O delfonauta cinéfilo certamente se lembra do nome de Zhang Yimou como o diretor de Herói (2002) e O Clã das Adagas Voadoras (2004), dois dos mais belos filmes já feitos sobre chineses desafiando a gravidade através do kung fu. Claro, ele continuou dirigindo outras coisas depois desses, mas admito que não acompanhei mais sua carreira desde então.
Eis que ele voltou aos holofotes com A Grande Muralha, que estreia esta semana em nossas salas. Agora Yimou deixa de lado a combinação perfeita de filme de arte com entretenimento atingida nos dois exemplos citados no parágrafo anterior e abraça totalmente o cinemão pipoca mainstream.
Matt Damon e Pedro Pascal (o agente Peña de Narcos e o Oberyn Martell de Game of Thrones) são dois mercenários que estão no oriente a fim de adquirir uma nova e letal arma, o pó negro, mas que você deve conhecer pela alcunha de pólvora. Eis que eles chegam à Grande Muralha da China, que está em estado de cerco e sendo protegida por um exército gigantesco.
Acontece que ela está sendo atacada por uns bichos letais e muito inteligentes que parecem uns cachorrões mutantes verdes. Seja por autopreservação, seja para conseguir a pólvora do exército chinês, os dois estrangeiros ajudarão na batalha contra os monstrões.
E é isso. Até pela natureza bestial do inimigo, ele até lembra um pouco o tremendão Tropas Estelares. Claro, uma versão medieval e sem a mesma qualidade da película do Paul Verhoeven. O problema é que embora A Grande Muralha seja divertidinho, ele não apresenta nada de novo. Você certamente já viu este filme antes, com alguma outra roupagem.
Também está longe dos dias de glória de Zhang Yimou, inclusive no visual. Quem assistiu a Herói e O Clã das Adagas Voadoras sabe que o diretor possui uma estética visual apuradíssima, de um colorido de encher os olhos. Isso não se repete aqui, e essa estética foi bastante diluída.
Ela só dá as caras com mais força nas diferentes cores de cada regimento do exército chinês. O design das armaduras deles, por sinal, também é muito bacana e até chega a lembrar alguns animês, como Os Cavaleiros do Zodíaco, por exemplo. Aliás, a líder do regimento azul, das mulheres lanceiras do bungee jumping (você entenderá quando assistir) é tão linda e com tanta cara de personagem de animê que ganhou vida, que devia ser crime.
De resto, é um filme de ação bem previsível, com roteiro padrão seguindo cada chavão do gênero. É bem fácil adivinhar tudo que vai acontecer. E o design genérico e pouco inspirado das criaturas também não ajuda a melhorar a coisa. Ainda assim, funcionou direitinho enquanto durou.
A Grande Muralha se equilibra entre um filme nada e um apenas razoável. Vai ver, como eu não esperava nada, até me diverti enquanto assistia. Certamente há coisas melhores para ver na tela grande, então o melhor mesmo talvez seja deixá-lo para assistir em casa, com uma turma. Desta forma, pode ser que renda um pouco mais.
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– O Clã das Adagas Voadoras – O kung fu que desafia a gravidade.
– Flores do Oriente – Neste ninguém voa.