Se o Ben Affleck ator é considerado bastante limitado e já fez uma grande cota de porcarias em sua carreira, o Ben Affleck diretor, ao contrário, estava com o boletim azul. Estava. Em seu quarto longa-metragem comandando, A Lei da Noite, ele dá sua primeira escorregada atrás das câmeras.
Joe Coughlin (o próprio Affleck) é um fora-da-lei na década de 1920. Para se vingar de um mafioso que lhe deu um sacode, ele acaba entrando para uma gangue rival e passa a comandar a distribuição de rum na Flórida. Vale lembrar, a história se passa no período da Lei Seca, e logo Joe prospera nos negócios.
E também passa a atrair vários problemas, como rivais, superiores gananciosos e a própria Ku Klux Klan interferindo em seus negócios. E como todo bom mafioso, ele costuma resolver esses contratempos com chumbo e muita violência. E embora a sinopse possa até parecer legal, o filme nunca chega a empolgar e este é o grande problema.
Tecnicamente ele é muito bem dirigido. Já deixamos estabelecido na resenha de Argo que o sujeito manja do riscado. A ambientação de época também é muito bonita, com seus figurinos e cenografia. E isso deixa o filme com um estilo bem elegante. Porém, é só isso. Muita forma, sem conteúdo.
A história nunca engrena, os personagens não possuem carisma, situações que parecem importantes nunca são plenamente desenvolvidas, ele patina em algumas subtramas supérfluas que poderiam ser facilmente cortadas. É tudo muito morno, sem pegada. Fiquei com a sensação de que Affleck (que também assina sozinho o roteiro) não estava com a cabeça totalmente no projeto.
Fez bem a parte técnica, mas parece ter se descuidado da condução da história. Tudo foi levado no piloto-automático, resultando num trabalho bastante medíocre. O pior é que o começo, passado em Boston, até leva a crer que vai render um neo noir interessante, mas a mudança de ambientação para a ensolarada Flórida faz essa impressão inicial cair por terra.
Trocando em miúdos, trata-se de um típico filme nada. A casca é bonitona, mas o recheio não é lá essas coisas. Contudo, é assistível, mas na média de produções do gênero, não será lembrado, como dificilmente será lembrado algumas horas depois de subirem os créditos finais.
Continuo gostando bastante do trabalho do “parça” do Matt Damon como diretor, que lhe valeu como renascimento artístico, mas A Lei da Noite acende uma luz de alerta. Não é uma vergonha em sua filmografia, mas demonstra que se ele não tomar mais cuidado das próximas vezes, ela periga ficar tão maculada quanto sua filmografia de ator.