No cinemão hollywoodiano de hoje em dia, todo estúdio está atrás de uma franquia para chamar de sua. Uma marca que possa ser explorada durante anos, em vários filmes, e encha os cofres do estúdio. Seguindo esse pensamento, a série A Torre Negra seria uma aposta mais do que óbvia.
Sete livros (oito contando O Vento pela Fechadura) somando cerca de um “bazilhão” de páginas (vai por mim, eu contei) com uma mitologia rica a ser explorada e uma mistura de elementos capaz de agradar aos mais variados gostos do público. Em suma, tinha tudo para dar certo.
Claro, isso se fosse feito direito. Mas às vezes, você bem sabe, Hollywood bate cabeça e mata franquias em potencial com uma facilidade assustadora. A Torre Negra, o filme, infelizmente se encaixa nesse caso. Feito com uma preguiça gigantesca, no máximo arranha alguns dos elementos principais do livro, resultando apenas num filme nada e olha lá.
EU MIRO COM MEU OLHO
Não é fácil adaptar uma nova história para as telas, ainda mais uma baseada num material tão extenso. Contudo, queimando um pouquinho a mufa, está longe de ser impossível. E aí está a chave da “mehzice” dessa produção. Parece que nenhum dos envolvidos estava realmente a fim de fazer isso. Resultou em algo burocrático, para desespero dos fãs.
O filme não é exatamente uma adaptação dos livros, pincelando elementos de todos eles e tentando juntar tudo numa trama coesa. Ao invés disso, está sendo considerado uma continuação deles. Quem leu a saga literária sabe que a natureza da forma como ela acaba (para meu desespero) permite isso.
Pois bem, temos aqui Roland (Idris Elba), o último pistoleiro, buscando vingança contra o feiticeiro Walter (Matthew McConaughey), um sujeito tão malvado que matou o pai de Roland, chutou seu cachorro e ensinou palavrão para seu papagaio.
Walter quer destruir a Torre Negra, que protege os vários mundos (inclusive o nosso), e assim permitir a entrada de diversos demônios para uma festinha. Para isso, ele usa crianças com dons psíquicos, escancarando a ligação com O Iluminado, outro dos grandes clássicos de Stephen King.
O garoto novaiorquino Jake Chambers tem um potencial psíquico tão grande que sonha com Walter, Roland e o Mundo-Médio onde eles habitam. E enquanto tenta encontrar o pistoleiro, cai na mira de Walter, pois seu imenso poder pode ser exatamente o que ele precisa para enfim derrubar a Torre.
EU ATIRO COM MINHA MENTE
Se você leu os livros, sabe que tudo que acabei de relatar nos parágrafos acima tem muito pouco a ver com a trama central da saga original. Na verdade, ele pega alguns elementos principalmente do primeiro volume, e mistura com a subtrama dos sapadores, tentando criar uma espécie de história de origem, de início de jornada.
Isso não seria necessariamente um problema. Afinal, é uma adaptação e trata-se de muito material para condensar em um filme só, direcionado ao maior número de pessoas possíveis, e não apenas aos fãs xiitas de Stephen King.
Só que daí a fazer um filme tão sem alma de míseros 95 minutos de duração, já é forçar a barra. Tudo é apresentado de forma chocha, sem pegada. O Mundo-Médio de Roland, a história do pistoleiro, sua rivalidade com Walter, tudo ficou muito superficial, muito sem punch. Nada atraente.
Caramba, não precisava fazer um filme de duas horas e meia a três horas, como muitos fazem atualmente. Mas também não precisava ser um caso de “oito ou oitenta”. Tivesse incluído uma meia hora a mais para apresentar melhor as minúcias do universo da história e, sobretudo, para desenvolver os personagens, já teria rolado um considerável salto de qualidade.
Do que adianta ter dois baita atores do porte de Idris Elba e Matthew McConaughey como figuras centrais se eles não têm muito com que trabalhar? Assim, Roland é apenas aquela figura padrão do herói de ação taciturno e não resta a McConaughey outra opção senão seguir o caminho da canastrice para pelo menos tentar se divertir um pouco.
Por centrar mais na figura de Jake, o filme também assume uma pegada de aventura infantojuvenil distante do material original, bem mais sombrio e violento. A censura baixa do filme (PG-13) também contribui para isso e atrapalha na ação, que tem que esconder o sangue.
Uma das poucas coisas realmente legais da película é ver Roland manuseando seus revólveres e, sobretudo, recarregando-os. Já os tiroteios, que deveriam ser os momentos hell yeah do personagem, resultam mornos, com uma direção pouco inspirada.
EU MATO COM MEU CORAÇÃO
Enquanto assistia, ficava pensando que Kurt Wimmer, se fizesse algo parecido com o seu kung fu de armas de fogo do filme Equilibrium (2002), ou mesmo o diretor de Mandando Bala (Michael Davis), poderiam fazer miséria nessas cenas e tornar a coisa realmente impressionante.
Faltou um nome com estética própria no comando. Faltou vontade de fazer algo acima da média. Faltou gana de realmente transformar esse negócio numa franquia cinematográfica duradoura.
Da forma como ficou, A Torre Negra resultou num filme bastante medíocre. Até é capaz de divertir o público que não conhece nada da obra e não seja tão exigente. Mas para os já iniciados no Mundo-Médio de Roland, a sensação de decepção (ainda que o filme não chegue a ser uma porcaria) é inevitável.