O dia desta cabine foi dramático. O evento seria realizado no Kinoplex, que é o cinema mais odiado pelo Corrales, por ser totalmente inacessível. Eu já tinha absorvido parte do trauma de ter que ir ao tal lugar apenas lendo os textos do nosso ditador, mas passar por essa experiência é muito pior. E, delfonauta, é tão complicado chegar ao tal cinema que eu, após ter ido até o local da cabine, ainda não sei como chegar ao Kinoplex. Sim, isso é absolutamente possível, como este texto irá mostrar.
A coisa já começou errada uma semana antes, quando conversava com o Corrales sobre a cabine do filme As Aventuras de Agamenon: O Repórter. “Você não vai? Vou precisar fazer as fotos na coletiva, então?”, disse, ao que o Corrales retrucou com cara de espanto: “Tem coletiva nesse dia?”. Sim, tem, e ela estava no mesmo e-mail da cabine, marcada para as 13h. O chefe não viu esse pequeno detalhe e acabou se confirmando para pegar outra cabine no mesmo dia. Logo, eu precisaria encarar o desafio sozinho. Não era isso que estava me deixando nervoso, no entanto.
SÍNDROME DO PÂNICO
Fiquei muito preocupado por precisar conseguir chegar ao Kinoplex. Sou naturalmente uma pessoa ansiosa, mas acho que a faculdade de jornalismo me deixou paranoico. Os professores ensinam durante o curso que é sempre necessário ter um plano B, C, D, E e por aí vai para qualquer matéria que deve ser feita (o plano A costuma não dar certo). Assim, tracei várias rotas possíveis para ir até o cinema: pedi informações para uma amiga que trabalha perto dele, estudei o Google Maps por horas a fio, até que, enfim, tomei uma decisão importante: eu iria descer no metrô “mais próximo”, o Lgo. da Batata na Faria Lima, e de lá andaria até o local, uma caminhada de 50 minutos.
Não confio em ônibus. Ele nunca vai até onde a gente quer, nunca está no ponto quando a gente precisa. Assim, considerei mais viável andar o trajeto inteiro, que era em linha reta, do que arriscar pegar um ônibus e ficar parado no trânsito, ou esperar por ele eternamente no ponto. Para piorar meus ataques de pânico, ouvi na televisão que no dia da cabine um temporal atacaria a cidade de São Paulo, o que fez com que eu saísse de casa absurdamente cedo.
Cheguei à estação de trem em Santo André às 7h20 e, após baldeações no metrô, grandes apertos e viagens compactadas, cheguei à estação Faria Lima às 8h30. Durante o trajeto, vi que o tempo mudou de nublado para chuvoso para ensolarado. Essas mudanças climáticas consecutivas me fazem questionar a importância da mulher do tempo hoje em dia.
ESSA AVENIDA NÃO ACABA MAIS?
A Avenida Brigadeiro Faria Lima é um negócio gigantesco, delfonauta. Tão grande que, durante vários momentos, imaginei que não estava seguindo na direção certa. Após 40 minutos andando em linha reta, comecei a me sentir como se estivesse levando o Um Anel de volta a Mordor. Foi aí que cruzei a Avenida Juscelino Kubitschek. “Ah, eu lembro dessa aqui! Agora deve estar perto!” Cinco minutos depois, não encontro a rua, desisto e resolvo perguntar para a primeira alma viva mais próxima onde diabos se encontrava a Rua das Olimpíadas.
“Olha, você pode ir por aqui, mas está meio longe”, responde uma mulher que passava pela calçada. Geralmente eu peço informações em bancas de jornal, porque tenho medo de as pessoas acharem que sou um psicopata e quero assaltá-las, mas não há bancas de jornal por ali. Só prédios. Seguindo as instruções dela, consegui chegar à Rua das Olimpíadas em pouco tempo, o que levou a me indagar por que ela achava que um local que fica a cinco minutos de caminhada é longe. Deduzi que, claramente, ela nunca precisou atravessar duas horas de espaço metropolitano para chegar a algum lugar específico.
EBA, JÁ ESTOU AQUI! AH, DROGA… JÁ ESTOU AQUI
Tenho mania de chegar cedo nas cabines por alguns motivos, delfonauta. Primeiro, posso fazer reconhecimento do local e ficar preparado para usar rotas alternativas e fugir de qualquer diabo que possa vir a acontecer nas próximas horas. Segundo, bem, eu não sei, acho que tenho medo de chegar atrasado. Após sentir-me bem por chegar ao endereço indicado no e-mail, vi no celular que eram 9h18, ou seja, esperaria fora do local por pelo menos 42 min. Ah, droga. o.o’
Foi então que me ocorreu algo bastante importante: eu soube como chegar, mas não tinha ideia de como voltar. Até tinha, mas encarar novamente 50 minutos de Brigadeiro Faria Lima não estava me animando muito. Resolvi ligar para uma amiga, que trabalha na região, para que ela pudesse me informar como sair dali de uma forma menos dolorosa (detalhe: fiz a ligação a cobrar, porque meus créditos tinham acabado).
Ela não atendeu, refleti por alguns minutos e tocou o telefone. Era minha amiga que retornava a ligação. “Érica, então, eu estou aqui na Rua das Olimpíadas. Qual ônibus mesmo eu pego pra voltar?” Como ela conhecia o Kinoplex, aproveitei e resolvi tirar uma dúvida que estava me atormentando desde a hora que cheguei. O endereço que eu havia marcado como sendo da cabine apontava para um hotel. Não poderia haver cabines em um hotel, delfonauta. “Não, Daniel: que eu saiba, o Kinoplex fica no shopping”, ela me explicou. Percebi a existência de um banco enorme bem próximo de onde estava e, ao lado dele, algo parecido com um shopping. Após ela me confirmar que era ali mesmo que estava o Kinoplex, resolvi ir até lá, mesmo sabendo que o endereço que eu tinha anotado apontava para o hotel, e não para o shopping.
SHOPPING KINOPLEX NO HOTEL CAESAR PARK E CAESAR BUSINESS
Adentrei o shopping Vila Olímpia lá pelas 9h30, e fui rapidamente até o sanitário masculino antes de procurar pelo cinema. Sabia que algo estava muito errado naquele dia e, nessas horas, costumo ligar para o Corrales. Mas eu estava sem créditos para falar com ele. Como visto acima, sou cara-de-pau o suficiente para ligar a cobrar, mas com o Corrales isso não funcionaria, porque ele não põe créditos no celular. Solução: ligar a cobrar para o meu pai, pedir para ele colocar créditos e então ligar para o Corrales.
Dez minutos depois, consigo ligar para o chefe. “Corrales, eu cheguei a um shopping, mas não tenho certeza se é aqui”, comecei. “Você pegou o endereço certo?”, respondeu, preocupado, o ditador. Após explicar que eu não tinha mais certeza sobre isso e que estava procurando o tal cinema em dois lugares diferentes (um shopping e um hotel), o Corrales diz a frase que mais me abalou desde que me tornei delfiano: “O Kinoplex não fica em shopping. Fica na rua.”
Uma pequena pausa para o obrigatório holy fuck.
HOLY MEGAFUCK FUCKIN’ FUCK!
Olha, delfonauta, quando o assunto é direção, coordenadas, coisas assim, eu recomendo não confiar muito no Corrales. De qualquer forma, ele sugeriu que eu me informasse com alguém. Consegui conversar com uma segurança próxima, que se revelou exageradamente simpática e até me chamou de senhor. Carambolas, meu. Juro que não pareço velho assim, mesmo com os cabelos brancos. Fui informado por ela que o Kinoplex realmente existia no shopping, e que o melhor jeito para chegar até lá seria usar o elevador.
Chegando ao quinto piso (agora são 9h50), encontro o cinema fechado sem nenhum jornalista ou assessor por perto. Isso me deixou desesperado, mas resolvi perguntar a outra segurança deste andar, também muito educada, se haveria uma sessão do filme Agamenon ali. Ela respondeu que não sabia e que geralmente é avisada sobre esses eventos, mas eu poderia me informar no Mezzanino do shopping sobre isso. Mais do que isso: ela poderia me acompanhar até lá. Logicamente, sabendo como a mulherada anda assanhada hoje em dia, eu fiquei assustado com uma sugestão dessas e, após dar uma desculpa qualquer, saí correndo de lá. Resolvi voltar ao hotel, que se chama Caesar Park e Caesar Business, e tentar descobrir se a sessão seria lá, por mais que isso não fizesse sentido.
O QUE TEM DE IMPORTANTE NO MEZZANINO, AFINAL?
Neste momento, comecei a deduzir que existe mais de um Kinoplex em São Paulo (sinistro, delfonauta) e que eu definitivamente estava no errado. Essa teoria, no entanto, não explicava o endereço do hotel que eu havia anotado: eu poderia ter até errado o número, mas a rua, pô?
Após escolher aleatoriamente uma das três entradas do hotel, perguntei a uma moça da recepção se haveria algum evento do filme As Aventuras de Agamenon: O Repórter. Ela confirmou e disse que seria no Mezzanino. Aliviado, pensei: “Hum… é a segunda pessoa que me manda ao Mezzanino. Um dos dois mezzaninos vai resolver meus problemas”.
Chegando ao Mezzanino do hotel, tenho uma grande crise de identidade: vejo um monte de gente alta usando ternos, gravatas, essas roupas de gente importante. A indumentária jornalística, delfonauta, é normalmente bem simples: jeans e camiseta, como eu estava usando. Assim, fui tirar dúvidas com algumas funcionárias que estavam em uma mesa no corredor. “Não, não é do filme Agamenon, não. Você pode ver todos os eventos na placa em frente ao elevador”, disse uma das mulheres.
Placa em frente ao elevador? Juro que não notei isso. Ok, ela existia mesmo e lá fui eu feliz verificar para qual lado deveria ir. As direções da placa eram precisas, delfonauta: “Para a direita – Sala 1: Agamenon. Sala 2: Agamenon. Sala 3: Evento de ricaços. Para a esquerda – Sala 7: Agamenon. Sala 8: Agamenon.” Só para provar que eu não estou sacaneando, na galeria você confere a tal placa que eu encontrei no Mezzanino do hotel.
Resolvi fazer o que uma pessoa perturbada como eu faria e saí checando todas as salas do andar. Eventualmente, descobri uma sala com os cartazes do filme, porém, ela estava vazia. Foi aí que eu tive uma luz: “hey, apenas a coletiva deve ser aqui! Por que, então, eu não anotei o endereço do Kinoplex?”
Daí eu lembrei o que o Corrales havia dito e comecei a suar frio. Eu tinha o endereço do local onde seria realizada a coletiva, mas não do Kinoplex. O que mais eu poderia fazer, delfonauta? Voltar ao shopping Vila Olímpia e pelo menos confirmar que o filme não seria lá mesmo.
SE NESTE INTERTÍTULO NÃO RESOLVER, PARO POR AQUI MESMO
Neste ponto, mais do que preocupação, minha expressão facial demonstrava dúvida. Foi assim que voltei até o shopping, subi até o quinto piso e, dando de cara com a segurança anterior, a mesma da qual eu havia fugido poucos minutos antes, apenas gesticulei um “ué” com a boca e os braços. Ela reagiu com uma cara de wtf. Perguntei se alguma assessora ou outros jornalistas haviam chegado. A resposta dela foi não, claro, mas ela disse que conversaria com a “central” para ver se não haveria exibição do filme mesmo.
Ela pareceu visivelmente irritada quando a “central” não entendeu o que ela havia perguntado (e ela havia explicado direito). Após ela repetir praticamente a mesma mensagem, a “central” ficou sem responder. Eram 10h10. Eu perguntei à segurança se não existia outro Kinoplex nas redondezas: ela respondeu que sim, mas que não ficava perto. Comecei a me preparar emocionalmente para correr loucamente até o outro Kinoplex, que eu não sabia e ainda não sei onde é, quando um jornalista apareceu perguntando se haveria exibição de As Aventuras de Agamenon: O Repórter ali. “Bem, não fui o único perdido, pelo menos”, foi meu raciocínio.
Segundos depois, surge a assessora do evento com alguns jornalistas e, finalmente, fica confirmada a exibição do filme no Kinoplex do Shopping Vila Olímpia, no qual eu estava. Após o miraculoso “ufa!”, fiquei conversando com alguns colegas de profissão, que vieram de outros estados para cobrir o filme e não tiveram nem 10% da dor de cabeça que eu tive para achar o fuckin’ cinema. A sala foi aberta mais ou menos às 11h.
Chegando lá, os jornalistas se depararam com cadeiras excessivamente luxuosas. Como nessa nossa profissão ninguém tem mordomia ou dinheiro, falta conhecimento também de como transformar as maravilhosas poltronas do Kinoplex em camas confortáveis. Quem descobria como mexer nelas compartilhava a informação com os outros colegas. Outra alegria foi a presença de mesinhas em cada poltrona. Os jornalistas ficaram super felizes (eu incluso) por poderem fazer anotações durante o filme.
Quase 11h20, um jornalista de 40 – 50 anos chega e fala revoltado com outro que estava sentado em uma fileira atrás de mim. “A cabine atrasou porque o pessoal foi lá no Kinoplex do Itaim. Eu abri o e-mail, vi Kinoplex, fechei e fui até o Kinoplex, oras.” Aos poucos, lotava-se a sala de jornalistas, e nenhum deles soube como fechar as poltronas na saída, quando a sessão do As Aventuras de Agamenon: O Repórter acabou.
Logo após a sessão, que terminou às 12h30, a assessora nos informou que a coletiva ocorreria no hotel e que já podíamos nos dirigir até lá. Missão cumprida! Será?
Amanhã, você confere o texto da coletiva de imprensa, extremamente engraçada, que contou com a presença de Marcelo Madureira e Hubert Aranha, os caras do Casseta & Planeta, além do diretor Victor Lopes, o ator Marcelo Adnet e o produtor Flávio Zambellini. Já a resenha do filme sai amanhã também, mas um pouco mais tarde. Não deixe de conferir e se divertir ainda mais! =)
CURIOSIDADES PATETAS:
Obs.: no dia seguinte à cabine, quando eu comecei a contar ao Corrales a aventura de procurar pelo Kinoplex correto, ele perguntou assustado: “Não era na Rua Joaquim Floriano?”. É, delfonauta. Ainda bem que o Corrales não foi porque, caso contrário, teríamos DOIS textos de patetadas em um dia só, e isso seria muito grave para a história delfiana.
Obs2.: Sim, nós aqui do DELFOS somos patetas, mas o que provavelmente induziu todos ao erro foi que a assessoria enviou um e-mail informando primeiro que o filme seria exibido no Kinoplex (sem dizer que ficava localizado no Shopping Vila Olímpia) e, apenas abaixo, havia a informação sobre a coletiva no hotel. Este é o efeito do Kinoplex nas pessoas, delfonauta. Não deixe que ele faça o mesmo com você.
Para quem chegou tarde, confira os textos da coletiva e a resenha do filme:
– A coletiva de imprensa do filme As Aventuras de Agamenon: O Repórter: Prepare-se para rir das palhaçadas do pessoal do Casseta.
– A resenha do filme As Aventuras de Agamenon: O Repórter:
A culpa realmente foi do charuto do Winston Churchill!