Para quem não conhece, Bret Easton Ellis é o cara que escreveu O Psicopata Americano, que gerou o filme de mesmo nome e aquela música famosa dos Misfits.
Seus livros costumam tratar de temas como alienação e falta de perspectivas e de objetivos nas gerações atuais, sempre com mordacidade e com uma pegada politicamente incorreta, sem moralismos. Em suma, eu gosto dos assuntos que ele costuma abordar.
Abaixo de Zero, seu primeiro romance, vai na mesma toada, mas esse não me desceu tão bem. Vai ver porque não consegui embarcar na história de Clay, que, em férias da faculdade, volta para sua casa em Los Angeles. Toda sua família e amigos parecem trabalhar no show business e, como resultado, todos têm muita grana para gastar e muito tempo livre nas mãos. Somado ao típico tédio natural da juventude, já dá para ter uma ideia de que nada de bom pode sair disso.
O autor consegue captar bem o clima dos jovens ricos, mimados e inconsequentes, sempre atrás da próxima emoção fugidia. Pulando de balada em balada, encontrando e desencontrando amigos pelo caminho, tudo regado a muito sexo, drogas e música pop dos anos 80.
E talvez essa extrema competência em retratar esse pessoal seja justamente seu calcanhar de Aquiles. Sei que isso parece contraditório, mas Ellis consegue criar um clima tão palpável de tédio e fastio que isso acaba se derramando para a leitura. Nada acontece, nada muda, é sempre a mesma espiral vazia de baladas, bebidas e drogas.
Também não contribui o fato de que os personagens não me dizem nada. Estão muito distantes da minha realidade e são o tipo de gente com o qual eu jamais teria qualquer relação. Não conseguindo me identificar (ou mesmo simpatizar) com eles, simplesmente não me importo com o que lhes aconteça.
Os diálogos também são outro ponto que pegou para mim. Nunca vi tanta gente falar tanto sem dizer absolutamente nada. Mesmo entre amigos, fica claro que não há a menor intimidade entre ninguém e que todos os papos são absolutamente vazios e só servem como quebra-gelo e para espantar os silêncios constrangedores que, de outra forma, aconteceriam.
É óbvio que todos esses elementos são propositais, para contribuir com o retrato geracional que o autor está fazendo. Diabos, eu mesmo usei muitos desses elementos e desse estilo narrativo em meu próprio livro. Logo, deveria ter gostado desse aqui, mas não foi o que aconteceu. Na teoria, talvez, mas por se tratar de um universo muito distante do meu, dessa vez não rolou.
Ainda assim, se você gosta dessa temática de jovens perdidos na vida, sem objetivos ou ambições, tentando encontrar um caminho em todos os lugares errados, pode valer a pena dar uma chance a Abaixo de Zero. Afinal, como sempre, é tudo questão de gosto.