A mitologia nórdica anda em alta no mundo dos games. Outro dia tivemos God of War. Antes disso, Hellblade. Antes ainda, Jotun. E agora, a mesma temática está disponível para os gamers de console em Through The Woods.
Porém, uma coisa diferencia Through The Woods de todos os outros supracitados: aqui a história acontece no mundo real. A protagonista do jogo não é uma guerreira, uma deusa ou algo do tipo. Ela é apenas uma mãe que teve o filho raptado. Acontece que ao ir atrás do pimpolho, ela se vê envolvida em uma trama envolvendo criaturas mitológicas nórdicas.
MITOLOGIA NO MUNDO REAL
Esta é a grande sacada de Through The Woods. Temos aqui um jogo de terror bastante inspirado por Outlast, mas ao invés de você ser perseguido por pessoas, seu caçador é alguma besta nórdica. Isso traz uma variação muito bem vinda.
Afinal, cada criatura age de uma forma. O primeiro inimigo a dar as caras é atraído pela luz da sua lanterna, enquanto o segundo é repelido por ela. Isso deixa o jogo menos repetitivo do que Outlast, e é somado ao fato de que seu timing é bem melhor.
Nas minhas resenhas de Outlast, eu reclamei que havia perseguições demais. O jogador ia de uma para outra, sem tempo para respirar e portanto sem tempo de sentir medo. Through The Woods tem um andamento bem mais lento. Seus momentos de perigo são bastante pontuais, e normalmente vêm rodeados de todo um contexto.
Em outras palavras, antes de encontrar algum monstro, você vai ouvir seus passos ou sua voz. Em outros casos, vai encontrar textos falando das atrocidades que o bicho aprontou. Tudo isso vai criando um climão e preparando o jogador para o inevitável encontro que, quando acontece, fica bem mais pesado.
Eu considero a sensação de perigo algo importante em um jogo de terror. Você precisa ter a ameaça da morte. Porém, morrer demais quebra o clima. Atividades repetitivas não dão medo. Through The Woods acerta neste aspecto. O medo da morte estará sempre presente, mas não será levado às vias de fato com frequência.
MÁ IMPRESSÃO
Só que até Through The Woods realmente te envolver, você vai ter que lidar com uma péssima primeira impressão. Este simplesmente não é um jogo bonito.
Além disso, há uma crueza técnica indubitavelmente decorrente de um orçamento limitado. É comum que no cinema os filmes de terror sejam feitos com pouca verba, mas isso não é transponível para os games. Efeitos de luz e sombra, tão caros ao gênero, por exemplo, são bem difíceis de fazer. E uma falha nisso afeta o resultado final fortemente.
Isso sem falar em problemas técnicos propriamente ditos. No meu primeiro encontro com um troll, por exemplo, ele empacou no cenário. Ficava com animação de corrida, como se estivesse me perseguindo, mas não saía do lugar. Em outro encontro, um troll ficou voando na minha frente. E, pelos meus conhecimentos de mitologia nórdica, os trolls não têm os poderes do Thor.
Este tipo de coisa afeta fortemente a imersão. E a imersão, você sabe, é o principal elemento para que um jogo de terror realmente dê medo.
Considerando que Through The Woods saiu para PC há dois anos, chama a atenção que ele ainda esteja tão cru tecnicamente falando.
O HOMEM DO SACO
Porém, faça um esforço para passar pela primeira impressão negativa. O que falta ao jogo visual e tecnicamente, ele esbanja em design de som, trilha sonora, clima e história. O filho da protagonista é raptado por um tal de Old Erik, conhecido por raptar crianças. Brasileiros imediatamente vão pensar nele como um Homem do Saco nórdico, mas felizmente a coisa fica mais profunda e interessante ao longo do jogo.
Também é muito legal o fato de você ser uma pessoa saída do mundo real que se vê lidando com circunstâncias sobrenaturais. Não me lembro de ter visto esta abordagem em um terror com criaturas mitológicas, apenas com fantasmas e coisas do tipo. Isso separa Through The Woods daquele monte de simuladores de casas mal-assombradas disponíveis.
Algo que me incomodou e que preciso falar aqui é quão escuro ele é. Você sempre carrega consigo uma lanterninha, mas mesmo assim, eu me vi obrigado a colocar o brilho do jogo no máximo só para conseguir enxergar algo. E mesmo assim ele ficou escuro pra caramba. No cinema, quando o filme é escuro demais, é para esconder seu orçamento limitado. Talvez este seja o objetivo aqui, mas é um problema grave quando você não enxerga que tem uma parede na sua frente e fica andando na direção dela.
THROUGH THE WOODS
Este é um jogo relativamente curto. Eu o joguei do início ao fim em uma tarde, e considerei uma duração bem apropriada. Isso permite manter o ritmo em alta, sem se arrastar desnecessariamente.
Curiosamente, quanto mais fundo eu ia em Through The Woods, mais gostava dele. No início, sua crueza técnica e visual feio me desanimaram consideravelmente, mas conforme avançava e me envolvia em sua história e em sua excelente atmosfera, mais o considerava uma obra especial.
Desta forma, o recomendo para qualquer fã de jogos de terror. Você vai precisar olhar para o outro lado em algumas de suas arestas técnicas, mas isso será recompensado com uma aventura assustadora e bastante única.