Em 2012, foi lançado o filme dinamarquês A Caça. Trata-se de um filme bem legal que demonstra os efeitos de uma acusação sexual na vida de um professor. Aos Teus Olhos se diz inspirado na peça espanhola O Princípio de Arquimedes, mas eu diria sem medo de errar que A Caça deve ter sido citado com frequência durante sua produção.
Aqui conhecemos o professor de natação Rubens, interpretado por Daniel de Oliveira. Ele é acusado pelo pai de um de seus alunos de ter beijado o moleque na boca. O filme acerta em não mostrar se isso de fato aconteceu, e sequer vemos o menino contando tudo para os pais. A história começa depois que o incidente aconteceu, mas antes da denúncia, e a partir daí acompanha as ramificações do caso.
A CAÇA
Acusações de desvios de conduta sexuais são bastante graves na nossa sociedade. Assim, tanto A Caça quanto Aos Teus Olhos visa discutir o pré-julgamento das pessoas acusadas desses crimes. É algo complicado, que deve ser levado bastante a sério, mas o mesmo pode ser dito de qualquer outro crime. No entanto, a sociedade costuma expurgar as pessoas acusadas de crimes sexuais antes mesmo de seus julgamentos, e com maior veemência até do que de outras coisas igualmente horríveis, como assassinatos.
Sinceramente, eu não sei como agiria se estivesse nos sapatos de qualquer um dos personagens desses filmes. Eu sei que não agiria como a diretora que, ao ser abordada pelo pai do moleque sobre o ocorrido, disse que não faria nada a respeito. Mas também convenhamos que não é certo escrever “pedófilo” no carro de um sujeito baseado apenas em uma denúncia que pode ser falsa, antes da devida investigação.
O South Park, sempre ele, já tirou sarro disso. Quando os meninos do desenho percebem o poder de acusar seus pais dessas coisas, todos fazem essa acusação e em questão de dias a cidade está livre de adultos, como eles planejaram.
Mas ao mesmo tempo, se você age como a diretora e se recusa a investigar o caso, estaria permitindo que o caso se repetisse. É preciso cautela, como em quaisquer outras investigações da justiça.
AOS TEUS OLHOS
O filme aborda o tema de forma bem coerente e tridimensional, mostrando todos os lados do conflito de forma igualmente desenvolvida.
Sua direção, a cargo de Carolina Jabor, também é bastante estilosa. Com seus planos fechados e longos, contribui bastante para o clima claustrofóbico e agonizante da história.
Como já é tradição no cinema nacional, o ponto fraco são as atuações, que incomodam bastante. Elas estão naquele padrão Globo de qualidade, no entanto, então se isso não te incomoda nas novelas do plim-plim também não vai incomodar aqui.
O que realmente custou ao filme alguns saborosos pontinhos é seu final. Ele simplesmente não acaba. E não quero dizer que ele tem um final aberto. A projeção simplesmente para quando você acha que o filme está no coração de seu desenvolvimento.
Isso não estraga totalmente Aos Teus Olhos, mas de fato ele carecia de um final mais desenvolvido. Caso você não saiba como terminar uma história, você não pode simplesmente parar de contá-la, precisa pensar mais nela até chegar a uma conclusão apropriada. Já pensou se eu não soubesse como terminar esta resenha, e simplesmente paras
Sim, eu sei que já fiz essa piada, mas não resisti.