Quando eu era adolescente, heavy metal era algo “do mal”. Perigoso. Conhecer o gênero e ver que na verdade não era nada disso foi parte do apelo que teve em mim. Ainda assim, é bem intrigante ver jogos que são basicamente álbuns conceituais de heavy metal, cheios de cantores famosos, como Of Bird And Cage. Este, claro, é o caso da nossa análise Metal Hellsinger.

ANÁLISE METAL HELLSINGER: E SE DOOM EXIGISSE RITMO?

Metal Hellsinger é um álbum inédito de heavy metal repleto de cantores famosos do gênero. É quase como um trabalho do Avantasia em participações especiais, mas em um estilo mais pesado. Temos aqui vocalistas convidados de bandas grandes, como Arch EnemyTriviumDark TranquilitySoilwork. Ele é também um FPS, com estética e gameplay bem parecidos com Doom Eternal.

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Parece um screenshot de Doom Eternal, mas juro que é de Metal Hellsinger.

Ele tem, porém, uma pegada que o torna bem diferente de sua inspiração. É um FPS de ritmo. Ou, em outras palavras, um Guitar Hero de tirinho.

GUITAR HERO DE TIRINHO

De certa forma, Metal Hellsinger é tão simples quanto Boomerang X. As fases são literalmente arenas separadas por corredores. Você anda de uma luta a outra, mas não há exploração, colecionáveis, nem nada do tipo. Porém, o que muda tudo é que ele exige que todas suas ações sejam feitas no ritmo das batidas da música. Metal Hellsinger é muito mais envolvente que Boomerang X. Assim como você não quer “procurar” pela tablatura enquanto joga Rock Band, aqui a ideia é ir de um combate a outro rapidamente – e sem perder o ritmo.

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Metal Hellsinger incentiva que você fique no ritmo de duas formas. Primeiro, há um multiplicador de pontuação, que aumenta conforme você atira, desvia e pula no ritmo correto. Segundo, o dano de suas armas é MUITO maior se atirar nos momentos certos.

Pode parecer que não. Ver vídeos e imagens de Metal Hellsinger imediatamente remete a Doom Eternal. Mas embora haja essa familiaridade, a ponto de eu acreditar que este não existiria desta forma sem o outro, essa pegada ritmada deixa Hellsinger totalmente único, diferente de tudo que eu já joguei.

É INCRÍVEL, MAS HELLSINGER É AINDA MAIS INTENSO QUE DOOM ETERNAL

E não exagero ao dizer isso, meu compadecido amigo. Enquanto avançava pelas fases de Metal Hellsinger, eu o fazia balançando os pés e a cabeça para não perder o ritmo. Durante os combates, atirava sem parar, pois se perdesse uma batida, seria difícil de recuperar. Mesmo entre uma arena e outra, há uma arma específica que você quer ficar atirando para manter o multiplicador – e a música – quando não tiver inimigos por perto.

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E sim, a música que você ouve depende diretamente do seu multiplicador. Os vocais só aparecem quando você atinge o máximo, 16X. Ao contrário de Rock Band, a turma da dev The Outsiders fez um bom trabalho em aumentar e diminuir a música de forma suave entre seus erros e acertos. Ou seja, perder o multiplicador de 16X não faz o cantor calar a boca imediatamente, o vocal “termina” de forma natural e musical, o que é muito legal.

Eu ficava tão envolto no jogo que, depois de matar o chefe, quando a música finalmente parava, eu me lembrava de respirar. É uma sensação bem diferente e pesada, que faz de Metal Hellsinger um jogo divertido, porém muito cansativo. Do tipo que é melhor usufruído fazendo uma ou duas fases por vez. Aliás, suave é uma palavra vital aqui, pois a trilha de Metal Hellsinger definitivamente NÃO pode ser classificada com essa palavra.

ANÁLISE METAL HELLSINGER: O MAIS PESADO DO METAL

Aqui entro com uma crítica que já fiz a Of Bird And Cage. Estes jogos são feitos pensando no tipo de metal que faz sucesso nos EUA. Ou seja, o lado mais extremo. E eu também gosto disso, mas acho uma pena ser APENAS metal extremo. Ter aqui, por exemplo, uma trinca de cantores como Ralf ScheepersChris BoltendahlMichael Kiske traria uma variação bem maior de estilos do que os que de fato estão.

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Cada fase tem uma música com um cantor diferente. Não há duetos.

De forma alguma eu quero que você pense que tenho algo contra o estilo gutural de cantar. Pelo contrário, cantar assim é muito difícil e exige uma habilidade tremenda. Porém, em questão de estilo e timbre de voz, gutural é gutural, sem grande variação entre os cantores.

Por exemplo, há duas mulheres aqui, Alissa White-Gluz do Arch Enemy; e Tatiana Shmayluk do Jinjer. Porém, elas não só soam muito parecidas entre si, como são quase iguais aos homens, como Mikael Stanne do Dark Tranquility, ou Björn Strid do Soilwork.

Alguns desses, como Alissa e Björn, até cantam limpo em alguns momentos (eu sinceramente nem sabia que a Alissa cantava limpo também). Mas usam muito pouco esse tipo de voz, apenas por alguns segundos. E é incrível pensar que o próprio Björn consegue cantar de forma tão bela quando está curtindo um som mais pop. O cara realmente é bom em vários estilos. Ouça a voz dele na música abaixo, bem mais pop do que o que temos em Metal Hellsinger.

Isso é uma pena, porque, na prática, investiram um dinheirão em um monte de cantores de bandas grandes, mas a sensação que dá é que um único desses cantores faria um trabalho muito parecido por muito menos dinheiro. Caramba, os próprios Alissa e Björn poderiam, sozinhos, ter colocado mais variação em suas músicas do que todos juntos. Comercialmente talvez chamasse menos atenção do que ter um monte de cantores famosos, no entanto. Mas eu adoraria que tivéssemos alguns vocalistas mais puxados para o metal tradicional aqui.

ANÁLISE METAL HELLSINGER: O PARAÍSO HEADBANGER É O INFERNO

Ainda assim, as músicas são bem legais. Tenho minhas preferidas, mas não teve nenhuma que não tenha curtido ou que sinta que não combina com o jogo. Aliás, Metal Hellsinger usa muito bem a estética clichê do metal para fins humorísticos e divertidos. Por exemplo, você controla uma demônia vestindo roupas de couro, naquele estilão Born To Be Wild, e mesmo os inimigos seguem essa linha. Se o Inferno é daqui até a eternidade, como nos prometeu o Iron Maiden, ele certamente teria este visual se imaginado por adolescentes roqueiros de 15 anos. E isso é legal!

Como jogo em si, Metal Hellsinger é um tanto divisivo. Eles criaram uma nova experiência aqui, certamente diferente de tudo que tinha jogado antes. Mas mesmo no fácil, é um jogo frustrantemente difícil.

ANÁLISE METAL HELLSINGER: DIFÍCIL MESMO NO FÁCIL

Você tem algumas vidas para cada fase, determinadas pela dificuldade escolhida. E dá para alterar a dificuldade a qualquer momento. Porém, não há checkpoints. Acabaram as vidas, você volta para o início das fases. E isso torna avançar entediante. Não é legal você passar 15 minutos avançando por uma fase, e daí 15 minutos diminuindo lentamente a vida do chefe para morrer e ser obrigado a fazer tudo de novo.

Curiosamente, Metal: Hellsinger até tem uma solução para isso. Usar uma vida diminui consideravelmente sua pontuação. Como este é um jogo de pontos, você tem incentivo para tentar de novo do começo, jogando melhor, sem morrer ou morrendo menos. Então não precisava limitar a quantidade de vidas. Quem for mais hardcore, e quiser subir nas leaderboards, vai fazer isso. Quem só quiser curtir uns tirinhos headbangers e ver a história até o fim, poderia continuar jogando.

BOSS BATTLES

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Se você viu um chefe, viu todos.

Para variar, isso fica mais grave por causa dos chefes. Não só são lutas demoradas, que se arrastam por 15 minutos ou mais, graças à enorme barra de vida deles, mas absolutamente todos os chefes são exatamente o mesmo bicho da imagem acima.

Tipo, os ataques são diferentes, o que significa que o gameplay das lutas é diferente. Mas o fato de ser sempre o mesmo bicho enche o saco. Não tem aquela surpresa de ver um chefe com um design impressionante, como em Dark Souls. Não tem nem mesmo a variação do primeiro Sonic, em que todos os chefes eram o Robotnik, mas sempre em uma máquina diferente. Assim, o prognóstico de vencer uma fase de 15 minutos apenas para ter uma chance de encarar aquele bicho de novo é, na falta de uma palavra melhor, brochante.

METAL CANTOR DOS INFERNOS

Também é brochante, mas comum em jogos de ritmo, o fato de que quando você perde o ritmo a música diminui consideravelmente a intensidade. Se você for das 16X para 1X, o que pode acontecer com poucos deslizes, a música passa de um death metal intenso para uma simples batida de bateria. Embora a coisa seja mais sutil e menos repentina do que a plateia parando de cantar em Rock Band, é frustrante o quanto demora para você conseguir “reconstruir” a música após poucos tiros fora do ritmo.

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Metal Hellsinger é um experimento mais ou menos como o primeiro Assassin’s Creed. É promissor e divertido, mas é claramente um projeto que pode – e espero que seja – desenvolvido melhor no futuro. Mais variação dentro dos estilos de metal e maior qualidade de vida fariam muito para tornar Metal Hellsinger algo realmente especial.

Para esta primeira incursão, é um bom jogo, certamente bom o suficiente para ser jogado por fãs de FPS e death metal. Agora sabe o que não me conformo? Como um jogo desses não vem junto com a trilha sonora em MP3? Fala sério, né? Eu quero ouvir essas músicas fora do jogo, pô!