A volta do uniforme negro

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ATENÇÃO: O texto abaixo é repleto dos mais malvados spoilers. Só leia se não se importa com isso ou se já leu a história aqui resenhada.

Há alguns dias estava a organizar minhas edições do Homem-Aranha quando me bateu aquela vontade de reler algumas edições. Sorteei alguns poucos gibis e comecei a leitura. O primeiro era a edição 75, e após aquelas típicas histórias para encher linguiça, cheguei ao que realmente importava: Amazing Spider-Man.

Para quem não sabe, Amazing Spider-Man é a série principal do amigão da vizinhança. É lá onde as coisas realmente importantes acontecem. Todos os outros selos, como Sensational Spider-Man ou Friendly Neighborhood, por exemplo, não passam de uma forma da Marvel faturar mais em cima de seus leitores.

Nesta edição de Amazing Spider-Man, estava a primeira parte do arco Back in Black, aka A Volta do Uniforme Negro. Eu tinha boas lembranças da história, mas também lembrava que esta fora massacrada por boa parte das críticas. Com certo receio, comecei a leitura.

O que aconteceu em seguida foi, digamos, curioso. A história me prendeu de tal forma que fui correndo guardar as demais edições para pegar as edições 76, 77, 78 e 80, onde estão as demais partes do arco. E, ao terminar, tive certeza de que aquilo sem dúvidas se tratava do mais recente clássico do Homem-Aranha. E, como desculpa para reler tudo aquilo de novo, decidir fazer uma resenha para o DELFOS sobre aquela que eu chamo de a morte do Homem-Aranha.

A Volta do Uniforme Negro é um arco dividido em cinco partes que narra os eventos imediatos após a Tia May ser baleada por um assassino contratado. A história se divide entre Peter Parker caçando os responsáveis pelo atentado e a angustiante situação em que a família Parker se encontrava, fugitivos do governo, sem dinheiro e sozinhos.

A primeira coisa que me surpreendeu foi a arte de Ron Garney. Com um traço medíocre, ele conseguiu criar excelentes quadros de ação, logo notados na primeira edição, na sequência em que Parker ataca o prédio em que o assassino estava e logo depois leva sua tia ao hospital.

É nessa correria, nesse clima de desespero, que a história segue a desconstrução do herói. As situações perante o governo e os heróis somadas à sua identidade agora revelada colocam Peter em uma situação de vulnerabilidade, que o fará quebrar a promessa feita sobre o túmulo de seu tio.

Para quem já leu Os doze mandamentos do Sidney Sheldon (é um livro medíocre, eu sei, mas na biblioteca da escola não tem muita variedade) saiba que a história segue mais ou menos o mesmo contexto. Para Parker salvar sua tia, ele terá de renunciar a todas suas virtudes, todo seu código de honra. Ou seja, tudo que o Homem-Aranha representa. Sem medo de ferir seus inimigos, a caçada pelo submundo serve para provar ao leitor que agora Peter Benjamim Parker pode tudo.

Nesse momento, o uniforme negro entra em cena, como uma ponte entre o heroísmo e a justiça a qualquer preço (deve ter um filme do Steven Seagal com esse nome). Ponte que, aos poucos, vai se degradando, até o clímax, na luta entre Peter e o mandante do crime, tão épica quanto o Aranha vs Duende Verde na morte da Gwen Stacy.

Agora você deve estar se perguntando por que da história não recebeu o Selo Supremo Delfiano, não é? Bem, na tentativa de fazer um aranha mais badass, o roteirista colocou algumas frases de efeito. Digamos que ele não conseguiu um resultado muito satisfatório (“Você é um balão gigante pronto para ser estourado e eu sou a agulha”). E ainda reclamavam que faltava humor na fase Straczynski.

Além disso, como um cara que trabalhou tão bem no relacionamento de Peter e MJ (claro, fez muita besteira, mas ele soube trabalhar a evolução dos dois) pode deixar a ruivinha para segundo plano? Ela é tão importante quanto o sobrinho da Tia May! E ela é ruiva!

Pela coragem (talvez nem tanta coragem, já que a Marvel não tinha muito a perder com seu Um Novo Dia vindo aí) e pela construção que já vinha em desenvolvimento desde O Outro (que pra mim foi outra boa história), eu considero este um dos maiores clássicos da Casa das Ideias.

Considerações finais:

– Um assassino “comum” ter sucesso em algo que muitos vilões super-poderosos não conseguiram fazer foi genial.

– A história tem uma frase de efeito a cada duas páginas, e algumas são ridículas.

Spoilers: Peter não mata o rei do crime, mas promete fazê-lo caso sua tia morra.

– Para mim, esse arco está para o Homem-Aranha como O Que Aconteceu com o Homem de Aço está para o Super-Homem. Na verdade, achei esse arco superior ao do Alan Moore. Pare de fazer pipi na minha foto por isso!

– O cara responsável por destruir o casamento do Homem-Aranha é também responsável por esta história. Irônico, não?

– Esta história foi publicada em Homem-Aranha #75; #76; #77; #78 e #80 no Brasil, e em Amazing Spider-Man 539 a 543 nos EUA.

– Leia também a resenha de Um Dia a Mais.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
a-volta-do-uniforme-negroPaís: EUA<br> Ano: 2004<br> Autor: J. M. Straczynski e Ron Garney<br> Editora: Panini (Marvel)<br>