Metroidvania é um dos gêneros mais escolhidos por desenvolvedores indies dispostos a mostrar seu talento. No entanto, eles normalmente vêm de empresas pequenas, com times relativamente modestos. Ghost 1.0 é quase todo um trabalho de um homem só, Francisco Téllez de Meneses. O trabalho não é creditado a uma empresa, mas ao handle do Twitter do cara, @unepic_fran. Justamente por causa de tamanha independência, ele chama atenção por sua qualidade e pelo simples tamanho do jogo.

UMA PROTAGONISTA INVISÍVEL

Ghost 1.0 é estrelado por Ghost, uma pessoa habilidosa em controlar robôs remotamente, contratada por uma dupla de nerds pra fazer sei-lá-o-quê numa estação espacial. Isso significa que a qualquer momento você pode sair do seu robô principal e controlar qualquer outra das muitas máquinas que habitam a estação.

Ghost 1.0, Delfos
Esta habilidade normalmente é utilizada para resolver puzzles.

Seu robô principal, no entanto, é o que carrega todas as armas e habilidades, e portanto é seu objetivo levá-lo para cada canto da estação e cumprir uma miríade de objetivos. Felizmente, há várias impressoras 3D pelo caminho e, ao ser destruído, o robô pode ser impresso em qualquer uma delas, desde que você já a tenha ativado. É como ter vidas infinitas!

Infelizmente, Ghost 1.0 pega de Dark Souls uma de suas piores características: a penalidade para as mortes. Ao morrer, você perde todas as habilidades que adquiriu desde seu último save. Elas podem ser recuperadas, indo até onde você morreu. Mas pior mesmo é que todo seu dinheiro simplesmente some.

Ghost 1.0, Delfos

Era super comum eu passar por uma loja, com um monte de upgrades bacanas sem ter dinheiro para comprar nada. Eu saía explorando e juntava quatro mil ou mais créditos, suficiente para comprar tudo. Porém, acabava morrendo antes de encontrar um save (que funciona também como fast travel) e perdia tudo, sem receber nada pelos meus esforços.

Isso me deixou tão frustrado que não demorei para mudar para o easy, mas mesmo nesta dificuldade, o jogo ainda era difícil o suficiente para eu perder quantidades absurdas de dinheiro.

Ghost 1.0, Delfos

Contribuindo para aumentar a frustração, há dezenas de lojas espalhadas pelo mapa, e cada uma delas vende upgrades totalmente diferentes. Ou seja, para comprar determinada arma, você precisa ir até aquela loja específica. Seria bom se o inventário das lojas simplesmente fosse aumentando conforme você avançasse na história, mas tudo já desbloqueado pudesse ser comprado em todas.

UM METROIDVANIA RELATIVAMENTE SIMPLES

Um dos bastiões máximos do gênero metroidvania é o fato de muitos caminhos ficarem bloqueados por habilidades que você ainda vai adquirir. Ghost 1.0 segue um caminho mais simples. Os upgrades não são necessários para terminar o jogo, são apenas auxílios para sua jornada.

Ghost 1.0, Delfos
Mate os inimigos com outros inimigos.

Os caminhos ficam bloqueados por cartões-chave coloridos. Para completar cada cartão, você deve achar cinco partes dele e, ao fazer isso, ganha acesso a um novo caminho e a uma nova área da estação. Basicamente, este é o progresso de 1.0. Os cenários sempre terão vários caminhos a serem explorados, mas vai ser necessário explorar a maioria deles, pois sempre no final haverá um pedaço de cartão.

É um approach mais simples para a fórmula de um Super Metroid (do qual Ghost 1.0 carrega muitas influências), mas funciona bem, e evita aquela pentelhação comum do gênero, de ter que reexplorar áreas pelas quais já passou em busca de passagens que agora você consegue abrir. E, claro, o último pedaço de cada cartão costuma ser protegido por um chefe.

Ghost 1.0, Delfos
Para pegar o cartão, você vai ter que passar por mim! Bwa-haha!

AUDIOVISUAL

Visualmente, Ghost 1.0 não é muito interessante. Ele é azul quase o tempo todo, e seus cenários não são especialmente detalhados. No entanto, os outros aspectos de sua apresentação são muito legais. A começar pelas músicas, que são chiptunes bastante empolgantes.

O mais surpreendente, considerando o escopo do projeto, é sua história. Há bastante história por aqui, e ela é realizada com cutscenes desenhadas a mão e sutilmente animadas.

Ghost 1.0, Delfos
A dupla de nerds que te contratou.

Mais impressionante ainda é que toda a história é falada, e os atores que dublaram tudo entregam uma performance bem bacana. Contribuindo para o carisma geral do jogo, ele traz um humor muito simpático e totalmente nerd, cheio de referências a cultura pop, que sem dúvida vão colocar um sorriso no seu rosto.

GHOST 1.0

Talvez o principal problema de Ghost 1.0 é quão longo ele seja. Por mais que eu tenha gostado de seu gameplay e de sua história, depois de 10 horas explorando seus cenários azulados, eu já estava torcendo para que ele acabasse.

Ghost 1.0, Delfos
Um dos momentos mais criativos da história.

Pois é, Ghost 1.0 é consideravelmente mais longo do que o tradicional em metroidvanias 2D, e ganharia pontos com uma edição mais impiedosa.

Ainda assim, é uma conquista considerável, um jogo desenvolvido por um time pequeno, mas que não deixa isso ser perceptível em momento algum. É a definição de uma obra que conseguiu fazer muito com pouco, e um jogo capaz de encarar outros metroidvanias mais endinheirados frente a frente. Vale a pena conhecer.