The Crew Motorfest é uma grande surpresa. O primeiro The Crew tinha um diferencial. Era um jogo de corrida, mas antes disso era um RPG. Você precisava upar seu carro para alcançar ou ultrapassar o nível da corrida, ou simplesmente não teria possibilidade de vencer. Parece chato, e era mesmo. Mas era novidade na época. Quando The Crew 2 saiu, não era mais novo. Vários outros jogos de corrida, como Need For Speed, seguiram esta linha. Agora só era chato. Quando The Crew 3, vulgo este The Crew Motorfest foi anunciado, eu só pensei: “sério? Mas por quê?”.
ANÁLISE THE CREW MOTORFEST
E daí vem a surpresa. The Crew não é mais The Crew. Agora é um Forza Horizon. E, sim, eu sei que já usei o título “novos horizontes” em uma análise Forza Horizon. A repetição foi intencional.
Digo mais, meu camaradinha apaixonado por quatro rodas. The Crew Motorfest é, de verdade, superior a Forza Horizon 5, em todos os sentidos. É mais gostoso de jogar, é mais bonito, e sua campanha é mais deliciosamente estruturada. Se tanto, The Crew Motorfest é o que eu queria que Forza Horizon 5 fosse, com a imensa vantagem de estar disponível também para Playstation.
A GALERA FESTIVAL DE MOTORES
A premissa é a mesma. Um festival para amantes do automobilismo está acontecendo e todo o Havaí parou para acomodar os visitantes. Assim, não há pedestres e quase não há trânsito. Toda a ilha está voltada unicamente para o Motorfest. A campanha é organizada em playlists, e aí está a grande sacada. Cada playlist é uma espécie de mini-campanha tematizada e a variação é enorme.
Existe uma playlist focada em carros japoneses. Outra em tunados. Outra, ainda, em corridas no céu e na água. Tem até uma que, embora seja composta de corridas, a ideia é na verdade conhecer o Havaí, e é irrelevante para o progresso se você ganhar as competições.
Cada campanha dessas tem um apresentador, que fala com você durante cada um dos eventos. Dependendo da escolhida, ele vai passar informações sobre a ilha, sobre os carros e sobre a história de ambos. É realmente bacana e interessante. Só é uma pena que não tenha dublagem em português, pois ler legendas enquanto você corre não é tão agradável.
EVENTOS PARA TODOS OS GOSTOS
Em uma campanha com tanta variação, não dá para dizer que é tudo igualmente bom. Eu realmente achei, por exemplo, as playlist de drift e a da Donut Media muito inferiores às outras. Ao mesmo tempo, a de conhecer o Havaí é uma delícia, a de Off-road e de bikes são extremamente empolgantes e as (infelizmente poucas) corridas de barco são deliciosamente diferentes. Estas exigem usar o nitro quando o barco pular devido às aguas bravas, o que coloca um desafio de timing bem único para estes eventos.
Da mesma forma, as campanhas japonesas, focadas em eventos típicos de Tóquio e em carros tunados, têm o maior sabor de Need For Speed Underground, uma série que sei que deixou saudades em muita gente. Estas corridas, que acontecem à noite, em ruas cheias de cores, têm alguns dos visuais mais impressionantes do jogo.
Mas o visual é sempre impressionante. Não tinha um minuto que eu passasse com The Crew Motorfest sem algo legal para ver, um detalhe impressionante ou a simples beleza absurda dos gráficos.
A SIMPLES BELEZA ABSURDA DOS GRÁFICOS
Um tempo atrás, estava vendo um documentário sobre a Ninja Theory e o Heavenly Sword, e eles falavam que queriam fazer um jogo bonito. E, de fato, Heavenly Sword é até hoje um dos jogos mais bonitos já feitos. Os gráficos evoluem com o tempo, mas os videogames em geral têm uma tara em mostrar futuros apocalípticos, cidades destruídas, ou áreas industriais em decadência. Existe muito pouco esforço em criar um cenário realmente paradisíaco, algo em que realmente tenhamos prazer de explorar e visitar, mesmo sem um contexto narrativo.
É aí que Heavenly Sword, e também The Crew Motorfest, se encaixam. O Havaí é um lugar lindo, e isso é realmente levado aos 11 pela Ivory Tower, que construiu aqui algumas das mais belas paisagens que já tive o prazer de ver em games. E isso deixa ainda mais especial playlists como a de conhecer o Havaí, cujo foco é no turismo virtual, no sightseeing, e não na competição.
Isso se estende ao próprio roteiro. Quase toda história envolvendo competições na cultura pop tem um babaca, um vilão. Até o filme Gran Turismo, que tem personagens baseados em pessoas reais, caiu nessa armadilha. Mas não precisa ser assim. Rivalidades podem existir, mas em geral quem está nessas competições é profissional. A narrativa de The Crew Motorfest é praticamente livre de conflitos. Todo mundo está lá para compartilhar o amor por carros e por natureza. Para usufruir das maravilhas que estes dois pilares proporcionam. Não para brigar. Não para ser melhor que os outros. E isso se reflete na delícia que é passar uma tarde inteira saboreando o Havaí através de The Crew Motorfest.
MUNDO ABERTO E MICROTRANSAÇÕES
The Crew Motorfest, como quase todo grande AAA atualmente, tem monetização agressiva, e um mundo aberto que só serve para justificar isso. Sim, existem upgrades, e vários veículos que são vendidos (por moeda do jogo ou por dinheiro real). Estes “carros próprios e tunados” basicamente só são usados no mundo aberto, e o mundo aberto só existe para justificar estes gastos.
Quase todos os eventos propriamente ditos te colocam em um veículo pré-selecionado. Isso é perfeito, pois significa que cada atividade foi tunada para aquele carro em questão. Assim, a Ivory Tower evita a armadilha dos outros The Crew, em que você entrava em uma corrida sem possibilidade de ganhar porque ainda não teve acesso aos upgrades necessários.
MUNDO ABERTO PRA QUÊ?
Algumas playlists só permitem entrar depois que você comprar veículos específicos. Estes eventos continuam usando empréstimos e muito raramente utilizam os veículos comprados. Isso trava parte do jogo de cara, mas se você for esperto, consegue gastar o dinheiro que ganha APENAS nestes veículos, e assim fazer a campanha inteira sem problemas. Foi o que eu fiz.
PARA MICROTRANSAÇÕES, UÉ!
O mundo aberto, então, é completamente inútil. Tem aquelas atividades genéricas, como passar rápido por câmeras de velocidade, ou fazer um trecho em ziguezague. Nada que você não tenha visto antes. E realmente tenho minhas dúvidas se alguém realmente passa um tempo considerável em jogos de corrida de mundo aberto fazendo essas coisas. A não ser que queira a platina, claro.
As playlists são sequências lineares. Você escolhe uma e vai seguindo os waypoints de um evento para o próximo. Como dá para usar avião no mundo aberto, basicamente é isso que você vai fazer. Depois de uma corrida, ativa seu avião, vira para o waypoint e vai em linha reta, só esperando chegar. Por isso, o mundo aberto não passa de uma tela de carregamento glorificada.
O jogo eventualmente permite fast travel direto para as corridas, mas só quando você tiver terminado quase todas as playlists. Se essa possibilidade existisse desde o início, creio que a maioria das pessoas jamais interagiria com o mundo aberto, e muito menos gente gastaria nas microtransações. E vale o comentário: o fast travel é lindo e rápido, basicamente um zoom in no lugar escolhido. É o poder do SSD.
DIED ON THE CROSS, THAT AIN’T FUNNY
Existir toda uma quantidade de conteúdo que só existe para vender coisas extras realmente incomoda. Tipo nosso tempo é sacrificado não para um jogo melhor, mas para poder faturar mais. Mas é uma realidade da indústria. Felizmente, a possibilidade de pegar um avião e ir para qualquer lugar da ilha rapidinho e com pouco esforço, deixa o mundo aberto menos incômodo do que o normal. Mas não dá para negar que The Crew Motorfest poderia ser o melhor jogo de corrida da história se seguisse o estilo “escolha corridas pelo menu” de Dirt 5. É uma pena que não seja.
SE PUDER, JOGUE THE CREW MOTORFEST NO PLAYSTATION
The Crew Motorfest está disponível para Playstation, Xbox e Windows. Eu só testei a versão de PS5, mas estou confiante que esta deve ser a melhor versão do jogo. E digo isso por causa do uso que ele faz do controle Dualsense. Não apenas a vibração é muito bem feita, mas o auto-falante do controle faz TODA a diferença.
Alguns barulhos específicos do seu veículo saem do controle, o que aproxima o som do jogador/motorista. Isso é o melhor uso de uma função quase esquecida do controle do Playstation desde Dying Light 1, que colocou o barulho de recarga das armas no controle. Não entendo porque isso não é mais utilizado, pois as possibilidades são infinitas. Para quem joga em estéreo, fica com 50% de canais de áudio a mais. E mesmo para quem já tem um sistema surround, ter uma caixinha de som nas mãos abre espaço para ideias que um home theater simplesmente não contempla.
Tenho certeza que as outras versões de The Crew Motorfest são ótimas também, e você vai se divertir com qualquer uma delas. Mas se puder escolher, recomendo fortemente a de Playstation por causa do uso do controle. E se você tem SÓ um Playstation, agora chegou a possibilidade de você ter um Forza Horizon melhorado para chamar de seu. The Crew Motorfest é uma grande surpresa e consegue a façanha de transformar uma franquia de corrida xexelenta no melhor jogo do gênero de 2023. Se você tem necessidade por velocidade, este é o jogo que você quer jogar este ano.
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