Esta análise A Tale of Paper Refolded é o tipo de texto que me deixa triste em escrever. Isso porque temos aqui um game que poderia ser realmente especial, que criativamente está com os dois pés no caminho certo, mas que tecnicamente simplesmente não funciona. É uma excelente criação, como ideia, mas que não foi suficientemente construída.

ANÁLISE A TALE OF PAPER REFOLDED

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A Tale of Paper Refolded é uma versão next-gen do A Tale of Paper, que foi lançado em outubro de 2020 para PS4. Ela agora vem para todos os consoles e PCs com algumas melhorias e com uma nova mini-campanha extra. E isso deixa ainda mais difícil de entender a crueza técnica. A Tale of Paper saiu faz dois anos e ainda funciona desse jeito? Ou a versão original era mais polida e esta edição Refolded estragou tudo? Esta é uma resposta que não tenho. E, na verdade, posso falar apenas pela versão de Xbox Series X, que foi a que joguei. Talvez no PS5, Switch ou PC ele rode melhor, mas para saber disso você vai precisar ler outras análises. Vou elaborar esses problemas em breve, mas antes deixa eu falar do que você vai encontrar aqui.

A Tale of Paper é um lindo puzzle plataforma em 3D. É difícil olhar para ele sem se lembrar do fabuloso Little Nightmares. E a primeira impressão é igualmente forte. Os gráficos são belíssimos, com um visual realista e uma trilha sonora mágica e lúdica, que o aproxima de uma animação antiga. No audiovisual, eu simplesmente não tenho reclamações. A Tale of Paper é exatamente o que se propõe ser.

UM CONTO DE ORIGAMIS

A pegada do gameplay é que você controla um bichinho pequenininho e feito de papel. Então passa por cenários normais, como cadeiras e portas, mas tudo parece gigante. Neste aspecto, ele também lembra um bocado o excelente Unravel, embora aqui tudo seja mais escuro e sujo

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Crash Bandicoot feelings.

O mais legal é o uso que ele faz de power ups. Praticamente a cada novo capítulo, você ganha uma nova habilidade, que basicamente é a possibilidade de se transformar em um origami. Virar um aviãozinho de papel, por exemplo, permite planar. Virar um sapo, pular mais alto. Então a pegada é saber qual habilidade usar para passar de cada desafio, ao mesmo tempo em que saboreia o delicioso audiovisual. E aí tem aquele grande “mas” chegando.

MAS…

Não demora para problemas começarem a aparecer. Em poucos minutos, eu percebi que as conquistas não estavam destravando. E, de fato, eu joguei toda a campanha principal sem desbloquear nenhuma delas, mesmo cumprindo os objetivos. Durante a campanha adicional, conquistei três ao mesmo tempo no chefe final, sendo que uma delas envolvia “pular 10 vezes como um sapo”. Só que o sapo nem estava disponível nessa fase. Isso é chato, mas não estragou o jogo. Inclusive, eu gostei tanto no começo que estava disposto a jogar de novo para platiná-lo quando este problema fosse resolvido. Só que acabei mudando de ideia.

As conquistas que não destravam são apenas a ponta do iceberg dos problemas que encontrei. E todos os outros poderiam ser resolvidos com uma simples decisão técnica. Seguinte: A Tale of Paper tem checkpoints bem constantes. Quando você morre, dificilmente volta muito. Porém, estes não salvam. Se você sair do jogo, vai voltar do início da fase. E o mais grave: embora haja a opção de “reiniciar fase” no menu, não dá para “reiniciar do checkpoint”. O único jeito de fazer isso é morrendo. E aí vem o problema.

QUANDO MORRER É IMPOSSÍVEL

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Estou empacado entre a porta e a ladeira. Consegue me ver?

Os controles têm problemas. Graves. Errar um pulo pode fazer você cair em uma área fechada em que não deveria poder entrar, e não tem como sair. Infelizmente, este tipo de problema é comum. E errar um pulo em um jogo de puzzle plataforma é igualmente comum. Na imagem acima, eu fui subindo a ladeira, e havia um pequeno espaço entre ela e a porta. Eu caí ali, e o personagem ficou preso. Não dava mais para sair nem para se movimentar.

É o tipo de coisa que seria apenas um inconveniente se eu pudesse pausar o jogo e “reiniciar do checkpoint”. Mas ele permite apenas reiniciar a fase. E, se voltar ao menu principal, também voltarei do início da fase. Então é relativamente comum – aconteceu pelo menos seis vezes em uma campanha de duas horas – acontecer isso e ser necessário fazer a fase inteira de novo. Quando isso se tornou rotina, simplesmente parei de curtir o jogo, e comecei a ficar com medo de errar um pulo ou ficar preso em alguma parte “proibida” do cenário. Isso literalmente estragou totalmente minha experiência com A Tale of Paper.

ANÁLISE A TALE OF PAPER E A CAMPANHA ADICIONAL

Assim, apesar de a campanha ser curtíssima (há vídeos de pessoas pegando a platina na versão de PS4 em 40 minutos), quando a terminei, fiquei com aquela sensação de alívio, de “até que enfim”. Mas ainda tinha a campanha adicional. Quem sabe ela não é melhor? E, por um tempo, pareceu ser mesmo.

Infelizmente, isso não se manteve. Todos os problemas técnicos do jogo principal, como ficar preso nos cenários, acontecem também nesta parte extra. E, para completar, o level design coloca alguns desafios MUITO chatos. Há um puzzle, por exemplo, em que você precisa reproduzir a ordem das notas.

ANÁLISE A TALE OF PAPER E AS MALDITAS VITROLAS

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Taí!

O problema é que isso deve ser feito sem auxílios visuais. As vitrolas que você deve ordenar soltam notas visuais diferentes, com dois ou três símbolos. Porém, a principal, que você deve imitar, solta apenas um tipo de nota visual. A diferença é exclusivamente sonora. Além disso, a música base inclui uma batida que deixa tudo ainda mais confuso, já que a que você reproduz não tem batida.

É o tipo de coisa que deve ser banal para quem tem ouvidos musicais. Aquelas pessoas que ouvem um som e falam algo “ah, isso é um mi”, ou que conseguem tirar uma música de ouvido. Eu não sou uma dessas pessoas. Recriar a música podendo confiar apenas nos meus ouvidos foi um dos maiores desafios que eu já venci em um videogame. Depois de muito tempo, consegui reproduzir a música, mas o jogo não se deu por vencido. Eu precisava repetir isso com duas outras músicas diferentes. Isso talvez fique tranquilo depois que o jogo sair e você puder consultar guias. Mas jogando antes do lançamento, não existem guias ainda. Eu sinceramente achei que fosse desistir. Mas prossegui. E fui recompensado com um chefe final.

O CHEFE FINAL DE A TALE OF PAPER

A Tale of Paper é um jogo sem combate. Seu desafio é usar as habilidades corretas para vencer os obstáculos. Porém, a campanha adicional termina com um chefe final. E, meu amigo, como ele é pentelho! Funciona assim, ele tem um tipo de ataque que você deve desviar. Eventualmente, depois de desviar muito, tem a chance de pular nele. Daí ele se recupera com um novo tipo de ataque. Depois de um tempo desviando, ele repete o anterior. Só depois de desviar dessas duas levas, dá para pular nele de novo. Na terceira fase, mais um tipo de ataque, seguido da repetição das duas fases anteriores antes de ter a oportunidade de vencer.

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Adoro este tipo de desafio, em que você vai planando e desviando das paredes.

É muito chato. Muito repetitivo. Você tem que desviar por vários minutos para atacar uma única vez, especialmente na terceira fase. E qualquer errinho, qualquer passo fora de área, te mata e volta do começo. Morrer na terceira fase é tão comum e tão frustrante que tem uma conquista de consolação se isso acontecer com você (curiosamente, essa funcionou aqui). Eu passei mais tempo nesse chefe e no puzzle das vitrolas do que passei EM TODO O RESTO DO JOGO. Preciso dizer que, quando os créditos subiram, estava com raiva, pensando “nunca mais quero jogar isso na vida”? Pois é.

A TALE OF PAPER X REFOLDED

A campanha adicional, por causa do chefe e das vitrolas, não tem salvação. Mas o problema é que a campanha principal, se funcionasse corretamente, seria muito fácil de recomendar. Ou, vá lá, mesmo que tivesse todos os problemas técnicos, mas desse para voltar do checkpoint sem precisar morrer (o que em geral não é possível), ainda seria possível curtir. Infelizmente, da forma que está, não é possível recomendar A Tale of Paper Refolded. Talvez um dia ele funcione melhor. Talvez não. Mas neste momento, infelizmente ele é quase não-jogável. E é uma pena, porque é fácil de imaginar um mundo em que este jogo seja muito bom. Pena mesmo.