecnologia e constatei que a imensa maioria dos jogos eram coisas retrô que rodariam tranquilamente em um Mega Drive. Não estou julgando os jogos em si, muitos deles são bem divertidos, mas o fato é que não precisava ter trocado o PS3 por um PS4 para jogar este tipo de coisa. Acaba sendo mais uma necessidade mercadológica. Para jogar os lançamentos mais recentes, você precisa de um videogame de última geração, mesmo que os jogos em si não se aproveitem da tecnologia.
Com essa introdução, chego ao ponto de dizer que joguei Butcher em um PS4 Pro, mas é fato que ele já seria um jogo feio no Nintendinho. Ao contrário de coisas como Shovel Knight, que emulam o visual de grandes jogos dos 8-bit, Butcher parece os jogos ruins da época. Não dá para negar. Ele é feio. Muito feio.
Os controles também incomodam. Você atira com o R2 e pula com o L2. Pois é, L2, e não o X. Eles fizeram isso para garantir que seus dedos estejam sempre nas duas alavancas, mas demora um bocado para se acostumar. O X é usado para apertar botões, enquanto o bola faz algo que imagino que seja um chute (você precisa de um tanto de fé simplesmente para ver um ser humano nos pixels que representam o protagonista). O triângulo troca as armas em sequência.
Com tanto botão inativo, é bizarro que não tenham colocado esta função de trocar as armas no L1/R1, o que possibilitaria alternar de forma crescente e decrescente, e melhoraria bastante a jogabilidade. Também seria ótimo se a motosserra tivesse um botão dedicado. É terrível alternar desesperadamente entre as armas procurando o lança-foguetes e acabar selecionando a serra sem querer.
Pois é, com o visual tão feio e controles mal pensados, a primeira impressão de Butcher é péssima. Contudo, este é um caso que prova que nem sempre a primeira impressão é a que fica. A verdade é que Butcher é muito divertido, e deveras merecedor do seu tempo e dinheiro.
Ele é divulgado como sendo uma homenagem a Doom, mas embora sem dúvida haja uma inspiração nos cenários e nas armas disponíveis, a sensação de jogar é bem diferente. Sabe qual jogo ficou na minha cabeça durante toda minha campanha? Talvez você não o conheça, mas foi o True Lies de Mega Drive.
Embora o True Lies tenha um visual mais elaborado, a violência exagerada e o som forte das armas dão uma sensação de jogar bem parecida. Se você não estava vivo na época do Mega Drive e nunca jogou o dito-cujo, talvez uma boa comparação mais recente seja Hotline Miami, que também tem um visual retrô, ultra-violência e uma dificuldade altíssima.
Sim, Butcher tem um visual composto basicamente de pixels, mas isso acaba potencializando a violência. Coisas que poderiam ser nojentas ou impressionantes em um visual mais realista, aqui ficam apenas engraçadas. Por exemplo, você pode matar um sujeito e ele se desfazer em tripas, que ficam penduradas pelo cenário.
Cada arma afeta os desafetos de uma forma diferente. A rail gun, por exemplo, consegue desintegrar dezenas de inimigos com um único tiro, e tem até um troféu para quem conseguir tamanha proeza. A escopeta, por outro lado, espalha sangue por todo o cenário. Aliás, se algo realmente foi puxado de Doom por aqui é quão satisfatório é atirar com esta escopeta.
Duas das armas são para uso geral. Uma delas, claro, é a escopeta, e a outra é a metralhadora. Como você deve imaginar, a escopeta mata com um único tiro a curta distância, enquanto a metralhadora precisa de alguns poucos tiros, mas é mais eficiente quando os inimigos estiverem mais longe.
As outras armas são utilizadas para os inimigos mais fortes, aqueles que têm até uma barrinha de energia. São elas o popular lança-chamas, o lança-foguetes e a supracitada rail gun. Aliás, o jogo não ensina isso, mas se você segurar um pouquinho o botão de tiro, a rail gun solta um ataque mais forte que mata mesmo os bichinhos que têm energia com um tiro só. Sem falar que o som deste tiro, combinado ao de carne se desfazendo, é bastante satisfatório.
FRASES CURTAS, CHECKPOINTS LONGOS
Esta é uma peculiaridade curiosa de Butcher. As fases são bem curtinhas, podendo ser terminadas em poucos minutos. No entanto, não há checkpoints no meio das fases. Ou seja, um movimento mal planejado pode te fazer voltar até dez minutos, e é daí que vem o lado mais frustrante de Butcher. Demorei mais de meia hora para passar de algumas das últimas missões, mesmo elas sendo curtinhas, de tanto que eu tive que repetir.
Se seus inimigos morrem fácil, a recíproca também é verdadeira. Você pode estar com seu life cheio, se sentindo o pintudão, mas um tiro bem dado pode tirar 80% da energia, isso se não te matar de uma vez. Isso significa que você deve estar sempre em movimento, mas cuidado com as armadilhas do cenário, essas sim te matam de uma vez.
Se o visual não é interessante, o level design é muito legal, mesclando áreas de plataforma com ação mais pura em um excelente timing. Você passa a maior parte do tempo atirando, mas há um bocadinho de exploração e de pulo entre plataformas. Tem até uns momentos em que você está num elevador e deve ir desviando dos perigos que estão no caminho.
Minha única picuinha com o level design é o que o jogo chama de “Extermination”. São horas que as paredes se fecham e você é obrigado a matar todos os inimigos que aparecerem para poder progredir. Isso por si só não é um problema, mas se torna um pois acontece com muita frequência, algumas vezes três ou quatro vezes por fase. Há algumas fases, inclusive, que são apenas isso.
O fato é que não é interessante ficar preso em uma sala matando inimigos. O legal é estar sempre avançando. E alguns desses momentos de extermination duram muito tempo. Você mata centenas de inimigos e o negócio parece não acabar nunca.
A tagline de Butcher é que a dificuldade mais baixa é o hard, mas há também uma dificuldade casual. Eu joguei na hard, que seria o normal, e especialmente no último capítulo as coisas ficaram bem difíceis. Cheguei até a pensar em desistir, mas insisti e consegui terminar. Este é um jogo que realmente fornece altos bragging rights para aqueles que o terminarem.
Há bastante diversão aqui, mas para chegar a ela, você precisa ignorar o visual e os controles. Se não quiser jogar no casual, também precisará de bastante paciência nas últimas fases. Apesar destes predicados negativos, no entanto, eu me diverti bastante nas quatro horas que levei para zerá-lo. Se a perspectiva de um jogo de tiro 2D hardcore lhe apetece, vale muito a pena. E, considerando como tem gente que gosta de Contra, eu diria que esta é uma descrição que agrada bastante gente.