A Loja Mágica de Brinquedos

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Voltando dessa cabine, me toquei de uma coisa. Acho que nunca assisti a nenhum filme com a Natalie Portman que não tenha gostado muito. De Star Wars a V de Vingança, passando até por filmes mais sérios, como Closer, o currículo da moça é praticamente impecável e se encaixa direitinho no meu gosto cinematográfico. Não é à toa que ela foi alçada ao cobiçado posto de princesinha nerd.

Pois então, A Loja Mágica de Brinquedos não é exceção. Contudo, não dá para negar que é um filme que visivelmente bebe na fonte de A Fantástica Fábrica de Chocolate (hum… chocolate…). Até mesmo o excêntrico senhor Magorium (Dustin Hoffman), lembra bastante o Willy Wonka simpático do Gene Wilder (que, por sua vez, nada tem a ver com o Wonka mala e irritante feito pelo Johnny Depp).

É comum em longas infantis as pessoas falarem que é “um filme sobre amizade”, “uma história de amor” ou coisinhas desse tipo. A Loja Mágica de Brinquedos é um filme sobre morte. Calma, delfonauta, não fique chocado. Não se trata de um drama e muito menos de algo chocante ou triste. Pelo contrário, ele passa uma forma positiva de encarar a morte. Como o próprio senhor Magorium fala em determinado momento, você não fica triste porque a pessoa morreu, mas porque você lembra da vida que ela teve antes. Não é bonito?

Por ter essa característica de ser um filme infantil que trata sobre a morte, é possível lembrarmos do excelente Ponte para Terabítia, mas o de hoje não tem nada de drama e na verdade é um filme muito fofo do começo ao fim. Putz, acabei de reparar que estou esquecendo a sinopse (Corrales começa a assobiar e a olhar para os lados enquanto fica “desenhando” na mesa com o dedo indicador). Então disfarça e vamos falar dela.

Molly Mahoney, a gracinha Natalie Portman, que provavelmente não agüentaria levar um tapão na bunda sem cair, trabalha em uma loja de brinquedos mágica. Assim como na famosa fábrica de chocolate, aqui não existe nenhuma explicação para a fantasia e muitas vezes a lógica absurda do senhor Magorium lembra bastante a de Willy Wonka. Por outro lado, no meu cérebro adulto, que ainda pensa como criança, faz muito mais sentido uma loja de brinquedos ser mágica do que uma fábrica de chocolate. Será que sou só eu que penso assim ou será que isso é porque eu gosto mais de brincar do que de comer?

Enfim, Magorium decide encerrar sua vida e então contrata um contador (Jason Bateman) para colocar as finanças em ordem para que ele possa dar a loja para a sua sucessora. A loja também tem um assíduo freqüentador, que é um molequinho que coleciona chapéus (Zach Mills).

Cada um dos personagens tem uma inadequação. Molly está tendo dificuldades com a transição para a vida adulta e se sente empacada. Eric, o moleque, não consegue arrumar amigos porque todo mundo acha ele estranho. Já o contador não acredita na fantasia e nunca pára de trabalhar. Fala sério, é impossível ter mais identificação com os personagens do que isso. Basicamente cada um dos personagens representa um momento na vida de um nerd médio e só isso já vale o filme.

Também merece destaque o nome de Zach Helm, que fez o roteiro do ótimo Mais Estranho que a Ficção e que aqui cuidou também da direção. E o cara mandou bem. Tem uma cena específica, sem diálogos, apenas música, onde Eric conversa com o contador através do vidro, escrevendo em pedaços de papel, que é talvez a cena mais bonita do ano.

Infelizmente, o roteiro do cara não conseguiu manter o nível alto o tempo todo. O último ato é realmente bem chatinho e poderia ter sido encurtado. O que realmente vale é Dustin Hoffman e sua interpretação do senhor Magorium, de quem é simplesmente impossível não gostar. Eu costumava lembrar do cara por ter dado vida ao tremendão Capitão Gancho, mas agora ele coloca mais um personagem extremamente carismático em seu portfólio.

Outro problema que não posso deixar de falar é da tradução. De acordo com a lógica do senhor Magorium, um contador é mutante. Essa é uma piada recorrente, pois os personagens freqüentemente se referem ao cara como mutante. O problema é que as legendas na cena crucial, onde essa lógica é explicada, estão muito mal traduzidas e, se você não conhece a língua de Shakespeare, não vai entender nada. Talvez a versão dublada esteja mais caprichada nesse aspecto, mas eu só assisti à legendada (felizmente).

De qualquer forma, é um filme deveras fofo, que deve ser assistido por qualquer pessoa que ainda tenha traços da infância e de fantasia no coração. E, se você não se encaixa nessa descrição, está fazendo o quê no DELFOS? 😉

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