Se você me perguntasse até outro dia se eu já tinha jogado Sam & Max Save the World, eu diria que não. Tirando o clássico Sam & Max Hit the Road, eu diria que só joguei The Devil’s Playhouse. Curiosamente, quando comecei a jogar para fazer essa análise Sam & Max Save the World Remastered, ele me pareceu tão familiar. Será que já tinha jogado?
Ora pois, só depois de muito pensar me veio a memória. Sam & Max saiu para o Wii em uma coletânea com duas temporadas, e foi lá que eu joguei Save the World. Joguei o primeiro episódio e parei. E eu simplesmente não tinha memórias disso até o Remastered revivê-las. Curioso, não?
ANÁLISE SAM & MAX SAVE THE WORLD REMASTERED
Quando a Telltale estava começando, eles reviveram várias franquias da saudosa Lucasarts com novos adventures point and click. Eles fizeram um novo Monkey Island e, várias temporadas de Sam & Max. Este, que saiu em dezembro de 2020 para Switch em uma versão remasterizada, é a primeira incursão da Telltale no mundo da polícia freelancer.
A Telltale ficou lembrada e querida pelos jogos posteriores, em que eles ajudaram a modernizar o datado gameplay dos velhos adventures point and click. Nesses jogos mais modernos, o foco estava em decisões, não em puzzles cabeçudos. Sam & Max Save the World, no entanto, é um tradicional point and click, com todas as qualidades e defeitos que o gênero trazia desde a época da Lucasarts. Inclusive, ele realmente parece ter sido feito pela Lucasarts.
EU ADORO DAR LAXANTE PARA POMBOS EM DIA DE DESFILE
Os adventures em questão, você sabe, se destacavam por personagens extremamente carismáticos e um humor ao mesmo tempo bobinho e inocente. Mesmo personagens totalmente psicopatas, como o coelho Max, tinham em seu humor um jeitinho infantil. E isso muito me agrada.
É o tipo de história totalmente sem violência, em que tudo tem um jeitinho lúdico delicioso. Durante a campanha de Save The World, você vai fazer muitas maldades, mas nada realmente tem consequências fortes. Por exemplo, se um personagem diz que tem alergia a tomates, você pode ter certeza que seu objetivo será dar tomates para ele comer. Mas ele nunca vai morrer ou sofrer de forma contundente. No máximo, ele vai correr para ir ao banheiro.
Assim, Sam & Max Save the World faz um excelente trabalho em reviver a saudosa dupla treze fuckin’ anos depois de seu até então único e clássico jogo.
UMA TEMPORADA DE SEIS EPISÓDIOS
Você deve saber que eu sempre odiei a moda de lançar jogos em episódios. Porém, Sam & Max Save the World até funciona bem com essa linha. São seis partes, e contam histórias mais ou menos independentes. Todas são relacionadas a hipnose, e é claro que a coisa só é totalmente revelada no final, mas cada episódio tem um final digno.
Isso se contrasta com a forma narrativa que a Telltale usaria posteriormente, em que cada episódio terminava em um cliffhanger para garantir que você continuasse comprando. Ou pior, passasse meses curioso para a continuação.
E ao mesmo tempo funciona bem melhor. Afinal, é inegável que um point and click é mais trabalhoso e cansativo do que uma simples história interativa. Como eu joguei para review, me obriguei a passar pelos seis episódios ao longo de três dias, mas a melhor forma de curtir o jogo é mesmo dando um tempo entre eles.
UM GÊNERO MORTO
Adventures estão entre os gêneros preferidos da minha infância e adolescência. Eu ainda tenho muito carinho por personagens como Sam & Max e Guybrush Threepwood. Dito isso, já questionei por aqui – mais de uma vez até – o quanto esse gênero ainda tem espaço hoje em dia.
Antes dos point and clicks, adventures envolviam digitar verbos. Você precisava digitar coisas como “abrir porta” e torcer para que o comando estivesse programado no jogo. Com o advento das aventuras gráficas, os point and clicks, isso foi simplificado. E a forma anterior praticamente morreu.
Embora haja mais nostalgia por point and clicks do que pelos adventures originais, me parece que a evolução para histórias interativas é algo semelhante. Um jogo do Sam & Max lançado em 2020 seria mais legal como uma história interativa do que como um point and click.
Isso possibilitaria que suas melhores características – o humor e os personagens – brilhassem, sem a frustração de você ter que descobrir que precisa usar item X no exato ponto Y do cenário. Eu não sei você, mas com meu tempo de jogo cada vez mais limitado, hoje em dia eu jogo algo como este com um guia do lado. Se eu não mato como continuar a história num tempo aceitável, eu logo vou em busca de uma solução online.
Afinal, não é pelos puzzles que eu jogo adventures. Nunca foi. Mas antes eu não tinha opção, era no gênero que estavam as melhores narrativas.
PORÉM, ENTRETANTO, TODAVIA
Dito tudo isso, devo deixar claro que, apesar de um início morno, eu acabei me divertindo muito com o jogo. Ele me arrancou várias gargalhadas e me surpreende que não haja mais memes internet afora com frases soltas do coelho Max. O roteiro é simplesmente genial!
Sam & Max Save the World Remastered é o primeiro das remasterizações dos jogos da Telltale sobre a dupla. Particularmente, eu gostaria mais de ver um relançamento do original Hit The Road. Quem sabe um dia? Por enquanto, o coelho psicopata e seu parceiro canino continuam vivos em um gênero morto, mas muito querido, nos revivals criados pela Telltale e remasterizados pela Skunkape Games.