Clive 'N' Wrench, Análise Clive 'N' Wrench, Delfos

Introdução básica de DELFOS: às vezes a gente espera que um jogo seja ruim, e ele é ótimo. Isso é muito legal. Menos legal é o contrário. Quando você espera um game bacana, e jogá-lo se torna um suplício. Quando isso é trabalho, acaba caindo naquele abismo: “quanto mais eu preciso jogar disso para poder escrever uma análise justa?”. Esta é nossa análise Clive ‘N’ Wrench.

ANÁLISE CLIVE ‘N’ WRENCH

Clive ‘N’ Wrench é mais um plataforma 3D que visa emular os clássicos de Nintendo 64. Isso fica claro até pelo nome. Você sabe, tipo Banjoo-Kazooie. A inspiração é clara e me agrada. E o gênero, você sabe, é meu estilo preferido. Clive ‘N’ Wrench não faz nada de diferente dos clássicos dos anos 90.

Clive 'N' Wrench, Análise Clive 'N' Wrench, Delfos

Temos aqui um coletaton. É aquele estilo de fases grandes e abertas, cheias de coisinhas para colecionar. O jogo incentiva fortemente o 100%, o que envolve, por fase, algumas centenas de reloginhos e 10 moedas. Estas são as tradicionais “estrelas”, e são concedidas por chegar em determinados pontos da fase ou ajudar NPCs. Novos chefes são liberados conforme você coleta números pré-estabelecidos destes colecionáveis. E novas fases abrem depois de vencer o chefe anterior. Você sabe como funciona.

A influência do N64 é clara até mesmo nos controles. Dá para fazer um pulo mais alto se você abaixar antes de pular, ou mais longo, se você correr antes de pular. De novo, você sabe como funciona. E tudo isso poderia ser legal. Clive ‘N’ Wrench não reinventa a receita dos plataformas 3D coletatons, mas este prato, quando bem-feito, é bem gostoso. E daí entra o problema.

NADA DO QUE CLIVE ‘N’ WRENCH FAZ É REALMENTE BOM

Vamos começar pelos controles. Você tem os tradicionais ataque, pulo, pulo duplo, planar. Porém, embora você pule com o X no PS5, é obrigado a atacar com a bola, não com o quadrado. Os controles não são configuráveis, o que deixa essa teimosia ainda mais chata. Pior ainda é a sensibilidade da câmera. Ela é absurdamente lenta, e não dá para aumentar. Olhar para trás, por exemplo, exige que você fique parado, esperando, por vários segundos até a câmera terminar de virar 180 graus.

Clive 'N' Wrench, Análise Clive 'N' Wrench, Delfos

Estes dois problemas seriam facilmente resolvidos com opções presentes em praticamente todos os jogos lançados em 2023. Mas o fato de não dar essas opções demonstra a falta de capricho do game. A sensação que tive com Clive ‘N’ Wrench é que é um jogo incompleto. Já tem todas as fases, mas gráficos, controles e animações ainda estão em estado de polimento. E você sabe, se controlar o personagem em um jogo de plataforma é um suplício, é muito difícil que o game vingue. Este é o motivo pelo qual, mesmo datado, Super Mario 64 ainda seja bom hoje. Andar de um lado para o outro lá é uma delícia. Aqui, é terrível.

Isso sem falar de problemas técnicos, como o personagem correr para frente sem a animação tocar (o que faz com que ele pareça estar deslizando) ou a enorme quantidade de vezes que você fica preso no cenário, por atravessar o chão ou passar por um collider que não funcionou direito. Na fase do Egito, eu precisava vencer um desafio de plataforma e apertar um botão para abrir uma porta, mas consegui simplesmente atravessar a porta e mudar de tela, sem cumprir o objetivo.

AUDIOVISUAL NÃO É BOM

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Clive ‘N’ Wrench parece um jogo de Nintendo 64. E não de um jeito legal.

Para planar, o coelho gira o macaco acima da cabeça, como um helicóptero. Mas veja a imagem acima. As mãos dele sequer conectam com o macaco. Infelizmente, não são apenas as animações que deixam a dever. Muitas trechos de fases, como é possível perceber na imagem acima, simplesmente parecem que não foram devidamente carregados. Além disso, é comum paredes e detalhes sumirem e aparecerem quando você movimenta a câmera ou o personagem.

Eu queria elogiar o visual, porque o jogo tem uma grande quantidade de mundos (11), e todos são bem diferentes uns dos outros. O problema é que é tudo muito feio e pouco detalhado. É um low poly por opção, mas sem o esforço que deixa, por exemplo, Guacamelee lindão.

E daí tem as músicas, que não são especialmente ruins em composição, mas todo o som do jogo está em péssima qualidade. É tudo abafado, sem poder nem sustância. Mega Man de Nintendinho soava muito melhor do que Clive ‘N’ Wrench, e em um sistema muito mais limitado. Os efeitos sonoros também são fracos, e quase inaudíveis. Finalmente, tem o gameplay, que poderia salvar tudo.

MAS NÃO SALVA

Clive 'N' Wrench, Análise Clive 'N' Wrench, Delfos

Eu já aludi a isso lá em cima, mas controlar o Clive não é gostoso, e esta gostosura no controle é a razão de ser de um plataforma 3D. As animações são todas muito toscas, os botões foram designados “errados” (diferentes dos que todos estão acostumados) e ainda tem os problemas técnicos.

O combate, por exemplo, é totalmente quebrado. Eu tinha a sensação que, sempre que atacava um inimigo, perdia vida junto. E você nem sente o impacto quando é atingido. Acabei ignorando isso em meu tempo com o jogo porque ele simplesmente não é frustrante. Você morre bastante, mas morrer simplesmente te transporta para o checkpoint, mantendo toda a exploração e combate previamente realizados. Mas, claro, tem os chefes, que têm que ser vencidos em uma vida. E daí a coisa complica.

O CHEFE DA ANÁLISE CLIVE ‘N’ WRENCH

Clive 'N' Wrench, Análise Clive 'N' Wrench, Delfos

Os chefes são simplesmente terríveis. Eles seguem a fórmula Nintendo, de desviar até chegar a hora de atacar. Porém, como você não sente o impacto dos ataques, e nem todo ataque é claramente um ataque, é comum a batalha simplesmente reiniciar sem você saber o que aconteceu.

Alguns chefes, como o do Egito, são simplesmente fases tradicionais. Do tipo chegue até o final. São os únicos momentos mais lineares de um jogo que é quase totalmente uma maratona de colecionáveis. E isso poderia ser bom, mas o level design simplesmente não é bacana o suficiente para um game de fases.

ANÁLISE CLIVE ‘N’ WRENCH: A DECEPÇÃO DE 2023?

Clive 'N' Wrench, Análise Clive 'N' Wrench, Delfos
Para encarar um chefe, é necessário um certo número de colecionáveis. E para ir para outra fase, é preciso vencer o chefe anterior.

2023 está apenas começando, mas eu realmente botava fé que Clive ‘N’ Wrench seria um game tão gostosinho quanto Yooka-Laylee. E até vejo aqui traços de algo que poderia ser bom um dia. Mas ele não está lá agora. Talvez com um bom tempo a mais de desenvolvimento, especialmente em animação e polimento, a coisa podia ser mais agradável de jogar. Como não é, temos aqui a minha primeira grande decepção de 2023. E o fato de ser logo com um jogo de plataforma 3D me deixa sinceramente chateado.