Assassin’s Creed Syndicate

0

A frase “o melhor Assassin’s Creed em muitos anos” ainda significa alguma coisa? Independente da resposta para isso, posso afirmar com todas as letras e sem medo de errar que Assassin’s Creed Syndicate é o melhor da série em muito tempo. E olha que eu fui o caboclo que escreveu a única resenha positiva do mundo para Assassin’s Creed: Unity.

É inegável que a série parece ter se perdido quando encerraram a história do Desmond no terceiro, que era o que ligava um jogo ao outro. Black Flag foi bem recebido, mas eu o achei inflado demais, muito cheio de coisas desnecessárias. Assim, Unity para mim foi um respiro. Um back to the roots muito bem vindo de uma série que aparentava estar perdida.

Mas ele ainda tinha muita gordura e muita pentelhação (a necessidade de usar apps de celular e microtransações instrusivas entre elas). Assim, Syndicate continua essa tendência de enxugar os excessos. Não há mais apps e as microtransações são bem mais fáceis de serem ignoradas. O curioso é que elas servem justamente para você liberar coisas que ganharia jogando. Ou seja, caso você não queira jogar, pague mais do que já pagou pelo jogo e libere as coisas sem jogar. Não faz sentido.

De qualquer forma, é um passo na direção certa e minha experiência com Syndicate foi a mais aprazível que tive com um lançamento da série desde Revelations. Vamos elaborar.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Você provavelmente já sabe disso, mas Syndicate acontece na Inglaterra Vitoriana, no auge da Revolução Industrial. É uma época comum em videogames. Só este ano, por exemplo, tivemos The Order: 1886 e Bloodborne pegando inspirações do mesmo período.

Assim, quando foi divulgado, admito que eu não gostei da escolha, especialmente porque a Revolução Francesa de Unity é um período tão rico e que foi tão mal explorado no jogo anterior. Ainda assim, devo dizer que, enquanto jogava, acabei gostando da ambientação. Afinal, ao contrário de The Order, aqui a representação histórica é mais realista, e o jogo é visualmente um espetáculo.

Ele tem alguns retrocessos em relação a Unity, como menos gente na rua. Além disso, senti falta da cara de pintura do jogo anterior. Syndicate tem cara de videogame, mas é um videogame lindíssimo e cheio de detalhes para serem admirados.

A música, então, achei a melhor da série. Os fraseados de violinos que tocam quando você está pulando de um prédio alto dão um clima todo especial e é apenas uma pena que não toquem com mais frequência.

Uma coisa que diferencia Syndicate dos anteriores é a quantidade de celebridades históricas com quem você vai interagir. Embora a série sempre tenha tido personagens reais, a personalidade mais conhecida que participou dos jogos até o momento era Leonardo Da Vinci. Agora temos uma pá de nomes conhecidos, de Charles Darwin a Graham Bell, passando por Charles Dickens e outros. E cada um deles se envolve na trama principal de alguma forma.

A TRAMA PRINCIPAL

A história é uma bagunça e este é um problema da série desde o terceiro. Basicamente, tem um templário malvadão que domina Londres e seu objetivo é matar ele e recuperar uma piece of eden. Como isso se encaixa em todas as missões que você faz até de fato criar um plano para assassinar o cara é algo que tenho dúvidas que a própria Ubisoft entenda.

Em Assassin’s Creed II, por exemplo, você acompanha o bon vivant Ezio com o objetivo inicial de vingar a morte de sua família, mas aos poucos ele vai se identificando com os ideais da ordem dos Assassinos e ao final de Revelations ele se torna um dos grandes mestres da fraternidade. É uma evolução considerável, que os gêmeos Jacob e Evie Frye não sofrem por aqui.

Jacob continua tão impulsivo ao final do jogo quanto em seu início e Evie continua sendo a certinha que sempre foi. E este acaba sendo o motivo do principal conflito da história, pois enquanto a moçoila quer planejar tudo, Jacob age sem pensar e sai matando uma galera em Londres, com efeitos consideráveis na economia e na vida da cidade. Não por acaso, 80% das missões da história são jogadas com Jacob, e a Evie normalmente entra para limpar a bagunça causada por ele.

Há um fiapo de história na época atual também, incluindo o retorno dos favoritos Shaun e Rebecca, mas são apenas cutscenes não interativas e também não tão interessantes. Você não sabe nada do sujeito que está operando o Helix, como era com Desmond, por exemplo, onde a época atual dava bons respiros e uma boa amarrada na história.

MISSÕES E SIDEMISSIONS

Isso tudo não significa que eu não tenha me divertido. Cada uma das missões de assassinato corresponde a um clímax propriamente dito, no qual você tem um cenário relativamente aberto e várias possibilidades de como atacar. Você pode simplesmente sair na porrada com todo mundo ou tentar algo mais estratégico, culminando no que o jogo chama de “unique kill”, que é basicamente um assassinato mais elaborado que toca via uma cutscene se você conseguir fazer tudo certinho.

As missões que separam os assassinatos trazem o que se espera da série, felizmente com muitos menos momentos em que você deve seguir um sujeito ou ouvir uma conversa.

As sidemissions também são interessantes, normalmente envolvendo pedidos feitos por uma das celebridades da época. Há também atividades secundárias que ajudam a dominar Londres, e elas são divertidas. Variam entre libertar umas crianças que trabalham em fábricas a, claro, assassinatos. A única atividade chata e, infelizmente, a mais comum, envolve sequestrar um alvo e entregá-lo com vida a um policial.

NOVAS MECÂNICAS

Syndicate mantém as boas mudanças feitas em Unity, como o fato de termos um botão para subir e um botão para descer. Há, também, boas novidades.

Talvez a mais alardeada delas seja a corda, que dá ao jogo um jeitão de Batman. Agora você pode escalar um prédio inteiro instantaneamente, bastando apertar o L1. Além disso, pode usar a corda para passar de um telhado para outro, o que é uma mão na roda.

Este é um acréscimo que eu esperava desde que divulgaram que Revelations teria um gancho (que acabou não fazendo muita diferença) e finalmente colocaram. No entanto, não espere que isso aumente consideravelmente a velocidade da sua locomoção pela cidade. Acabou que minha forma preferida de passear por Londres é também uma novidade para a série: carruagens.

No melhor esquema GTA, você pode simplesmente arrancar o motorista de uma carruagem e assumir a direção dela. E esta é a forma mais rápida e prática de cobrir grandes distâncias pela cidade, com exceção, claro, do fast travel. Rola até um combate entre carruagens que lembra bastante Sleeping Dogs.

Essas duas novidades melhoraram bastante a locomoção, que era algo que começava a ficar estagnado na série.

O combate também está mais prazeroso. O jogo voltou a ser fácil, o que eu não vejo como um problema mas sei que incomoda muita gente. Porém, agora o combate envolve um agradável ritmo de contra-ataque, tiros e execuções. Se você deixar vários inimigos grogues próximos um ao outro, é possível executar todos de uma vez, o que é bem divertido, embora nem sempre funcione por motivos que só o jogo sabe.

UM MINI ASSASSIN’S CREED

Caso você queira evitar um spoiler leve, pule este tópico.

Além da Londres vitoriana, há também uma outra época a ser explorada. Você pode chegar nela através de um sutil ícone que fica do lado direito do rio Tâmisa (não sei a partir de qual momento ele aparece, mas eu estava na sequência sete quando o encontrei).

Este ícone vai te levar para Londres durante a primeira guerra mundial, no que é quase um jogo extra, com colecionáveis, sidemissions e missões principais. É o tipo de coisa que tem cara e duração de que poderia ser um DLC e é legal que esteja disponível para todo mundo.

SINDICATO

Assassin’s Creed Syndicate faz um excelente trabalho limando boa parte da gordura que se acumulou ao longo da série e mantendo aquilo que ela tem de bom. No entanto, depois de tantos Assassin’s Creed, fica difícil recomendar um novo jogo da série todo ano. Se você está sem jogar desde a época do Ezio, Syndicate será ótimo para matar a saudade.

Por outro lado, se você, como eu, é um grande fã da série e vem jogando todos os lançamentos anuais, é inegável que já deve estar um pouco cansado das suas mecânicas – e a história está se tornando cada vez mais irrelevante.

Torço para a Ubisoft dar um tempo para a gente descansar de Assassin’s Creed e lançar coisas de suas outras franquias, como Prince of Persial. Penso que um tempinho sem lançamentos da série seria ótimo tanto para os jogadores como para a Ubisoft. E talvez quando voltar pode trazer de volta um novo protagonista na época atual, que nos deixe novamente tão interessados em sua história quanto ficamos na de Desmond.

COLOQUE SEU MANTO BRANCO E LEIA TAMBÉM:

Assassin’s Creed – O começo da saga!

Assassin’s Creed II – A estreia de Ezio!

Assassin’s Creed Revelations – O fim das histórias de Ezio e Altair!

Assassin’s Creed III – Um Assassino contra Templários, esquilos e guaxinins!

Assassin’s Creed: entrevista exclusiva com o roteirista da série – Falamos de história, filosofia e literatura com o criador dos conceitos de Assassin’s Creed em uma das melhores entrevistas da nossa história.

Assassin’s Creed IV: Black Flag: Yo-ho, yo-ho, a pirate’s life for me!

Assassin’s Creed: Unity: Liberté, égalité, fraternité!

Assassin’s Creed Rogue: I make my own luck!

Galeria