Assassin’s Creed Revelations

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A franquia Assassin’s Creed chega a seu quarto episódio, concluindo a trilogia de Ezio Auditore da Firenze. Hein? Para os delfonauta não versados na série, eu explico. Assassin’s Creed foi a história de Altair, um assassino da Terra Santa na época das cruzadas. Assassin’s Creed II e Brotherhood abandonaram Altair em nome de Ezio, um assassino italiano.

Os dois personagens, de duas épocas distintas, tinham suas vidas amarradas por Desmond Miles, que vive em um futuro não muito distante. Assassin’s Creed Revelations une de vez a vida destes três e coloca um ponto final muito bem colocado em dois deles.

CONSTANTINOPLA

Depois de explorar a Itália renascentista e a Terra Santa, agora a franquia nos leva para Constantinopla que, como já é tradição na série, está repleta de pontos turísticos, como a famosa Hagia Sophia. E a cidade, meu amigo, é linda.

Convenhamos, do primeiro para o segundo jogo, os gráficos da série pioraram bastante, especialmente em detalhes próximos como rostos e no excesso de texture pop-in e os de Brotherhood não mudaram muito. Claro, quando você está correndo pela cidade e admirando o cenário, os gráficos ainda eram lindos. Aqui claramente houve um redesign de rostos e personagens que colocaram os gráficos próximos ao nível altíssimo do primeiro. As texturas ainda popam próximas demais, então não está exatamente lá ainda, mas tente não babar ao olhar para o céu e para as cores vivas das roupas e da cidade como um todo. Também refizeram toda a interface do jogo. A barra de energia, por exemplo, está bem diferente.

Se visualmente o jogo é um deleite, o som não traz grandes surpresas. Continua bom, claro, mas as frases das pessoas da cidade continuam as mesmas da Itália, inclusive aquela que já ficou famosa, “that is impressive, though reckless”.

As músicas ainda têm aquele jeitão místico, meio “santo” e continuam lindíssimas, embora pareçam um pouco fora de lugar, uma vez que seus inimigos não são mais pintudões da igreja. Seria legal um tempero mais típico do Oriente Médio.

Mas o que o delfonauta realmente quer saber é das coisas novas na jogabilidade, estou certo? Bom, aí o negócio fica um pouquinho mais complicado.

NOVIDADES

Não houve nenhuma mudança realmente considerável no jogo, como a hidden blade dupla do segundo ou o recrutamento de assassinos em Brotherhood. Na verdade, quando saiu o Brotherhood, eu imaginava que ele seria praticamente um pacote de expansão, por ter tido um lançamento tão próximo a seu antecessor, mas justiça seja feita, ele trouxe várias coisas novas e legais. Revelations, por outro lado, repete o que Brotherhood tem de bom, abandona algumas coisas e traz poucas novidades, a maioria irrelevante, dando a ele a cara de expansão que esperava de seu antecessor. Isso é corroborado pelo reaproveitamento de frases e músicas, mas principalmente pela curta duração da história principal: se antes eram 14 sequências, agora são apenas nove. Dessas, a primeira e a última não contam por serem quase cutscenes, então são praticamente sete, metade dos outros.

As coisas que sumiram do jogo foram os cavalos e a notoriedade e, convenhamos, nenhuma delas faz falta. O que faz falta são aqueles mecanismos que Brotherhood tinha no chão, que te puxava em poucos segundos para o teto dos prédios. Revelations até tem isso, mas deve ter apenas três em Constantinopla inteira, então é como se não tivesse.

O principal acréscimo é a tal da hookblade, mas na prática ela não faz muita diferença. Ela é apenas um apetrecho que permite ao Ezio fazer o que já fazia antes (agarrar uma parede no meio do pulo, por exemplo). Verdade, tem também as ziplines que, se não mudam tanto quando as duas hidden blades, pelo menos são bem divertidas. Assassinar um guarda te esperando no final de uma zipline é um dos momentos gamísticos mais hell, yeah do ano.

Outra coisa que não faz muita diferença é montar bombas. Afinal, você já tinha bombas antes, a diferença é que agora você pode escolher coisas como o tamanho da explosão, para quem gosta de um pouco mais de interatividade.

Porém, a novidade que está dando o que falar é o minigame Tower Defense, que funciona mais ou menos como as batalhas de Brütal Legend. É assim: após você dominar uma base templária (algo como as Borgia Towers de Brotherhood), os templários podem tentar pegá-la de volta. Daí você precisa se defender em um joguinho de RTS.

É incrível perceber que absolutamente nenhum review até agora falou bem disso, o que me faz estranhar que isso não tenha sido riscado durante o desenvolvimento. E, de fato, não só esse minigame é chato, como eu já não gosto quando o jogo te faz ficar voltando para o mesmo lugar para proteger algo que estará constantemente sofrendo ataques. Uma vez conquistado, deve ser do jogador até o final do jogo, senão vira obrigação, não diversão. Felizmente, uma vez que você recruta seus assassinos e sobe o nível deles até o máximo, as torres vão parando de ser atacadas.

Uma outra coisa que sumiu são os puzzles do Subject 16. Embora eu não sinta falta de procurar por eles ou de resolvê-los, considero que eles acrescentavam muito para a história, especialmente por causa dos personagens reais e históricos que apareciam nos puzzles, alimentando a veia conspiratória que todo nerd tem. FNORD!

Aliás, também faltam personagens históricos aqui. Se anteriormente você interagia com nomes como Maquiavel, Leonardo Da Vinci e a família Borgia, aqui os poucos personagens realmente históricos têm um grau de notoriedade muito menor do que os supracitados. E já que estamos falando em história…

HISTÓRIA E FASES

O melhor do Asssassin’s Creed sempre foi a história do Desmond. A do Ezio no segundo jogo teve um lado pessoal que funcionou muito bem, mas em Brotherhood eu mal lembro do que aconteceu com o garanhão italiano. Já na parte do Desmond é onde as teorias conspiratórias afloram, e esse continua sendo o charme da série.

Aqui, Desmond está preso no Animus e tem cinco fases dedicadas a ele que nada mais são do que puzzles em primeira pessoa que consistem em colocar formas geométricas no ar para atravessar abismos. Não é difícil e a atmosfera me lembrou Portal. Enquanto você navega pelo cenário, Desmond vai narrando sua vida, desde a infância até o momento em que foi raptado pela Abstergo e essa narrativa é exatamente o que me deixava ansioso para jogar essas frases. Só é uma pena que o cenário seja abstrato, não ilustre a história que está sendo contada. E, por falar em cenário, o Hub principal do jogo é claramente inspirado pelo Limbo do filme A Origem. E é bonitão, meu amigo.

Paralelamente a isso, acompanhamos Ezio, já velho, mas ainda cafajeste, em sua viagem por Constantinopla para estudar a vida de Altair. Cada vez que você consegue uma das chaves deixadas por Altair, é transportado para uma pequena memória do personagem clássico.

Essas fases, que são praticamente cutscenes interativas, são bem legais, pois mostram Altair em sua juventude, em momentos imediatamente posteriores ao fim do primeiro jogo e vão até o sujeito ter mais de 90 anos. Uma das últimas fases de Altair, em que ele está velho, lento e quase indefeso é o momento que mais dá a sensação de você controlar um exército, pois você vai simplesmente andando e seus soldados assassinos vão aparecendo do nada matando todo mundo que te ameaçar. É totalmente hell, yeah.

Aliás, é muito legal isso que a franquia fez. Em Assassin’s Creed II, nós literalmente estávamos com Ezio no dia de seu nascimento, e agora jogamos com ele e o Altair na terceira idade. Acredito que isso, acompanhar o personagem do nascimento até a velhice, nunca tenha sido feito antes na história dos games.

É inegável que Ezio se juntou a Mario, Sonic e Kratos entre os personagens mais conhecidos e queridos dos games, o que deixa ainda mais legal termos acompanhado a vida inteira dele. Cá entre nós, no entanto, devo admitir que sou uma das duas pessoas do mundo que acha que o Altair é um personagem bem mais interessante. Dessa forma, as fases dele tiveram um grande impacto emocional para mim, maior inclusive que a história principal, estrelada por Ezio.

E já que falamos em impacto emocional, preciso falar do final. Meu amigo, o final! É simplesmente linda a forma como a vida dos três protagonistas se cruza. Se os jogos anteriores terminavam em um momento holy fuck, este vai por um caminho totalmente oposto. Essa intersecção é interior, emocional e linda em sua sutileza e em sua mensagem. É de marear os olhos, delfonauta.

Infelizmente, tirando o final, a história principal, com Ezio, é bem genérica, talvez até mais que a de Brotherhood, o que é uma pena. Por outro lado, é bem legal termos um contato maior com os recrutas, pois faz com que você se sinta realmente o mentor que Ezio foi ao acompanhá-los em suas missões e treinando-os enquanto eles erram e se esforçam para serem assassinos melhores.

Também é uma pena que as fases em geral não sejam tão legais quanto anteriormente. A imensa maioria é daquelas “siga alguém sem ser visto” ou “ande com alguém enquanto ele fala”. De assassinatos mesmo, tradicionalmente as melhores fases da franquia, temos pouquíssimos (uns três ou quatro), e praticamente todos estão no final. Aliás, Assassin’s Creed Revelations vai contra a tendência atual dos games, que dita que o começo deve ser a melhor parte. Se você se desanimou com o início morno, saiba que na segunda metade ele melhora MUITO e a conclusão é magistral.

Isso nos leva a dizer que também faltou um pouco de condução no jogo. Lembra nos anteriores que, conforme você avança na história, vai liberando novas áreas e novas missões secundárias?

Aqui a cidade inteira já começa aberta e as poucas sidemissions (todas relacionadas aos recrutas) são liberadas logo no início. Assim, você acaba passando as primeiras seis ou oito horas de jogo escalando torres para liberar o mapa, recrutando assassinos e fazendo tower defense. E daí, depois disso, faz a história de forma totalmente linear, pois não sobrou mais nada a ser feito além das missões principais.

Claro, você pode intercalar por conta própria, mas daí corre o risco de precisar de assassinos e não tê-los ou cair numa parte não mapeada da cidade. Por isso, seria legal um pouco mais de condução aí.

MULTIPLAYER

Brotherhood teve as bolas de introduzir multiplayer em uma série que parecia ser totalmente dedicada ao single player. E, assim como Bioshock 2, conseguiu fazer isso muito bem. Eu simplesmente adoro o multiplayer de Assassin’s Creed. E o de Revelations melhorou bastante.

Temos diversas novas formas de jogo interessantes, como o Deathmatch ou o Corruption e a parte técnica melhorou bastante, pois agora não demora mais vários minutos para encontrar um jogo. Essa fórmula “cace um jogador específico enquanto outro te caça” funciona bem melhor do que parece pela descrição e, se você nunca tentou jogar Assassin’s Creed online não sabe o que está perdendo.

Nos melhores modos de jogo, o sistema te atribui uma vítima, ao mesmo tempo em que alguém está te caçando. Você deve chegar na vítima da forma mais sutil possível, para não se revelar ao seu caçador. É super comum você estar andando rumo ao seu alvo e, do nada, é assassinado por alguém que estava se escondendo melhor do que você. É frustrante, mas é um frustrante divertido, daqueles que é difícil não soltar um “filho da…” gritado, o que é bem engraçado, especialmente se você estiver jogando com amigos.

Para deixar o que já era bom ainda melhor, a Ubisoft resolveu se inspirar em Bioshock 2 e fazer um multiplayer com história. Conforme você vai subindo de nível, libera vídeos e textos que elaboram um pouco mais sobre a ordem dos templários. Como toda a história do jogo até agora tinha sido contada do ponto de vista dos assassinos, é muito legal ver o lado dos “vilões” também.

Só é uma pena que os upgrades agora tenham que ser comprados. Antes você os ia liberando conforme subia de nível, e agora precisa ficar juntando créditos para comprar coisas como bombinhas de fumaça. Tirando esse porém, no entanto, o multiplayer só melhorou.

GLITCHES

Infelizmente, já é tradição na franquia termos que aguentar alguns glitches malvados. Felizmente, nenhum dos que eu encontrei destrói seu save como o já famoso “Tunnel Glitch” do Brotherhood (essa porcaria aconteceu comigo e me fez perder mais de dez horas de jogo =/).

Aqui além de bugs ocasionais, como atravessar o chão e morrer, eu encontrei dois glitches mais malvados:

1 – Após reconstruir boa parte da cidade, o banco, que deveria gerar dinheiro a cada 20 minutos, para de fazer isso. Aparentemente, a única forma de resolver é deletando o update, e resolveu para mim, mas pouco depois aconteceu de novo. Novamente, eu deletei, resolveu, e depois voltou a acontecer. Assim, minha recomendação é que, se você não se importa com troféus, simplesmente ignore a economia do jogo. Você vai ganhar as melhores armaduras e armas logo no início se fizer as sidemissions, então não vai precisar comprar nada.

2 – No multiplayer, após matar alguém, você precisa esperar o jogo te entregar outro alvo. Isso normalmente demora uns 10 segundos, mas ocasionalmente o jogo simplesmente manda você ouvir pagode e não te passa mais ninguém para matar. Obviamente, isso faz com que você perca a partida. Não é tão ruim quanto o do banco ou o do túnel, mas é um inconveniente.

Procurando pela internet, dá para ver que esses dois glitches são bem comuns, então provavelmente também vão acontecer com você. Torçamos para que saiam patches que os resolvam, embora isso seja difícil, já que nem o tunnel glitch, que matava o Brotherhood, foi patcheado.

CONCLUSÃO

Assassin’s Creed Revelations talvez seja a iteração mais fraca da franquia. Isso não significa que o jogo é ruim, apenas que os anteriores tinham uma qualidade tão absurda que ficou difícil de ser superada. Vale a pena ser comprado? Mas com absoluta certeza. Só não espere o salto de qualidade que a série deu no segundo jogo e em Brotherhood. O que temos aqui é um “mais do mesmo” muito bem feito, mas também uma demonstração que talvez seja a hora de parar de lançar jogos anuais com poucas diferenças e fazer de fato um Assassin’s Creed III. E admito que, desde já, estou ansioso para ver para para quais outros lugares históricos essa excelente franquia nos levará.

CURIOSIDADES

– A voz de Desmond Miles é feita por Nolan North, que ficou famoso por fazer outro personagem marcante de videogames: Nathan Drake, de Uncharted.

Assassin’s Creed Revelations foi lançado no Brasil por um precinho bem suculento: R$ 149,90. E ainda vem com a prisão do Drácula, um curta-metragem e outros bônus legais.

– Algumas versões de Assassin’s Creed Revelations para PS3, como a analisada pelo DELFOS, vêm com o primeiro jogo incluso no disco. A nossa versão não tem os brindes acima, no entanto, e eu não consegui descobrir se essa versão “Signature” à venda pelo Submarino vem com o primeiro jogo além dos extras listados. Se você souber, diga aí nos comentários para informar os colegas delfonautas.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
assassins-creed-revelationsAno: 2011<br> Gênero: Ação em mundo aberto<br> Preco: R$ 149,90<br> Plataforma: PS3, Xbox 360<br> Fabricante: Ubisoft Montreal<br> Versao: PS3<br> Distribuidor: Ubisoft<br>