E olha só, começamos hoje a nossa cobertura da próxima geração de videogames. E fazemos isso com o que é um dos dois principais lançamentos do PS5 (ao lado de Demon’s Souls). Só que… analisamos ele em sua versão de PS4. Bem-vindo à nossa análise Marvel’s Spider Man: Miles Morales.
Análise Marvel’s Spider Man: Miles Morales
Spider-Man: Miles Morales é a continuação modesta do famoso e tremendão Spider-Man de PS4. Não é um Spider-Man 2 completo. Como foi claramente divulgado em seu marketing, é um meio passo, mais ou menos como Uncharted: The Lost Legacy. Ele não traz grandes novidades de gameplay, nem grande melhoria de gráficos – pelo menos não na versão de PS4. É quase como um DLC, mas com uma escala e qualidade maiores do que o Season Pass que já analisamos por aqui.
E, claro, ele não é estrelado por Peter Parker mas por seu quase tão popular substituto, o jovem Miles Morales.
Quase tudo que eu falei na minha análise do Spider-Man de PS4 vale por aqui. Miles Morales ainda é um jogo de mundo aberto como esses eram feitos na geração passada. As missões de história e mesmo as sidemissions são autocontidas, e devem ser feitas do início ao fim, sem interrupções. Muitas vezes, elas levam para “fases” mais lineares e para cenas de ação roteirizadas que não deixam nada a dever para jogos como o próprio Uncharted. Também não há estatísticas de equipamentos ou loot. Há upgrades, claro, mas você não deve fazer microgerenciamento de estatísticas. E, como você deve saber, eu gosto muito mais dessa escola de design do que do tradicional RPG de mundo aberto que dominou a geração atual.
E daí tem o mundo aberto em si.
O MUNDO ABERTO EM SI
Se tem um herói que justifica jogos em mundo aberto, esse herói é o Homem-Aranha. Eu mesmo já sonhava com um jogo aberto dele antes mesmo de esse gênero existir, lembra? E a Insomniac fez um tremendo trabalho em deixar esse mundo aberto divertido. Isso já era sensacional na versão estrelada por Peter Parker, mas continua bom por aqui. É simplesmente uma delícia se balançar por Nova Iorque, fazer acrobacias e ver como as animações se encaixam perfeitamente umas nas outras. Esse é um trabalho manual que normalmente não é tão valorizado, mas repare como os movimentos são suaves, e Miles vai naturalmente de correr pelas paredes para se balançar, para atirar teias para frente.
O mundo é cheio de colecionáveis e atividades secundárias, o que normalmente não me apetece muito. Praticamente depois de cada missão de história, um novo tipo de colecionável ou atividade popa no mapa. E não dá para negar que essas coisas não refletem a qualidade das missões de história e sidemissions. Porém, é tão gostoso simplesmente “ser” o Homem-Aranha e ir de um lado a outro da cidade que devo dizer que coletei tudo sem ficar de saco cheio e quase sem usar o fast travel.
Isso é também ajudado pelo fato de que o mapa não é enorme. Nessa geração os desenvolvedores de mundo aberto ficaram fascinados por fazer mapas enormes. Mas eu particularmente prefiro um mundo aberto mais contido, que dê para você ir de uma ponta a outra em um tempo mais aceitável, sem encher o saco ou ficar entediado.
A HISTÓRIA
A história continua a origem super-heroística de Miles, iniciada no jogo anterior. No começo da aventura, ele está treinando com Peter Parker e fazendo algumas missões em conjunto. Porém, o Homem-Aranha mais velho vai ficar fora de Nova Iorque por algumas semanas, deixando o menino Morales como o único amigão da vizinhança por algum tempo. O jogo acontece quase todo nesse período.
A aventura de Miles envolve uma reimaginação do Consertador / Tinkerer, que leitores dos gibis devem se lembrar que foi um dos primeiros vilões enfrentados por Peter Parker. Devo dizer que não sei se o Consertador que aparece aqui já deu as caras nos gibis ou se foi criado pela Insomniac, mas apesar de dividir o nome com um personagem clássico, não tem nenhuma outra relação com ele.
A história é excelente. Eu diria que os roteiristas da Insomniac estão entre os melhores da indústria. E digo mais, o Homem-Aranha deles talvez reflita melhor o personagem dos gibis até mesmo do que os dos filmes. A missão de abertura, que conta com os dois Aranhas trabalhando juntos é de gargalhar. É ao mesmo tempo extremamente divertida, épica e muito engraçada, como uma boa história do Homem-Aranha deve ser.
MILES MORALES
Mas devo dizer… eu gosto do Miles Morales. Acho ele um personagem muito carismático, mas eu não tenho com ele a mesma identificação que tenho com Peter Parker. E, claro, eu sei que ele foi criado para uma turminha mais nova, e acredito que faz muito bem essa função. Mas eu sinto falta do Peter Parker nesse jogo. O humor bobo e o jeitão nerd dele são mais legais para mim do que o jeito bonzinho, porém cool, de Miles.
Peter aparece na história através de ligações telefônicas e algumas missões de treinamento, mas eu gostaria que ele fosse mais presente. Mesmo sendo um personagem secundário, seria legal que ele trabalhasse ao lado de Miles para desvendar o mistério dos crimes que rondam o Harlem, ao invés de ficar fora do país quase o jogo inteiro. Imagino que essa história com dois Homens-Aranha está reservada para o vindouro Spider-Men 2 (arrisco dizer que será escrito assim mesmo).
Curiosamente, na jogabilidade quase nada mudou. Controlar Miles é muito parecido com controlar Peter. O combate é praticamente igual, assim como suas habilidades com as teias.
O único problema que eu colocaria no combate são os chefes. Além de não serem tão legais assim, se estendem muito demais da conta e são muito repetitivos. Um deles é tão longo que deve ter uns 10 checkpoints ao longo da luta, e eu só sabia que eram checkpoints por causa das coisas que os personagens falam enquanto brigam. Dá a impressão de que o boss não termina nunca.
O NOSSO HOMEM-ARANHA
Miles tem alguns poderes que foram novidade para mim. Eu cheguei a ler alguns gibis com Miles, mas parei de acompanhar quadrinhos perto de sua origem. E eu não sabia que ele tinha poderes elétricos ou de ficar invisível. E ambos são vitais nessa aventura gamística.
Ficar invisível ajuda pra caramba quando você quiser brincar de stealth. Aliás, se há uma diferença de gameplay entre o Aranha de Peter e o de Miles é que este tem uma ênfase maior no stealth. Ao ser avistado, você pode ficar invisível e se pendurar em um poste por alguns segundos, que logo os meliantes ficam novamente aptos a levar takedowns. E isso é necessário, pois na dificuldade padrão, eu senti que Miles é bem mais vulnerável que Peter, caindo em combate com mais facilidade e frequência.
A eletricidade, chamada pelo jogo de Venom – aparentemente sem relação com aquele outro Venom – também afeta bastante o combate. São golpes extremamente fortes, que podem ser usados quando uma barrinha estiver cheia. Estes são capazes de derrubar vários inimigos ao mesmo tempo, deixando-os vulneráveis a serem presos com teia. Alguns inimigos mais avançados, no entanto, precisam ser atacados com golpes de Venom específicos.
E tem os gadgets, que substituem as muitas teias de Peter. Dá para você convocar um holograma pra lutar ao seu lado, usar uma bombinha que junta vários inimigos no mesmo lugar – perfeito para um ataque de Venom – e uma mina deveras útil para momentos de stealth.
Assim, Miles Morales é familiar, mas também diferente, abrindo um promissor espaço para termos os dois Homem-Aranhas jogáveis no futuro.
COM GRANDES PODERES, VÊM GRANDES RESENHAS
De fato a Sony não mentiu ao dizer que esta não era uma continuação totalmente desenvolvida. Mas também não é um jogo tão curto assim. Eu precisei de algumas tardes para conseguir fazer tudo, o que é, por exemplo, mais tempo do que levou para fechar o – excelente – Pumpkin Jack.
Ele não tem a mesma novidade e impacto que o Spider-Man de PS4. Afinal, agora a gente já tinha uma boa ideia de como o jogo funcionaria. Apesar de sem grandes novidades, ainda é um jogo muito divertido, que colocaria ao lado de seu antecessor entre os melhores jogos de mundo aberto dos últimos anos.
As imagens que ilustram essa matéria foram capturadas da versão de PS4.