As Pontes de Madison

0

Sinto-me obrigado a iniciar esta resenha dando um alerta:

Se você é um cara realmente true, daqueles que acham que para ser música é necessário que se cante sobre mutilações e necropsias, para ser filme é necessário escorrer sangue pela tela e para ser um bom livro é necessária uma dose exagerada dos elementos citados acima, essa resenha não é para você! Aliás, sugiro substituir imediatamente esta tela no seu browser por esta aqui. E rápido, antes que alguém veja que você abriu isso.

Também devo dizer que, se você é um nerd no melhor estilo filme americano adolescente, de óculos fundo de garrafa, canetas no bolso da frente da camisa, teorias sobre tudo e explicações racionais para um pingo de chuva que cai, essa resenha também não é para você. Não que você vá sentir um tormento semelhante aos trues citados acima, mas esta resenha não vai acrescentar nada à sua vida.

Agora, se você for um nerd “descolado”, que conhece o valor das coisas emocionais – ou, melhor ainda, conhece uma mulher que conheça este valor – e quer ter assunto para conversar com aquela sua amiga culta bonitinha, quer ampliar e mesclar seu conhecimento literário ou simplesmente para fazer uma média com o público feminino, essa resenha e esse livro são para você, meu amigo!

Falo isto porque este livro é essencialmente feminino, no sentido de descrever sensações e projetar sonhos que somente aquelas míticas criaturas, conhecidas vulgarmente por mulheres, são capazes de aproveitar de modo absoluto.

A história se passa no Condado de Madison, e gira em torno de dois personagens principais: Robert Kincaid e Francesca Johnson. Ele, um fotógrafo solitário que, apesar de talentoso, realiza trabalhos como freelancer para algumas revistas e, de forma regular, para a National Geographic. Ela, uma mulher casada, típica dona de casa de regiões rurais, acostumada à rotina e à mesmice que a vida lhe impôs com o passar dos anos, graduada em literatura, dotada de uma beleza crua e madura além de uma inteligência sedutora.

Suas vidas desertas poderiam muito bem ter passado despercebidas por todos, não fosse por um trabalho dado a Robert: fotografar sete pontes antigas no condado de Madison. É nesse momento, ao se dirigir ao velho rancho do marido de Francesca para pedir informações, que suas vidas se cruzam e mudam para sempre (que frase absurdamente clichê!).

No espaço de uma semana – tempo em que sua família estava fora apresentando seus animais em uma feira – eles iniciam um romance intenso e profundo, repleto de descobertas e das mais fortes sensações relacionadas ao amor e à paixão.

Esse romance, que escapa um pouco do lugar-comum do gênero no que diz respeito a seus personagens, que não são nem extremamente belos, nem jovens e tampouco ricos, apresenta de forma bela um dilema bem freqüente em livros e filmes de temática semelhante: o que vale mais? As responsabilidades familiares e a comodidade da vida estabelecida ou o amor utópico, impossível e insólito?

O desfecho deste enredo deixo para você descobrir por si. Não espere nada de extraordinário, apenas a sensação de que o amor verdadeiro é uma emoção ímpar e que não são todos que conseguem provar dele.

Esse livro nos agracia com belos momentos e frases marcantes. Torna-se especial por ser, supostamente, baseado numa história verídica, mas, ainda assim, peca por alguns exageros demagógicos e piegas. Sem falar na meiguice desenfreada.

Portanto, se você é uma delfonauta, ainda que se considere uma mulher livre do ideal romântico, não hesite em ler essa bela história. No entanto, se você for um dos três delfonautas que chegaram até aqui, leia por sua conta e risco – ou assista ao monótono filme, do mega-tremendão Clint Eastwood, que em momentos cinematográficos mais gloriosos já ‘matou tudo que caminha ou rasteja, homens, mulheres e crianças’. E se prepare para doses cavalares de sentimentalismo e meiguice. Na pior das hipóteses, o resultado vai ser um papo com aquela menina que vive em busca daquele romantismo de novela, sepultado ao longo da nossa evolução.