O baixinho arretado Bruce Dickinson teria, pelo menos na teoria, uma agenda lotada. Voz da principal banda de Heavy Metal do planeta (gostem os mais extremos ou não), ele goza do prestígio histórico do Iron Maiden enquanto pilar do gênero – ao lado do Judas Priest, é claro – e que, para completar, continua em plena atividade, fazendo bem-sucedidas turnês pelo mundo e lançando discos altamente elogiados pela crítica e pelo público, provando que o grupo não ficou parado no tempo (vide o excelente Dance of Death). Já seria trabalho suficiente para este tal de Bruce Dickinson, não é? É nada.
O cara ainda encontra tempo para ser piloto profissional de avião e, nos intervalos, cuidar de sua carreira solo. Sim, sim, sim. O Maiden voltou a toda. Mas o nosso simpático frontman não deixou seus projetos de lado – aqueles mesmos, que renderam álbuns memoráveis na década de 90, como Balls to Picasso (que tem o hit Tears of the Dragon), Accident of Birth (já com o guitarrista Adrian Smith) e The Chemical Wedding. Tudo bem, ele tambéz fez o criticado Skunkworks, muito mais calcado no Grunge e que foi seguido de uma série de declarações do próprio Bruce falando sobre a morte do Heavy Metal. Mas foi… digamos… um momento de insanidade no meio de uma carreira sólida dedicada ao Metal. A gente perdoa você, Bruce. Alguém mande um disco do Manowar para ele.
Depois de Dance of Death, o último disco do Iron, Bruce decidiu se reunir novamente com seu parceiro habitual, o produtor e guitarrista Roy-Z, para fazer surgir seu novo disco-solo. Quem não gostou nada da “brincadeira” foi Steve Harris, baixista e “dono” do Iron Maiden. Ele alegava que a dedicação de Dickinson a este projeto poderia atrapalhar a turnê promocional do DVD The Early Years e coisa e tal. Mas o baixinho foi teimoso. Bateu o pé. Encarou o mal-humorado Harris e, em meio à tremenda expectativa dos fãs, somos apresentados ao ótimo Tyranny of Souls.
Neste sexto disco solo, Bruce continua explorando seus temas favoritos, já apresentados em The Chemical Weeding: alquimia, teologia, o inferno de Dante. E, como de costume, as letras se aprofundam no assunto e tornam-se um dos muitos pontos altos do álbum – que, para desapontamento dos detratores de Bruce, não é uma mera fotocópia do Iron Maiden. Ok, é verdade que algumas faixas nos remetem ao sexteto britânico. Mas é impossível não fazer esta identificação com a voz de Bruce, uma das mais características do atual universo metálico. No entanto, Tyranny of Souls é menos Metal Tradicional e muito mais Power Metal: mais rápido, mais intenso, com riffs mais acelerados. E aqueles refrões deliciosos, de sair repetindo por aí. Eu mesmo continuo cantando trechos de River of No Return e Soul Intruders quando menos espero. E é muito difícil não entrar no clima da balada semi-acústica Navigate The Seas of The Sun. E termina com a incrível e poderosa faixa-título. Uma porrada. Não deu nem pra sentir falta da parceria com Smith.
Em resumo: um álbum perfeito. Moderno, instigante, criativo. Vida longa ao Iron Maiden – mas, por favor, que o Bruce nunca deixe sua carreira-solo de lado. E ainda bem que o Steve Harris não sabe ler português. Clique aqui e compre.
Texto publicado originalmente na coluna Webbanger (www.webbanger.cjb.net)