Bad Religion em São Paulo (13/10/2011)

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Antes de começar, um detalhe: Quem me convenceu a escrever este texto foi o nosso querido Allan Couto, que disse que um “olhar de fã que está começando a ir a shows” seria interessante. Eu tenho tenros 16 anos e, graças às benditas classificações etárias das quais eu tanto reclamo nos comentários daqui, fui a pouquíssimos shows até hoje. E os que eu vi eram, em grande maioria, festivais abertos. Ou seja, sou uma completa noob no assunto. Nunca tinha ido ao Via Funchal, por exemplo. Imagine então a alegria de conhecer o lugar vendo logo uma das minhas bandas mais queridas. Um belo presente de dia das crianças, que já estava garantido há quase três meses.

Cheguei ao Via Funchal mais ou menos às 19:30. A chuva tinha dado uma trégua, então decidi deixar o guarda-chuva no carro e fui para o final da fila, que já estava bem grande. Nem dois minutos depois, meu pai mal tinha sumido no fim da rua, começou a chover. E forte, fazendo todos os vendedores ambulantes se metamorfosearem em questão de segundos: “olha a cerveja Heineken! Olha a cerveja Hein-CAPA DE CHUVA, CAPA DE CHUVA!”. Mas não durou muito tempo. A casa foi aberta às 20:10 e estava só garoando.

Lá dentro, o palco já estava montado, e o lugar era maior do que eu imaginava. E ainda estava praticamente vazio, só as grades já tinham sido ‘reservadas’.

Fiquei do lado direito do palco, a duas pessoas da grade. Na minha frente, uma família: um casal, de mais ou menos quarenta anos, com algumas meninas adolescentes e – pasmem! – uma menina de 9 anos. E, pelo que eles me contaram, ela provavelmente já vira tanto shows quanto eu, senão mais.

Estava comentando com eles como era legal ver uma criança da idade dela num show de punk rock quando a outra filha deles virou pra mim e perguntou: “ei, você é a Joanna, não é?”.

Era a Giovana, com quem eu já vinha conversando sobre o show pela LastFM há quase uma semana, e que eu não tinha a mínima esperança de encontrar lá. Uma ótima surpresa.

Apesar de estar sozinha e de ser extremamente ‘awkward’, também consegui fazer amizade com a Daiane, uma moça muito legal que respondeu algumas das minhas perguntas de noob e com quem fiquei conversando as duas horas seguintes. Essas horas foram uma eternidade, já que estava muito ansiosa e não tinha banda de abertura.

O lugar só encheu mesmo depois das 21:30, quando começou a movimentação pra testar os instrumentos, colar o setlist no chão e esse tipo de coisa. Eu só não corria em círculos porque já não tinha mais espaço.

Pontualmente às 22h, eles entraram no palco, com a sequência Resist Stance (minha preferida do Dissent of Man), Social Suicide e 21st Century Digital Boy. O tremendão Brett Gurewitz não veio, mas isso já era esperado. Depois veio Los Angeles Is Burning, Wrong Way Kids (que ganhou clipe recentemente), Overture e Sinister Rouge. Se o show acabasse aqui eu já estaria feliz, mas estava só começando.

Greg agradeceu em português e parou um minuto para ‘conversar’. O som estava um pouco abafado, não dava para entender nada do que ele dizia. Pensei em tirar meio Alfredo por isso, mas o som foi melhorando e acabou voltando ao normal. Lembro-me que ele falou que estava vendo gente mais jovem e perguntou quem estava ali pela primeira vez. Ele disse que a próxima música a gente talvez não conhecesse porque era das antigas. Era a clássica I Want to Conquer the World, do clássico No Control.

E daí em diante foi só clássico mesmo. Come Join Us, New Dark Ages, Atomic Garden, Before You Die, Recipe For Hate, Do What You Want e You.

Nessa parte dava para ver até o pessoal do mezanino descer até o povão. Várias rodas se formaram e, inevitavelmente o empurra-empurra chegava ali na frente. O que era um pouco tenso, sendo que eu estava sozinha e que tenho singelos 1,65m.

A platéia estava extremamente animada e não parava de cantar um minuto. Isso é uma coisa legal do punk, principalmente bandas como Anti-Flag, NOFX, Lagwagon e, claro, Misfits: se numa música como Suffer, a platéia já cantava num coro perfeito, imagine no refrão de Wrong Way Kids.

É muito legal cantar (e ouvir) um “UÔ-Ô! UÔ-Ô! UÔ-Ô-ÔÔÔ!” desses com uma multidão.

E foi aí que eu vi pelo telão o cara com uma camiseta onde estava escrito “Please let me sing Modern Man”. Greg pediu que o levassem lá em cima e deu o microfone na mão dele enquanto nós na platéia questionávamos a integridade moral da mãe dele, tamanha nossa inveja. O nome do lucky bastard era William, e apesar de ter uma voz bem estranha, cantou até bem e agradou todo mundo.

Depois que ele se jogou de volta na galera, veio mais uma leva de clássicos que incendiou a platéia, incluindo Generator, No Control (que foi uma grande surpresa) e Fuck Armageddon… This is Hell, a única tocada do primeiro disco, que encerrou a primeira parte com muitas rodas e muitos dedinhos do meio no ar.

Uns minutinhos para respirar e então Brooks Wakerman voltou com um solo de bateria muito digno que culminou em American Jesus (uma das mais esperadas da noite), e logo depois a grudentinha Infected. Sorrow (que quase levou muito hardcore às lágrimas) encerrou lindamente o show, mais ou menos às 23:30.

Várias vezes a platéia pediu, mas não teve jeito, não rolou Punk Rock Song. Ainda assim, todos saímos muito satisfeitos, e já torcendo pra que eles voltem em breve.

Essa é outra coisa legal no punk: um setlist de mais de 20 músicas cabe em uma hora e meia. Isso porque (como disse o Allan) eles são virtuosos. Imagine se não fossem. =P

SETLIST

Resist Stance
Social Suicide
21st Century (Digital Boy)
Los Angeles Is Burning
Wrong Way Kids
Overture
Sinister Rouge
I Want To Conquer The World
Come Join Us
New Dark Ages
Atomic Garden
Before You Die
Recipe For Hate
Do What You Want
You
Modern Man
Generator
The Defense
Let Them Eat War
No Control
Anesthesia
Along the Way
Fuck Armageddon… This Is Hell

Bis
American Jesus
Infected
Sorrow