Adr1ft

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O delfonauta que acompanha meus textos sobre games sabe que eu me tornei um grande admirador dos populares walking simulators, aqueles jogos com gameplay simples, nos quais você basicamente anda de um lado para o outro, mas que mesmo assim podem se tornar experiências mágicas, levando o turismo virtual a um novo nível.

Assim, desde que ouvi falar pela primeira vez deste Adr1ft, fiquei bem animado para experimentá-lo. Teríamos aqui um walking simulator no espaço ou, para ser mais preciso, um floating simulator. Isso, somado ao fato de que no PC ele está disponível para os dispositivos de realidade virtual, faz com que ele seja provavelmente o mais próximo que a maioria de nós vai poder chegar de ser um astronauta

Como eu não tenho um PC carnudo o suficiente para analisar games de forma justa, tive que segurar as expectativas até Adr1ft estar disponível para o PS4, mas finalmente esta hora chegou.

2001

Adr1ft é quase exatamente como você espera. Você controla uma astronauta que acorda após um evento catastrófico na sua estação especial, e agora tem que consertar várias coisas espalhadas pela estação para poder pegar um foguetinho de volta para a Terra.

Assim, o jogo envolve basicamente flutuar pela estação e pelo espaço rumo aos objetivos enquanto você coleta audiologs gravados pelos seus falecidos colegas, o que permite conhecê-los melhor e saber como era a relação entre eles.

O único aspecto mais tradicionalmente “game” do negócio é que seu oxigênio vai diminuindo com o tempo e de acordo com seus movimentos. Assim, conforme você flutua para lá e para cá, estará sempre procurando por O2, seja em cápsulas ou em máquinas de parede.

Adr1ft é bem lento, ainda mais lento do que um tradicional walking simulator. Você flutua devagarzinho em todas as direções e mesmo o boost, que você só vai destravar lá nos últimos 20% do jogo, não é assim tão rápido – e queima oxigênio adoidado.

Nada disso chega a ser exatamente um problema. Admito que eu achei que odiaria o oxigênio, que é basicamente um limite de tempo, mas isso acaba até ajudando para você saber para onde ir, embora seja sim deveras frustrante quando você morre, não tanto pela morte em si, mas porque cada vez que bate as botas tem que esperar um load de vários minutos.

GRAVIDADE

O que realmente incomoda no jogo são duas coisas: a primeira é que, durante minha campanha (que deve ter durado por volta de três horas), o PS4 saiu do jogo sozinho três vezes.

A segunda, e bem mais inconveniente, é que você fica a maior parte do tempo sem saber para onde ir. Você tem uma bússola, que mostra a direção do seu objetivo, mas ela obviamente mostra apenas em um círculo. E nem sempre o objetivo está na frente ou à direita, mas ele costuma ficar acima ou embaixo, e muitas vezes bem longe.

Assim, mesmo você apertando a alavanca direita, que faz aparecer ícones do que for “interagível”, é comum o objetivo estar tão distante que você sequer enxerga o ícone dele. Isso se por acaso estiver olhando na direção certa.

O hud tem alguns outros displays, em especial dois chamados “Vel” e “Dir”, que acredito que podem servir para mostrar a altura do objetivo, mas admito que não consegui sacar o funcionamento deles e o jogo também não explica. Isso fez com que eu passasse boa parte do tempo flutuando a esmo. Se meu oxigênio acabasse, eu ia em outra direção até eventualmente dar certo.

Os desenvolvedores dizem que se inspiraram bastante no filme 2001, mas jogando é impossível não lembrar do ótimo Gravidade.

Inclusive, Adr1ft lembra tanto o filme estrelado pela Sandra Bullock que se mudássemos apenas os nomes dos personagens poderia ser um jogo licenciado do filme.

O climão do jogo é muitíssimo bem construído, e eu imagino que deve ficar zip-a-dee-doo-dah em VR. Infelizmente, ao contrário do que todo mundo pensava, a 505 Games não tem planos de tornar o jogo compatível com o PS VR. Parece uma oportunidade perdida, até porque acredito que muito mais gente teria acesso a um PS4 com VR do que um PC futurista o suficiente para rodar um Oculus Rift nos conformes.

CADÊ O GEORGE CLOONEY?

Que Adr1ft é um jogo curto eu já sabia. Porém, admito que me surpreendi quando popou o troféu de fim de jogo. Não tanto pela duração, mas pela falta de conclusão na história. Sim, eu conheci bem toda a tripulação da estação espacial, mas admito que não descobri o que aconteceu ali e quais foram as decisões erradas da comandante que levaram a isso.

Talvez seja intencional. O gênero em si é mais forte quando é mais interpretativo, mas eu fiquei com a sensação de simplesmente ter flutuado de um lado para o outro até acabar, e não de ter vivido uma experiência marcante, como deveria ser.

Sacrifico meus bodes para os criadores voltarem atrás e abraçarem o PS VR quando este for lançado, pois sem dúvida o jogo será muito melhor – e vai vender muito mais – com os óculos de realidade virtual da Sony.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
adr1ftAno: 28 de março de 2016 (PC) e 15 de julho de 2016 (PS4)<br> Gênero: Floating simulator<br> Plataforma: PS4 e PC<br> Fabricante: Three One Zero<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: 505 Games<br>