Mais uma coisa que você não sabia sobre cinema: roteiros com ideias dos próprios roteiristas servem basicamente como portfólio. Se os produtores gostarem, o mais provável não é eles filmarem seu roteiro, mas te contratarem para escrever um outro filme. Caso você tenha a imensa sorte de seu roteiro ser filmado, ele provavelmente vai acabar sendo adaptado por uma grande franquia e vai se tornar irreconhecível.
Este provavelmente foi o caso de Sherlock Holmes (já que o personagem do longa nada tem a ver com o do livro) e eu apostaria o dedo mindinho esquerdo do Daniel que é o caso de Battleship. Provavelmente um esperançoso roteirista tinha uma ideia para um filme de guerra envolvendo navios e batalhas aquáticas e, ao mostrar isso para os produtores, eles pensaram “ei, guerra entre navios? Tem um jogo bastante popular que é exatamente isso”. Pronto, o estrago estava feito.
Sim, meu amigo. Este filme é uma adaptação do divertido jogo Batalha Naval, mas obviamente não tem quase nada a ver com o jogo que o “inspirou”. Tem só uma cena curtinha, e tão sutil que é bem provável que você sequer perceba a referência. Parece até o caso das cenas da vassoura de O Aprendiz de Feiticeiro. Ou seja, só está lá porque se não estivesse seria forçar a amizade.
VOCÊ AFUNDOU MEU PORTA-AVIÕES
Do que se trata o filme? De uma invasão alienígena através dos oceanos. É praticamente uma versão molhada de Batalha de Los Angeles, inclusive na qualidade. Além desse, também lembra bastante 2012. Tanto, aliás, que é surpreendente que não seja dirigido pelo Roland Emmerich, pois todas as características dele estão aqui, desde os personagens esquecíveis aos efeitos especiais sensacionais.
E sensacionais eles são, delfonauta. Este é um filme com um visual arrebatador, daqueles que devem funcionar muitíssimo bem em Imax. A primeira aparição dos navios alienígenas é impressionante pela escala da coisa toda. É difícil resistir à sensação de soltar um “fuuuu….”.
Uma curiosidade é que o design das roupas dos ETs é claramente influenciado pela roupa do protagonista de Dead Space. É simplesmente parecida demais para ser coincidência, e alguns outros detalhes visuais também remetem ao jogo, o que deixa ainda mais difícil refutar a ideia.
Battleship é claramente dividido em duas metades. Na primeira metade, conhecemos os personagens, mas nada de importante acontece. Demora cerca de uma hora para a guerra começar, e daí é ação ininterrupta até o final. O início é prejudicado pela péssima atuação de pessoas que claramente só estão lá por serem bonitas (Taylor Kitsch e Rihanna, especialmente), e a segunda simplesmente porque falta algo.
As cenas de ação são até legais. É lindo ver os enormes navios alienígenas em suas colossais explosões, mas falta alto para dar liga. Não empolga. E não empolga mesmo com as músicas do AC/DC que o filme solta a todo volume. Convenhamos, dizer que as cenas de ação não empolgam, apesar de a trilha sonora estar recheada de clássicos do AC/DC, é dizer muito, uma vez que poucas bandas são mais empolgantes do que a dos irmãos Young.
E é uma pena, pois apesar de ser baseado em algo tão absurdo quanto um jogo de tabuleiro, um filme de ação na água envolvendo navios alienígenas enormes tinha tudo para ser legal. Infelizmente, não foi dessa vez.
CURIOSIDADES:
– Não é engraçado? Nos EUA, eles se esforçaram para relacionar o filme ao jogo Batalha Naval. No título brasileiro, eles fizeram o possível para não relacionar uma coisa à outra. Será que foi planejado, achando que uma relação com o jogo não seria positiva para a bilheteria, ou será que eles simplesmente não se tocaram que o Battleship deles é o nosso Batalha Naval?