Sea of Solitude é um caso raro de um jogo indie e pessoal que conseguiu ser publicado por uma grande editora, no caso, a EA, via seu selo EA Originals. Isso possibilita que ele tenha um orçamento maior do que um indie padrão. Não é o caso de ser um AA, como Hellblade, mas foi o suficiente para, como você vai descobrir nesta análise Sea of Solitude, ter gráficos em 3D e história totalmente falada.

FOREVER ALONE Análise Sea of Solitude

Esta é a história de Kay, uma jovem mulher que está lidando com os problemas da sua vida através de metáforas fantasiosas. Mais especificamente, ela está navegando em um pequeno bote por uma cidade inundada que lembra Veneza. O lugar tem um visual cartunesco e colorido, mas também é perigoso, sendo habitado por monstros gigantes.

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Forever Alone de pés molhados.

Um dos monstros tenta comê-la sempre que ela entra na água. Outro insiste em insultá-la por sua inação. Mas nem todos os monstros são agressivos. Não demora para aparecer um enorme pássaro com olhos tristes. Estes monstros representam pessoas importantes na vida de Kay, e todos estão lidando com sérios problemas que ela falhou em perceber. Cabe agora a ela perceber o que os aflige e ajudá-los a seguir em frente.

BULLYING

Não convém no âmbito de um review detalhar todos os monstros e seus problemas, então falemos do primeiro. O pássaro representa o irmão de Kay, que está sofrendo com bullying.

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Há vários outros monstros na história.

Assim, ao longo do primeiro capítulo (que deve responder por quase metade da duração total), você cumpre objetivos relacionados ao pássaro enquanto ouve flashbacks em áudio com situações vividas por Kay e seu irmão. Apesar do tema forte, este é justamente o ponto mais fraco do jogo, graças à total falta de empatia de Kay.

Em determinado momento, Sunny, o irmão, está desabafando, dizendo que não tem vontade de viver. Enquanto isso, Kay está olhando fotos de cachorrinhos no celular. É algo muito absurdo para mim alguém ficar entretido com coisas banais enquanto uma pessoa a seu lado está literalmente falando de suicídio.

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Felizmente, nos capítulos seguintes a personagem se torna mais humanizada, e a coisa melhora bastante.

GAMEPLAY

Sea of Solitude é um jogo narrativo. O foco dele é na história e nos sentimentos que apresenta. Mas, claro, há gameplay.

Em geral você explora um largo mundo linear (pense nas campanhas de Call of Duty) em busca de colecionáveis. Há pequenos puzzles para resolver e cenas de ação simplificadas. Por exemplo, na parte do bullying, você precisa atrair os bullies para uma parte iluminada do cenário.

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Acredito que o mais frequente envolve nadar pela cidade inundada enquanto foge da “baleia”. Nestes trechos, é necessário ir de terra firme a terra firme. Entrar na água faz a baleia começar a nadar na sua direção. Então a ideia é ir de um ponto a outro minimizando o tempo na água.

Durante toda minha campanha, eu fiquei com a sensação de que já vi esta exata mesma mecânica em outro jogo, mas não consigo me lembrar qual é. O mais próximo que consigo recordar é ToeJam & Earl e seus tubarões, mas tenho certeza que já joguei algo em que isso seja tão importante quanto aqui. Se você souber de qual jogo falo, faça a gentileza de refrescar minha memória, pois estou realmente curioso.

PAPO & YO

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Na real, o jogo que Sea of Solitude mais me lembrou foi Papo & Yo. Caso você não se lembre, este foi lançado em 2012 para a geração passada, e foi um dos primeiros destes indies mais pessoais que eu tive o prazer de jogar.

Em Papo & Yo, você joga com um menino que se alterna entre brincar com e fugir de um monstro. O monstro representa o pai alcoólatra e seu relacionamento com o diretor do game.

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Sea of Solitude tem objetivos bem próximos. Sua história é baseada nos relacionamentos da vida real da diretora Cornelia Geppert. Considero que este tipo de jogo tem um valor artístico enorme, e histórias como esta ficam ainda mais poderosas em uma mídia interativa do que em uma apenas narrativa.

Se isso também lhe apetece, Sea of Solitude é uma experiência que merece ser vivida.