Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

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Parece que o Jim Carrey realmente abandonou de vez as divertidíssimas comédias protagonizadas por ele durante os anos 90, das quais O Máskara e Debi & Lóide são sempre as mais lembradas. Claro que a opção é dele, e muita gente diz que ele é um ótimo ator sério e que preferem ele fazendo esse estilo do que o careteiro mostrado em seus primeiros filmes. Eu, como sempre do contra, ando sentindo muita falta de boas comédias no cinema. Na verdade, não me lembro da última vez em que dei uma daquelas gostosas gargalhadas durante uma projeção. Enfim, o assunto aqui não é a carreira de Carrey, mas o mais novo filme por ele protagonizado: Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança.

O ponto de partida é bem legal. Existe uma empresa chamada Lacuna que é especializada em apagar memórias. Ao ser completamente ignorado por Clementine, a mulher que ama (Kate Winslet, é a primeira vez que eu a vejo no cinema desde Titanic) e com a qual teve um relacionamento, Joel Barrish (Jim Carrey) entra em depressão, até ser avisado por amigos da existência da tal Lacuna e que Clementine havia deletado ele de sua memória. E lá vai Joel se vingar da mina e contratar a tal empresa para apagar ela também.

O resultado é um filme estranho. E isso não significa ruim. Para começar a estranheza, os “créditos iniciais” só vão aparecer lá pela meia hora de filme. A narrativa não é linear e mistura a ordem normal com a ordem inversa (tipo Amnésia), sendo a normal a história do filme e a ordem inversa as cenas que se passam dentro da cabeça de Joel, pois vamos assistindo a elas conforme vão sendo apagadas, ou seja, da mais recente para a mais antiga. Acontece que, durante o processo, ao reviver os bons momentos, Joel se arrepende e começa a arquitetar planos infalíveis para impedir a empresa de apagar a garota de sua memória.

Outra curiosidade que percebi é que, pela primeira vez desde que comecei a reparar nessas coisas, o roteirista (Charlie Kaufman, de Quero Ser John Malkovich) é mais famoso que o diretor (Michel Gondry, de A Natureza Quase Humana, mas cujos trabalhos mais famosos são alguns clipes da Björk). Eu sempre defendi que, na verdade, os roteiristas são mais importantes, já que você (assumindo que você é uma pessoa comum, não um cinéfilo) vai para o cinema para ser entretido por uma boa história, não por planos e técnicas de filmagem. Isso pode significar que Hollywood finalmente vai dar mais importância à história do que a uma grife de diretor, como fez em A Vila (eca, blergh, ptu, igh!). Claro que todo mundo fica contra mim nesse aspecto, mas eu já estou acostumado. Acontece com quem quebra padrões há muito estabelecidos e esse é um dos principais motivos da existência do DELFOS.

Mais uma boa notícia em Brilho Eterno blá blá blá é que, pela primeira vez em muito tempo, e eu realmente quero dizer muito tempo, acredito que desde Sexto Sentido, o final de um filme me surpreendeu. Ok, não é tão surpreendente quanto o filme do garotinho que via pessoas mortas, mas eu realmente não esperava ser surpreendido por um filme, de certa forma, romântico. Durante a exibição, inclusive, fiquei pensando “Esse filme não faz sentido, tem um furo cabuloso no roteiro! Malditos filmes não comerciais que não fazem sentido!”, mas tudo é devidamente explicado no final, então, se você é como eu e gosta mesmo de um bom pipocão, apenas preste atenção em todas as cenas que tudo vai fazer sentido sem grande esforço.

Uma falha do filme é sua duração. Não é um filme loooongo, tem apenas 108 minutos, mas as cenas que se passam dentro da cabeça de Joel, parecem ficar repetitivas depois de um certo tempo, pois são basicamente aquelas coisas que namorados sempre fazem. Creio que o filme ganharia se limasse algumas destas cenas e concluísse antes sua (boa) história.

Também gostaria de falar de um certo desrespeito ao manual dos roteiristas (que na verdade, não existe, mas é uma lenda mais ou menos como o livro Necronomicon) que diz o seguinte: “Se for escrever sobre algo que não existe, escreva no futuro”. Puxa, nem precisava ser num futuro tão distante, que necessitasse de cenários elaborados e tal, mas é difícil engolir que tal empresa existisse na época atual. Outra falha é uma certa falta de visão na empresa Lacuna, pois parece que o único benefício visto pela mesma no emprego de sua tecnologia é esquecer um coração partido. Ora, eu tenho muitas memórias das quais eu gostaria de me livrar (nenhuma delas relacionada a decepções amorosas) e estaria disposto a pagar para isso. Você não?

Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança é muito bom. Eu que gosto de um bom pipocão e não vou muito com a cara de dramas, achei que não iria gostar e mesmo assim me diverti bastante. Não sei se isso é um bom sinal para quem gosta de dramas e filmes não comerciais, mas é minha opinião. E isso é tudo que posso fazer por você.

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