Blacktail chega hoje para Windows, PS5 e Xbox Series, e era um game muito esperado por mim. Sua premissa é contar a história de origem do mito eslávico Baba Yaga, nome que você já viu em muitos lugares da cultura pop, de games a John Wick, passando por quadrinhos e Dungeons & Dragons. E eu achei essa temática de bruxaria muito interessante, motivo pelo qual estava ansioso pelo jogo.
No entanto, embora Blacktail tenha, sim, muitas qualidades, ele não é jogável até o fim, ou pelo menos não era no período de review. Este é um jogo muito quebrado, com bugs que impedem o progresso acontecendo a cada hora. Algumas vezes, dá para resolver saindo do jogo e recarregando. Outras, o bug fica no seu save para sempre. E foi o que aconteceu comigo. Vou elaborar todos estes problemas neste texto, mas antes vou falar um pouco sobre o jogo. Ou pelo menos sobre o que vi dele.
BLACKTAIL GRITA DE LONGE
Blacktail lembra muito Far Cry. Mas na época que Far Cry era bom, sabe? Trata-se de um game de ação em mundo aberto, com combate focado em arqueria. O mundo é bem paradisíaco, cheio de plantas, lagos e cores vivas.
Talvez minha maior surpresa foi o tom da narrativa. Os anúncios do game falavam que o mundo era dark, trevoso e afins. E está muito longe disso. O que temos aqui é uma história de fantasia que inclusive pode agradar às crianças. Durante sua aventura, você fala com cogumelos conscientes, encontra uma formiga que quer dominar o mundo e fica amigo de um inseto chamado Senhor Larva. Tem bastante humor e a própria protagonista, Yaga, a julgar pela voz, é uma menininha.
E essas coisas são legais também, o que faz parecer errado tentar vender Blacktail como um game trevoso. Ora, eu diria que seu tom kid friendly parece deixá-lo mais comercial, não menos.
BLACKTAIL GRITA DE PERTO
O que o aproxima mais do terceiro Far Cry 3 do que do sexto é seu tamanho. Pelo menos até onde joguei, Blacktail não tem um milhão de missões e customizações. Há uma skill tree e há crafting, é claro. Todo jogo tem crafting hoje em dia. Mas a campanha principal, cujas missões são sempre chamadas de Blacktail, acontece linearmente. Temos missões secundárias, mas até onde joguei, poucas apareceram. Além disso, fui incapaz de fazê-las até onde cheguei, pois em algum momento, elas exigiam habilidades que não tinha destravado aindaest. Assim, pude apenas concluir algumas missões de história.
Parece bem aquele tipo de jogo em que você deve fazer a história para destravar todas as habilidades, e depois voltar para o conteúdo secundário. Uma coisa meio Batman Arkham, embora aqui seja de fato um mundo aberto, não metroidvania.
ARQUERIA
O combate envolve fazer crafting de alguns tipos de flechas com efeitos diferentes e atirar em inimigos surpreendentemente resistentes. Particularmente, eu não gosto de combate com arco. Acho chato ter que segurar o botão por alguns segundos antes de poder atirar, e isso é necessário aqui, dada a vida dos inimigos. Atirar sem carregar torna cada tiro uma picada de mosquito.
Você tem também uma vassoura, que atrai os inimigos e, dependendo do seu alinhamento moral, pode te curar, o que a torna vital. Inclusive, este é meu principal problema com Blacktail quando ele está funcionando. É um jogo muito difícil, mesmo no modo história (aliás, eu não vi diferença nenhuma quando mudei a dificuldade, o que me faz pensar que isso pode estar quebrado também).
Pior que isso, no entanto, são seus salvamentos inconstantes. Você pode salvar manualmente gastando uma flor – e pagar para salvar nunca é uma boa ideia. Mas o game também salva automaticamente de vez em quando. Ênfase no de vez em quando. Em um caso, restaurei o save mais recente depois de um chefe e ele me colocou em um checkpoint de uma sidemission que tive que parar no meio por não ter destravado a habilidade necessária para concluir. Precisei não apenas sair da área da missão secundária, como fazer toda a missão de história do início, pois ela não salvou nenhuma vez ao longo do seu caminho.
Para deixar mais grave, tudo que você coleta depois do save, personagens com os quais conversa ou missões que cumpre são resetados. Você volta, literalmente, para o ponto que estava no salvamento. O que, em um jogo com tamanho foco em coleta de recursos, deixa ainda mais repetitivo fazer tudo pela segunda vez. Ou terceira. Ou quarta.
BLACKTAIL NÃO ESTÁ PRONTO
O que me coloca no filezão deste artigo: os problemas técnicos. Sabe o chefe que citei acima, que me fez perder uma hora de progresso quando morri? Então… Na verdade eu não morri.
Ao vencer o chefe, apareceu o objetivo que eu deveria falar com ele. Porém, não havia prompt de interação, como você pode ver acima. E eu estava preso na sala de batalha. Passei uns 40 minutos procurando o que fazer, e resolvi restaurar o save mais recente. Que era aquele supracitado do checkpoint de uma sidemission.
Fiz tudo de novo e venci o chefe pela segunda vez. Mesma coisa. Igualzinho. Desta vez, reparei que ele salvou antes da batalha. Então restaurei este save para tentar uma terceira e última vez. Para minha surpresa, assim que venci o chefe pela terceira vez, o tal diálogo começou automaticamente. E depois dele, pude progredir. Assim, consegui abrir a segunda estação do jogo – Blacktail começa na primavera, eu fui até o verão. Mas depois de mais um tempo de exploração, o jogo quebrou de novo. Desta vez sem solução.
BLACKTAIL E O CORRALES CHORANDO DE LONGE
Numa missão posterior, precisei escalar uma ponte invertida para salvar uns filhotinhos de pedra. O problema é que os filhotinhos de pedra só podiam se mover quando não tinha ninguém olhando para eles. E se não tem ninguém para não olhar, eles ficavam presos. Ou seja, você precisa encontrá-los, parar na frente deles e olhar para trás enquanto eles fogem. Este é um jogo trevoso, lembra?
Eu sinceramente achei a missão bem fofinha. Era engraçado encontrar as pedrinhas com carinhas, olhar para trás e ouvir pelos canais de surround o barulho delas fugindo. Fiz a missão com um sorriso no rosto, fui até o fim da ponte e isso me colocou no ponto em que estava o quest giver. Mas ele não falava nada e, quando clicava nele, a Yaga contava que precisava ir para a ponte invertida. Fui lá de novo, andei em todas as direções e simplesmente não havia outras pedras lá. Lembrei do chefe que me impediu de progredir ao vencer. Dei save & quit e restaurei o save.
Apareci abaixo da ponte invertida. Ok, não tem problema passar por ela de novo. Porém, no meio do caminho havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do caminho. Era uma pedra que eu já tinha ajudado a voltar para casa, mas dessa vez, não olhar para ela não a fazia sumir. Ela ficou lá, bloqueando o caminho. Eu não conseguia mais concluir a missão. E, como era uma missão de campanha, estava preso no jogo, com um save corrompido.
É UMA PENA
É sinceramente uma pena, porque eu estava gostando de Blacktail. Você sabe que é raro eu pegar um game de mundo aberto e ter vontade de simplesmente sair explorando. E o visual e a mágica que transbordam de Blacktail fizeram que ele conseguisse esta façanha. Mas se não dá para progredir, não tem jeito. Até tem um save que fiz em um altar que posso restaurar, mas ele é de mais de uma hora antes, e não tem nenhuma garantia que se fizer tudo de novo, o problema não vai se repetir.
Na vida, a gente precisa escolher as batalhas. E batalhar para terminar um game que ainda não está pronto simplesmente não é viável. Acredito que até seria capaz de recomendar Blacktail quando – e se – ele funcionar direito. Mas como isso não aconteceu ainda, sou obrigado a parar por aqui. Quem sabe num futuro distante, volto a ele?