Ion Fury é o jogo da Voidpoint, publicado pela 3D Realms, lançado em agosto de 2019 para PC. A partir de hoje, os donos de consoles (Nintendo Switch, Xbox One e PS4) têm a chance de testá-lo.
Ion Fury é praticamente uma “sequência espiritual” de Duke Nukem, feito na mesma engine do clássico (Build). Ao invés de um homem truculento estilo Arnold Schwarzenegger, você controla uma protagonista. O nome dela é Shelly “Bombshell” Harrison e ela não deve nada em termos de pintudice e humor. Ion Fury é também uma prequência literal de Bombshell, lançado apenas para PCs em 2016.
Esta é a nossa análise Ion Fury. Venha comigo, porque o negócio é bom.
Análise Ion Fury: ah, como sou nostálgico!
Ion Fury é um shooter clássico, do jeito que era feito nos anos 90. Os shooters dessa época, como Doom, Duke Nukem e até Goldeneye 007 e Perfect Dark (lembra-se destas maravilhas da Rare?) tinham algo em comum. Eles não queriam que o jogador mirasse tão precisamente em cada inimigo.
Estes jogos tinham variados sistemas de miras automáticas. Por consequência, ao jogar, você podia reagir mais rápido e atirar nos inimigos assim que os malditos surgissem.
Com a evolução do gênero, estas ideias foram largamente abandonadas. Os shooters, há um bom tempo, focam em mirar nos inimigos um a um (com o “scope”, ou a “aim reticle”). Veja, não é que essa abordagem mais moderna é ruim. Só é uma pena que não tenha mais tantos jogos que permitam o “fire from the hip” como base do gameplay, embora ainda existam alguns (como Doom Eternal e, até certo ponto, a franquia Halo).
Bem, por que disse tudo isso? Porque Ion Fury é um shooter clássico de fato, meu caro. Portanto, aqui, você pode e deve explodir e desmembrar vários caras malvados e monstrengos ao mesmo tempo!
Ion Fury: sinceramente, sinopse para quê?
Tradição também dos shooters clássicos, Ion Fury começa sem muito contexto. Você tem um revólver e tem uns caras atirando em você. Há! Hora de fazer o óbvio.
Ao jogar um pouco, você entende que o vilão é um tal de Dr. Jadus Heskel, que a Shelly odeia. Ele é um líder louco que pratica experimentos grotescos em humanos e tem capangas contratados para acabar com você. O objetivo é chegar a Heskel, e por fim aos planos dele.
Na melhor tradição de jogos mais modernos (Bioshock, Resident Evil 4), Heskel se comunica com você à distância. Ele manda mensagens em TVs durante as fases, ameaça, provoca e tira sarro da Shelly. Pode parecer clichê, mas funciona.
Outra influência de Duke Nukem, Shelly “Bombshell” Harrison é bem-humorada e fala as coisas mais grossas e sem sentido.
A dublagem de Shelly, a cargo de Valeria Arem é especialmente convincente, já que a voz da garota passa a sensação de confiança, irritação e diversão que a personagem precisa. Não à toa, são essas as sensações que senti ao jogar Ion Fury! O jogo também conta com o próprio Duke Nukem, Jon St. John, que dubla o vilão Heskel.
Ion Fury: este é o arsenal para você se sentir um Rambo de sutiã
Há uma porção de armas em Ion Fury – no geral, elas são o que você espera deste tipo de shooter. O legal é que cada uma tem uma segunda função e todas, de alguma forma, foram pensadas para você não precisar de uma mira tão precisa em cada babaca que atirar em você.
A granada persegue os inimigos e só explode se atingi-los (do contrário, você pode coletá-la). Com o revólver, você pode selecionar vários inimigos e atirar neles em sequência, igual faroeste. As armas mais poderosas causam tanto estrago que você praticamente nem precisa mirar!
Shelly não é invencível às explosões causadas por ela, tampouco os inimigos são imunes a fogo amigo. Então, é preciso tomar cuidado e tirar vantagens de certas situações.
O maior ponto positivo é que todas as armas são úteis durante todo o jogo. Aqui, não existe aquela coisa comum de deixar de usar uma porque você encontrou outra melhor. Todas são efetivas com praticamente qualquer inimigo. Cada uma é melhor para determinadas situações ou inimigos, e saber escolhê-las é grande parte da brincadeira, mas você vai passear por elas tranquilamente até o final do jogo.
Outros recursos são medkits (você pode carregar quatro por vez) e radares (no máximo seis), que mostram se há inimigos próximos por um tempo. Igual a Doom, você tem armadura. Ela pode ser coletada pelo mapa, ou premiada por ações em inimigos (por exemplo, alguns headshots ou explosões em inimigos fracos).
Ion Fury: este jogo é justo?
Na descrição até aqui, como você percebeu, Ion Fury e eu tivemos uma relação feliz. Porém, devo dizer que ele tem algumas características que podem te tirar do sério.
Sabe aquilo que falei sobre explodir vários inimigos ao mesmo tempo? Ion Fury leva essa ideia muito a sério. As hordas de inimigos que parecem nunca acabam e a frequência com que elas aparecem são inacreditáveis. Há encontros aqui mais intensos, inclusive, do que em Doom (2016) e Doom Eternal nos modos Ultraviolentos (joguei Ion Fury no modo Normal).
Vários inimigos podem dar sequências de danos que acabam com a sua vida rapidinho. Alguns têm até one hit kill.
Parte desse problema pode ser resolvido ao diminuir a dificuldade. Porém, isso não resolve os principais problemas de design: em especial, o que os desenvolvedores chamam de enemy placement.
Não interessa se é difícil ou fácil vencer uma horda dos mesmos inimigos que você vem destruindo desde o começo do jogo. Você ainda precisa lidar com dezenas de inimigos te atacando ao mesmo tempo, de todos os lados. Isso não é divertido. É pentelho.
Se nas “arenas” o problema é o excesso e repetição de inimigos, nos corredores longos ou passagens estreitas, o incômodo é outro. Vários capangas e monstros estão posicionados em lugares escondidos. São verdadeiras armadilhas para você não os perceber.
É absurdamente comum entrar numa sala e ser morto de imediato por um míssil ou granada sem nem saber de onde a bomba veio. A forma de minimizar o problema é salvar constantemente, o que Ion Fury permite (você pode salvar a qualquer momento), morrer e tentar de novo. Felizmente, o jogo tem loadings praticamente inexistentes.
Ion Fury quer “sacanear” o jogador, mas isso não casa bem com o gameplay do jogo e alguns dos atributos de Shelly. Para falar melhor disso, preciso falar das fases.
Ion Fury: é linear até você encontrar um cartão!
Shelly é muito rápida. Sério, muito rápida. A velocidade dela é, novamente, uma herança dos shooters dos anos 90. Graças a esse atributo, a tática do “atirar e correr”, sair do campo de visão dos inimigos, funciona bem.
Nas fases, você passa como um furacão por cada área. Porém, o jogo estimula muito o backtracking, porque quase todas as fases tem cartões coloridos que abrem portas diferentes.
As fases são subdivisões das zonas. Cada zona tem um tema principal, a maioria com cinco fases. Em uma delas, por exemplo, você começa subindo um prédio e termina no telhado dele. Além disso, há muitos segredos em cada fase, sendo que o caminho principal, por vezes, parece uma rota alternativa. Ao final de cada fase, você tem a opção de retornar e tentar completar todos os segredos que não encontrou.
Estes elementos, por si só, não são ruins. Porém, combinados, eles cobram uma familiaridade com os cenários para prosseguir que simplesmente não ocorre de forma natural.
Talvez a fase que deixe isso mais claro é a do trem. Veja, você começa no último vagão e deve seguir até o primeiro. Porém, ao chegar na metade, encontra um cartão. Depois, é necessário retornar para abrir uma porta, pegar outro cartão e, assim, progredir.
Nas outras fases, Ion Fury me deixou totalmente desorientado em vários momentos, sem saber para onde ir. Se fossem mais lineares, durariam menos e, com certeza, seriam melhores.
Ion Fury: a sensação é de um jogo longo
Lembra o que falei sobre os inimigos? Eles aparecem em áreas que você já liberou também (inclusive, sempre que obter um cartão). Mais do que deixar confuso sobre qual caminho você precisa seguir, Ion Fury garante que você esteja em combate a quase todo momento. E isso cansa.
Todas as armas são liberadas ao final da segunda zona e, embora de fato seja divertido usá-las, é só o que você terá pelas próximas cinco zonas. Pior, até o final, você vai enfrentar um excesso dos mesmos inimigos diversas vezes.
No fim, falta ritmo e respiro a Ion Fury. Levei cerca de oito horas para terminar, mas a sensação que tive ao final foi de que foi muito mais.
Ion Fury: repetição é o meu calcanhar de Aquiles
Quando o assunto é games, o que sou mais contra é repetição. Ion Fury exagera na repetição de inimigos, situações e até cenários parecidos.
Por outro lado, tem tanta coisa que amo aqui. Este texto não teria ficado tão grande se eu achasse Ion Fury ruim. O jogo é simplesmente lindo, com a resolução no talo e várias cores vivas para contrastar com os tons cinzentos. A trilha sonora tem tudo a ver com anos 80 e parece algo pensado para BladeRunner. Como falei lá em cima, este subgênero de shooters foi quase extinto, mas é deveras animal.
Ion Fury é excelente em pequenas doses, mas precisaria ter um ritmo melhor, mais respiro, para ser uma experiência totalmente inesquecível.
Subtítulo bônus: bugs
Há alguns bugs no jogo que precisam ser consertados em um patch. O mais grave deles é você sumir e reaparecer em outros lugares no meio do combate. É algo que acontece com muita frequência na versão atual do Xbox One, então, vale o recado.
Curiosidade: Ion Maiden e a treta com o Iron Maiden
Originalmente, Ion Fury era chamado de Ion Maiden, mas após ação da banda, os desenvolvedores decidiram mudar para Ion Fury.
Apesar do jogo não ter nada a ver com a banda, joguei algumas partes ouvindo o álbum Somewhere in Time e foi sensacional! Falaremos mais sobre a polêmica Ion Fury e Iron Maiden em breve. Mantenha-se delfonado!