Eu odiaria ser criança hoje em dia. Faço essa afirmação depois de constatar que os filmes destinados à criançada não são mais como eram antes. O mais novo exemplar a aportar nos cinemas, Aquamarine, é prova disso.
Pode ser que meus gostos tenham mudado e se eu assistisse Os Goonies pela primeira vez agora, depois de velho e acabado, talvez eu não gostasse. É uma possibilidade, mas não creio que seja isso. É o modo como essas produções são feitas agora, seguindo sempre a mesma fórmula politicamente correta, usando sempre o mesmo tipo de humor sem sal e utilizando uma linguagem do tipo MTV, como se de outra forma o público-alvo não aceitasse.
Vejamos o caso de Aquamarine: Claire e Hailey são melhores amigas, mas Hailey está prestes a se mudar para a Austrália contra sua vontade (sua mãe foi transferida no trabalho). Elas passam os últimos dias juntas num clube de praia dos avôs de Claire. Durante um temporal, uma sereia vai parar na piscina do clube e é encontrada pela dupla. A sereia, Aquamarine, fugiu de casa para encontrar o amor, e gama pelo salva-vidas gente boa da praia. Se Claire e Hailey ajudarem Aquamarine a ficar com o garoto, a sereia lhes concederá um desejo, que pode ser Hailey não ter de partir.
Mas espera aí, como as duas farão para juntar um humano com uma garota que tem rabo de peixe? Se você for um roteirista meia-boca de Hollywood, a solução é simples: Aqua consegue transformar sua cauda em bem torneadas pernas durante o dia. E ela permanece como uma humana normal até o pôr do sol ou até se molhar, aí ela volta a ser meio peixe. Ou seja, a fraqueza da mina é a mesma de um Gremlin.
Enfim, a história é bobinha e manjada assim mesmo, a montagem do filme é moderninha (no mau sentido), com cenas aceleradas, tomadas curtas e cortes rápidos e a trilha sonora é típica da já citada MTV, repleta de músicas insossas que mais parecem uma canção só, incluindo uma cover horrorosa para Island in the Sun, do Weezer (que é muito legal em sua versão original), tocada por uma banda fictícia e que permeia um momento chave da projeção.
E mais, a única risada garantida da película é completamente acidental. Na cena onde Claire cai na piscina e vê Aquamarine pela primeira vez, a tal da piscina parece ser grande e funda para caber uma sereia de cauda enorme e para Claire ficar completamente debaixo d’água. Aí, o salva-vidas sonho de consumo das garotas pula para resgatar Claire, agarra-a e levanta, revelando a água na altura da cintura! Manja o clássico episódio do Chaves em Acapulco, quando o Quico se afoga na piscina das crianças pequenas? Pois é, essa cena chega a ser quase uma homenagem.
Bom, acho que com isso encerro o meu caso a respeito de Aquamarine. Mas só pra acabar com qualquer possível dúvida, se você não for uma menina de 10 anos, este filme não é para você. E se você, de fato, for uma menina de 10 anos, ainda assim eu pensaria duas vezes antes de arriscar uma sessão dessa xaropada.