O gênero FPS mudou bastante desde que jogos nessa linha eram chamados de “Doom clones”. Apesar de também ser FPS, é inegável que Call of Duty Vanguard é totalmente diferente do Doom clássico. Porém, o gênero vem passando por um revival. Tivemos interpretações modernas do próprio Doom com Doom Eternal e Doom (2016). E veja só, tudo isso está diretamente relacionado à nossa análise Serious Sam 4.
ANÁLISE SERIOUS SAM 4
A gente já falou de Serious Sam por aqui. Inclusive lá na época de outrora. Apesar de já ter quase tantos jogos quanto o próprio Doom, a série Serious Sam mudou bem menos. Serious Sam 4 é mais moderno, com gráficos mais elaborados, gameplay com novidades e tudo mais. Mas é também bastante familiar para quem jogou o primeiro da série. E, especialmente, para quem acompanhou o surgimento do gênero FPS com Wolfenstein e Doom.
Os FPS evoluíram para o combate a longo alcance. Você normalmente atira em pontinhos distantes. Um gênero que se diferenciava pelo combate visceral com escopetas altamente poderosas agora foca em metralhadoras e snipers. Os Dooms modernos focaram em trazer o gameplay old-school de volta, mas são muito mais táticos e estratégicos do que Doom e Doom 2. E esse é o ponto em que eu queria chegar. Serious Sam 4 é mais próximo de Doom 2 do que o próprio Doom Eternal.
ARE YOU SERIOUS?
E ele consegue isso sendo basicamente igual ao Serious Sam de 2001. Há novos inimigos, novas armas e outras novidades de gameplay menores, mas Serious Sam 4 tem muito que está presente na série desde o primeiro jogo. E isso é ótimo. Convenhamos, os kamikazes que vêm correndo e gritando na sua direção estão entre os inimigos mais marcantes dos games.
O mesmo pode ser dito da escopeta, uma das armas mais crocantes e poderosas de outrora, que é aqui tão útil – ou mais – do que nos jogos clássicos. Temos aqui a escopeta dupla, basicamente igual à super shotgun de Doom 2, mas a possibilidade de usar duas ao mesmo tempo elimina seu único problema: a taxa de tiros. Aqui você pode alternar os tiros com a esquerda e com a direita, podendo atirar quase sem pausas, destroçando inimigos com ataques largos e poderosos.
Claro, contra grupos maiores – o que Serious Sam 4 traz de monte – uma arma mais rápida, como uma minigun, pode ser mais útil. Mas admito que eu sempre voltava para as duas escopetas duplas, simplesmente pelo prazer enorme de usá-las.
ANÁLISE SERIOUS SAM 4: RUN AND GUN
Os jogos de tiro hoje em dia são do estilo stop and pop. Ou seja, você para, mira um headshot cuidadosamente, e atira. Serious Sam 4 é orgulhosamente run and gun. Embora seja possível mirar com boa parte das armas – e tem até um sniper no arsenal – ele é focado em movimento. Você está sempre recuando e atirando em dúzias, às vezes centenas, de inimigos que correm na sua direção. E os inimigos explodem em pedacinhos sangrentos de forma absurdamente satisfatória. Dá até para trocar o sangue por estrelas, flores e outras coisas que mudam o efeito, mas ainda são satisfatórias.
Para melhor aproveitamento, recomendo ativar a ajuda de mira/aim assist. Esse auxílio é bem generoso, e imagino que vai ter gente que vai torcer o nariz. Porém, jogar com isso ativado deixa Serious Sam 4 ainda mais gostoso. Como você está sempre em movimento e em alta velocidade, é mais legal simplesmente mirar na área geral do inimigo e ver os bichos explodindo.
UM CONTRA MIL
Aliás, Serious Sam 4, como é desde o início da série, é focado em combate contra um montão de inimigos ao mesmo tempo. Mesmo inimigos grandes, com jeito de poderosos, morrem rápido, dando a sensação de que as armas do herói são muito fortes. E como eles vêm sempre em dúzias, acaba sendo até difícil atirar sem acertar em ninguém.
Assim como nos Dooms modernos, você deve priorizar eliminar os mais perigosos primeiros. Em outra lição que ele trouxe de Doom, estão as glory kills, ou seja, se aproximar de um inimigo fraco ou tonto e apertar R3 para matá-lo de forma estilosa e ganhar saúde de volta. Porém, se em Doom fazer isso recupera toda ou quase toda sua vida, aqui você ganha só uns dois pontos, o que não faz diferença nenhuma. Foi uma oportunidade perdida.
VIDAS E CHECKPOINTS
Serious Sam 4 é bem generoso com seus checkpoints. Ele salva com frequência, inclusive no meio de batalhas longas. Porém, isso traz um problema grave. Ele salva tudo – inclusive sua munição e vida. Ou seja, o último checkpoint pode deixar preso diante de uma batalha sem recursos suficientes para vencer. Isso é um grande problema, mesmo ele guardando vários autosaves ao mesmo tempo (o que possibilita voltar mais se desejar).
A forma que eu lidei com isso foi aquela tradicional estratégia de alguém que não tem tempo a perder. A menor dificuldade, chamada de “turista”, deixa o jogador praticamente invulnerável, e ainda recupera vida sozinho. Quando um save me deixava mais fraco do que eu gostaria, simplesmente me tornava um “turista” e em pouco tempo estava com a vida cheia de novo. Cabe a você decidir se isso é uma estratégia legal ou se prefere encarar com maior trueza. E fique avisado: o jogo inteiro na menor dificuldade é absurdamente fácil. Porém, a última missão, mesmo para os turistas é muito difícil.
ANÁLISE SERIOUS SAM 4 E OS PROBLEMAS DE PERFORMANCE
Após o lançamento em 2020 para PC e Stadia, Serious Sam 4 saiu exclusivamente para os consoles da nova geração. Legal, né? Deve ser um jogo super elaborado, o ápice da tecnologia. Infelizmente, não é o caso.
O visual de Serious Sam 4 é bastante inferior a jogos da geração passada, como Death Stranding ou The Last of Us Part 2. Porém, ele é extremamente mal otimizado, e esse é o motivo pelo qual só existem versões para PS5 ou Xbox Series.
MODO PERFORMANCE? ONDE?
Serious Sam 4 tem duas modalidades gráficas. Performance, acredite, roda no que acredito ser 30 fps, e ainda de forma não estável. Graphics melhora o visual, porém a performance é simplesmente não jogável. Sem exagero, a performance nesse modo é tão ruim que me deixou enjoado, como se fosse um jogo de VR. Mudando para o modo Performance a coisa fica suportável, mas muito longe do que normalmente vemos em jogos com esta opção. Caramba, Halo Infinite roda a 120 fps com gráficos muito mais elaborados. Sei que há uma diferença enorme de orçamento, mas não entendo porque Serious Sam 4 não consegue rodar a 60 fps com um visual tão simples. E o gameplay rápido e intenso praticamente exige isso.
Outro problema é o carregamento. Mesmo no SSD do Xbox Series X, as fases de Serious Sam 4 demoram cerca de um minuto para carregar, sendo portanto o jogo next-gen com carregamento mais lento que eu já vi. Fico pensando na situação de um carinha que comprou um console de nova geração e escolheu Serious Sam 4 como seu primeiro jogo por ser exclusivo dela. Esse coitado hipotético vai entrar no jogo esperando loads instantâneos e performance impressionante e vai encontrar… isso. Embora a obra da Croteam seja muito legal, sua performance é inaceitável, especialmente para o visual que tem.
ANÁLISE SERIOUS SAM 4: MUNDO ABERTO
A maior parte de Serious Sam 4 é linear. Os cenários são grandes, mas há vários pontos do caminho em que você é afunilado por uma entrada, que só abre depois de exterminar tudo que se mexe. Porém, há duas fases lá no meio da campanha que te jogam em um cenário enorme e te dão um veículo. O objetivo principal é sempre claro, mas há sidemissions e outras coisas para pegar. Em especial, a primeira dessas fases rouba todas suas armas, então é bom explorar simplesmente para recuperá-las.
LINEAR COM DESVIO
As fases lineares também têm desvios, que a gente pode chamar de sidemissions. Em geral, caso você decida fazê-las, vai seguir por um caminho à parte, que provavelmente vai terminar em uma grande batalha. Vença e ganha uma recompensa. E o lado ruim? Depois de cumprir a missão, você precisa fazer todo o caminho de volta. Um atalho ia muito bem nessas missões.
Particularmente, você sabe que eu nunca vejo com bons olhos quando um jogo linear se torna aberto. E as duas fases em questão de Serious Sam 4 são de longe o ponto mais fraco da campanha. E com pior taxa de quadros, atingindo 10/15 fps mesmo no modo performance. Felizmente, depois delas vêm alguns dos capítulos mais legais do jogo.
O HUMOR DO SAM SÉRIO
Se tem uma enorme evolução do primeiro jogo a esse é o humor. Serious Sam, pelo menos na minha memória, era um cara meio babaca, estilão Duke Nukem. Em Serious Sam 4, ele é muito mais próximo de um Obelix. Ou seja, é marrento, gosta de dar porrada, mas tem uma inocência e uma bondade que o tornam bem carismático.
E o humor é um grande diferencial do jogo. A coisa é bem boba, e infame até não poder mais (tem piadas que poderiam estar no Chaves). E eu sei que esse estilo não agrada todo mundo, mas eu gosto e diria que a soma do gameplay crocante com o humor constante deixou a campanha bem agradável.
Assim, Serious Sam 4 tem uma campanha que foi uma delícia de jogar, responsável por me fazer sorrir várias vezes. Mas os problemas de performance são graves a ponto de eu entender se algumas pessoas o classificarem como “não-jogável”. Espero que a Croteam consiga otimizar melhor o jogo nos consoles, mas não tenho muita esperança, uma vez que ele saiu desse jeito mesmo estando disponível no PC há mais de um ano. Se um ano de otimização não deixou o jogo rodando liso, acho que nada vai deixar. Mas se você conseguir jogar apesar disso, encontrará aqui uma campanha bem divertida.