Pelo trailer e pela divulgação em geral, este era um filme nacional que parecia ser até divertido. Felizmente, desta vez o trailer não mentiu.
Assalto ao Banco Central é um filme de assalto com comédia, mais ou menos como X Homens e X-10 Segredos, embora sem a mesma classe e com uma influência mais tarantinesca do que soderberghiana.
Aqui conhecemos uma pá de bandidos que, assim como na franquia supracitada, são todos atores famosos, quase um Brasil All-Stars. Mas eles são barra pesada, afinal, aqui no Brasil, ladrões não usam terno nem têm a cara do Brad Pitt! =D
Eles vão planejar o assalto ao Banco Central, executar, serem caçados pela polícia e eventualmente serem, em parte, presos, não necessariamente nessa mesma ordem. Tudo isso em meio a muitas piadinhas, confusões, mulher pelada e músicas alegres.
As piadas, as músicas e todo o climão despretensioso fazem o filme parecer uma obra do Tarantino. E isso é ótimo, especialmente para um longa nacional, que dificilmente se aventura pelo lado do entretenimento puro sem ser retardado. Mas tem dois defeitos, que acabam diminuindo a obra como um todo.
O primeiro deles não é novidade no cinema nacional: as atuações. Por Alex Kidd, o mascote esquecido da Sega! Será possível que não exista um único ator bom neste Brasil? E, ao contrário do Daniel, eu acho que nem no teatro nossos tespianos se salvam. Incomoda-me muito a mania de os atores de teatro ficarem olhando para a plateia a toda hora, mesmo quando a intenção não é quebrar a quarta parede. E as atuações de cinema acho iguaizinhas às do teatro.
Aqui o elenco é irregular. Tem alguns passáveis, que estão no nível, sei lá, de um ator medíocre como o Keanu Reeves. Mas tem alguns que arrastam todo o filme para baixo, em especial Tonico Pereira, que faz o engenheiro comunista. Seu personagem tinha tudo para ser um dos mais legais, pois é bastante engraçado (qual comunista brasileiro não é engraçado, afinal de contas?), mas a forma com a qual ele fala suas frases é tão falsa que fica difícil acreditar que ele não as esteja lendo. Com isso, suas cenas, que deveriam ser as mais legais, acabam sendo sofríveis e o espectador fica torcendo para ele morrer logo, de preferência de morte sofrida.
E já que falamos em morrer, isso nos leva ao segundo problema. A narrativa é feita em dois tempos, um antes do assalto e um depois. Isso não acrescenta nada ao filme além de confusão desnecessária, e tira o suspense de boa parte das cenas. Por exemplo, tem um momento em que um inspetor de dengue vai visitar a casa onde eles estão preparando o assalto. Vemos isso intercalado a outra cena, em que o inspetor dá depoimento à polícia. Em outras palavras, sabemos que ele não vai morrer ao inspecionar a casa. Isso tira todo o impacto de uma cena que tinha tudo para ser emocionante.
Uma narrativa desnecessária e atuações deprimentes cobram seu preço de um roteiro legal e um filme que tinha tudo para ser excelente. Ainda assim, temos um bom e divertido longa, que vale o preço do ingresso. É só uma pena que não tenha alcançado todo seu potencial, como acontece com a maior parte dos filmes brasileiros. E é mais pena ainda quando pensamos que todos os filmes nacionais feitos por grandes empresas são bancados por dinheiro público. E que mesmo a gente pagando para ajudar na produção, não podemos vê-los de graça nem ganhar uma parte dos lucros. Mas isso é assunto para outro texto.