A evolução dos consoles – Parte 1

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A idéia original para essa matéria partiu do Bruno Sanchez, que pretendia escrever um texto sobre a evolução dos controles. Por algum motivo, ele acabou desistindo. Eu, que sempre achei a idéia muito legal, decidi dar um upgrade nela e falar não apenas dos joysticks, mas também dos consoles, fazendo uma pequena introdução para cada geração e destacando os jogos que foram carros-chefe de cada sistema, tanto pelo número de vendas e popularidade, como pelo meu gosto pessoal. Vou tentar fazer a lista mais completa possível (separando por gerações e dando um intervalo de anos onde a geração em questão esteve no seu auge), mas é provável que falte alguma coisa. Videogames que ninguém conhece ou que duraram muito pouco, como o Telstar ou o TV Fun serão ignorados, para evitar que esse texto fique com um milhão de caracteres. Também pretendia falar sobre os portáteis, mas durante a pesquisa, vi que isso também aumentaria muito o tamanho do texto, então vou me limitar a consoles “grandes”. Mesmo assim, se lembrar de algo importante que está faltando, o espaço para comentários é todo seu. Além disso, eu nunca joguei alguns dos videogames listados, então minha opinião nesses casos vai ser baseada no que li sobre eles ou simplesmente não darei opinião. Sem mais delongas, vamos à lista, que promete ser bem longa.

O INÍCIO: Primeira geração (1972 a 1979) e segunda (1976 a 1984)

Muitas pessoas pensam que o Atari 2600 foi o primeiro videogame da história, mas isso é incorreto (o primeiro foi Pong, aquele joguinho semelhante a pingue-pongue em que dois paus ficam rebatendo um quadrado). O Atari 2600 foi, sim, o primeiro console a ser popularizado e seus concorrentes não chegaram nem perto de ameaçar a sua supremacia.

Atari 2600

Fabricante: Atari

Lançamento: 1977

Sobre o console: O Atari 2600 foi o primeiro console bem sucedido. Se você já leu esse texto, sabe da importância da minha mãe para a formação do meu gosto musical. O que você não sabe é que, também graças a ela eu entrei no mundo dos videogames. Eu esperava ansiosamente que ela chegasse do trabalho para jogarmos juntos o Atari, que na época chamávamos apenas de “videogame”. E eu tomava um coro feio da minha progenitora. Mas ela não perdia por esperar, pois quando chegou o Master System, a história mudou um pouquinho. Mesmo assim, a sensação de jogar Atari era quase como participar de um programa de TV. Era uma novidade, era algo diferente e que nunca mais vamos sentir, já que as crianças hoje já nascem com um videogame na sala, não tem aquela novidade de um novo entretenimento surgindo. Outras versões foram lançadas depois, o Atari 5200 e o Atari 7800, mas sem o mesmo sucesso e popularidade.

Sobre o controle: Era um quadrado com um botão e uma alavanca. Verdade seja dita, jogar Atari era uma experiência um tanto erótica. O problema é que a alavanca era muito pequena e deixava a maior parte da mão para fora. No caso dos videogames, tamanho é documento. Teve também um outro controle que era uma bolinha que você girava, quase um mouse, que servia para jogar games como Arkanoid.

Sobre os jogos: Aqui surgiram ou foram popularizados alguns dos maiores clássicos da história, como Donkey Kong, River Raid, Pac-man e Frogger, sem falar no meu preferido, que não é tão famoso, mas que é até mais legal que esses, Montezuma’s Revenge. Nome complicado para uma criança falar, então eu costumava chamá-lo simplesmente de “detetive”.

Pontos fortes: Não tinha concorrente. Na verdade, tinha, mas nenhum chegava nem perto (teve até um console da Sega, o SG-1000). Atari era sinônimo de videogame. Os jogos eram baratos e traziam ótimas adaptações de fliperamas.

Pontos fracos: Gráficos e sons eram péssimos, mas ninguém se preocupava com isso. A única coisa que realmente me incomodava era o tamanho da alavanca, mas tinha outras versões do joystick com alavancas maiores, então não chegava a ser um problema. Na verdade, podemos dizer que o Atari 2600 talvez tenha sido o videogame mais caprichado e com menos problemas da história (lembrando que não dá para comparar um videogame de 1977 com um de 2007, temos que analisá-lo de acordo com o contexto da época).

Carros-chefes: Donkey Kong, River Raid, Pac-man e Frogger.

OS 8 BITS – 1983 a 1987

Aqui a guerra começou: Sega X Nintendo. De um lado, milhões e milhões de seguidores da Big N. Do outro, o Rezek e eu defendendo com unhas e dentes a superioridade da Sega, perdendo em números, mas nunca em argumentos ou em qualidade dos jogos. 😉

Nintendo/Nes/Nintendinho/Family Computer/Famicom

Fabricante: Nintendo

Lançamento: 1983

Sobre o console: O Nintendinho (como foi carinhosamente apelidado depois do lançamento do Super Nintendo) foi um videogame extremamente bem sucedido (60 milhões de consoles vendidos), chutando dolorosamente a bunda da Sega (que vendeu 13 milhões de Master Systems). Claro que isso foi influenciado pelo fato de que o NES foi lançado três anos antes, mas ainda assim, por mais “Seguista” que eu seja, não dá para negar que este foi um console especial, que introduziu muita gente ao maravilhoso mundo dos games. Também tinha um sistema de cartucho interno (como um videocassete) o que, embora fosse muito mais um gimmick do que qualquer outra coisa, era bem legal. No Brasil, foram lançadas várias versões de “consoles compatíveis com Nintendo” (o que era uma forma bonita de dizer “não autorizados pela Nintendo” – embora acredito que alguns até fossem), dos quais o mais popular era, sem dúvida, o Phantom System.

Sobre o controle: Era retangular, tinha um péssimo direcional em cruz (coisa que a Nintendo nunca fez bem, já que direcionais em cruz sempre foram inferiores e ela nunca mudou isso), botão start (que também pausava o jogo), select (que sempre achei desnecessário, já que é bem mais prático fazer seleções com o direcional) e dois botões de jogo, A e B, que não seguiam a ordem lógica e dificultavam que jogadores casuais pegassem e saíssem jogando, pois tinham que ficar olhando para o controle a toda hora para ver que botões estavam apertando. Esse é um defeito que se mantém até hoje, em todos os consoles da Nintendo e por isso só vou comentar aqui. Nos demais presentes nessa lista, simplesmente acrescente “ordem dos botões” nos pontos fracos de todos os videogames da Big N. Muitos outros controles foram lançados, mas eu nunca vi nenhum deles. Teve até uma luva, que nunca entendi direito como funcionava.

Sobre os jogos: Aqui o NES brilhava. Foram lançados milhares de jogos, a maioria licenciados de programas de TV e filmes. Verdade seja dita: é muito mais emocionante jogar, por exemplo, com as Tartarugas Ninja do que com um ninja genérico. Além disso, a Nintendo era apoiada por um monte de softhouses e não deixava que as fabricantes lançassem seus jogos para os demais consoles, o que fazia com que várias franquias fossem exclusivas. Aliás, aqui surgiram muitas franquias que continuam até hoje com força total, como Castlevania, Mega Man, Metroid e, claro, o mascote da Nintendo e uma das melhores séries da história: Super Mario Bros. Lembro até hoje da primeira vez que joguei com o encanador bigodudo. Foi paixão à primeira vista e o que eu mais queria era que lançassem uma versão para o Master (ei, o que eu sabia de guerras de marcas naquela época?). Embora os jogos mais vendidos do console sejam, oficialmente, o primeiro e o terceiro Super Mario, um jogo que fez muito sucesso aqui no Brasil foi TMNT 2 ou o popular “Turtles Dois”, que todo mundo dizia ser igual ao do fliperama, mas que, embora fosse uma adaptação era, claro, bem inferior. Isso não me impediu de passar anos da minha infância sonhando com o dia em que eu teria um jogo das Tartarugas Ninja, o desenho do qual eu mais gostei na vida. Aliás, alguém lembra de Battletoads, chamado por aqui na época de “Sapos Ninja”?

Pontos fortes: Imensa variedade de jogos de qualidade, muitos licenciados de personagens famosos, como Tartarugas Ninja, Batman, Tico e Teco, etc. Era possível pausar pelo controle. Ensinou muita gente a gostar de videogame. Tinha jogos do Mario (outra característica que estará em todos os “pontos fortes” da Nintendo).

Pontos fracos: Botões invertidos, contrariando a ordem lógica. Gráficos bem fracos, especialmente as cores, sempre meio amarronzadas, deixavam muito a dever nesse aspecto ao Master System. Transformou muita gente em nintendistas. 😉

Carros-chefes: Super Mario, Turtles 2, Zelda e Yo! Noid (esse não fez tanto sucesso quanto os outros, mas eu o adorava).

Master System

Fabricante: Sega

Lançamento: 1986

Sobre o console: Fala sério, esse foi meu primeiro videogame (o Atari era da minha mãe), nada mais natural do que eu ter um carinho todo especial por ele. Particularmente, ainda o acho um dos videogames mais bonitos da história. Eu adoro aquele detalhe vermelho no meio. O Master System era tecnicamente bem superior ao Nintendinho (também pudera, saiu três anos depois), mas nunca atingiu o mesmo sucesso. Apesar disso, foi, aqui no Brasil, possivelmente o console com a maior duração de todos e recebeu inclusive uma versão wireless em 1994. Tinha como maior gimmick um óculos 3D para o qual pouquíssimos jogos foram desenvolvidos e o efeito 3D deixava muito a desejar. Além disso, o óculos era desconfortável e dava dor de cabeça, o que fazia com que, alguns minutos depois de jogar com ele, você optasse por mudar para a versão 2D do jogo. Quando foi lançado no Brasil pela Tec Toy, o Gênesis já existia nos EUA. Provavelmente a Tec Toy optou por lançar um console mais barato para testar o mercado e, com o sucesso, lançou o Mega Drive cerca de um ano depois, enfurecendo crianças que passaram meses convencendo os pais a comprar um Master para depois ter que fazer isso novamente pouco tempo depois.

Sobre o controle: Nesse ponto, a Sega sempre mandou melhor que a Nintendo. O controle do Master era retangular e com dois botões, semelhante ao do Nintendinho, mas com um ótimo direcional. Além disso, os botões, chamados 1 e 2, seguiam a ordem lógica. O único problema é que não tinha pausa pelo controle (você precisava ir até o console para pausar). Teve também uma pistola para jogos de tiro, talvez a única do gênero a realmente se tornar popular na história dos games.

Sobre os jogos: Não tinha a mesma variedade de jogos do concorrente, já que quase todos os jogos eram fabricados pela própria Sega (a Nintendo nessa época se limitava a fazer quase exclusivamente jogos do Mario, já que tinha um zilhão de outras softhouses para cuidar disso), mas vou dizer, a Sega mandava muito bem nesse aspecto. Jogos legais para o Master System não faltam. Black Belt, por exemplo, foi o primeiro beat’em up que joguei e foi, por muito tempo, um dos meus preferidos. Isso sem falar em Alex Kidd, Sonic (que surgiu bem mais tarde), Shinobi, California Games (o popular “Jogos de Verão”), Golden Axe, Castle of Illusion (o jogo do Mickey) e tantos outros grandes clássicos da minha infância e, possivelmente, da sua também. Teve alguns títulos adaptados para o mercado brasileiro, como Wonder Boy in Monster Land, que virou Mônica no Castelo do Dragão, mas também teve alguns 100% desenvolvidos em terras tupiniquins, como Sítio do Pica-Pau Amarelo e Castelo Ra-Tim-Bum, o que, pelo que sei, nunca tinha sido feito antes e nem foi repetido depois com outros consoles.

Pontos fortes: Gráficos e sons. Controle tinha um bom direcional e botões que seguiam ordem lógica. Ótimos jogos, capazes de rivalizar com os também fenomenais games da concorrência e alguns inclusive desenvolvidos para o mercado brasileiro. Meu primeiro videogame. 😉

Pontos fracos: Óculos 3D que não funcionava direito. Falta de pausa pelo controle. Pouca variedade de jogos.

Carros-chefes: Alex Kidd, Sonic, Shinobi, California Games, Golden Axe, Castle of Illusion

OS 16 BITS – 1987 a 1996

Aqui a guerra foi declarada de vez! A Sega literalmente agarrou a Nintendo pela garganta disposta a arrancar a coroa nem que tivesse que jogar sujo atacando diretamente a “inimiga” (através de propagandas como “Genesis does what nintendon’t”, trocadilho que significa algo como “Genesis faz o que a Nintendo não faz”). Aliás, a competição nunca foi tão acirrada como nessa geração. As softhouses começaram a fazer jogos para diversas plataformas, o que deixava as diferenças entre eles quase cosméticas. De qualquer forma, por mais fanáticos que os seguistas e os nintendistas fossem (e eram), algumas franquias simplesmente ficavam melhores em determinados consoles, já que eles tinham características bem diferentes e, de certa forma, até complementares (eu colocaria os dois, inclusive, como os melhores videogames da história – lembre-se, adequando-os à época do lançamento). Quase todo adolescente nos anos 90 tinha o Mega Drive ou o Super Nes (muitos sortudos – dos quais infelizmente nunca fiz parte – tinham os dois) e era muito comum grandes amizades começarem com a simples pergunta “que videogame você tem?”. Chamar alguém para ir à sua casa jogar videogame era comum, já que quase todos os jogos permitiam partidas cooperativas. Era inclusive possível ter uma boa idéia da personalidade do cara pelo simples fato de ele preferir a Sega ou a Nintendo (nessa época, o Rezek e eu ganhamos reforços e a diferença de popularidade entre as duas não era tão discrepante como nas gerações anteriores e nas seguintes). Foi a geração mais longa de todas e, sem dúvida, a mais rica. Foi uma época mágica da qual eu acredito que todos os gamers de mais de 20 anos vão sempre lembrar com carinho.

Mega Drive/Genesis

Fabricante: Sega

Lançamento: 1988

Sobre o console: O principal console da minha história e, tenho certeza, de muitos delfonautas também. Não foi o primeiro 16 bits (título que fica para o Turbografx-16), mas, assim como aconteceu com o Atari na segunda geração, foi o primeiro a se popularizar. Inicialmente, o objetivo da Sega era aumentar sua participação no mercado contra o Nintendinho e, por causa disso, o Mega Drive tinha jogos com conteúdo mais adulto, como o RPG The Immortal, a primeira vez que eu vi um monstro sendo fatiado ao meio em um videogame (e isso era bem mais assustador naquela época). Isso se tornou uma ótima jogada, principalmente quando a violência em games se tornou moda e a Nintendo, teimosa que só ela, não aceitava que seus jogos tivessem sangue. Logo, claro, a Big N lançou o Super Nintendo e daí a briga começou para valer. Para dar umas porradas no Mario e alcançar parte do público infantil, a Sega decidiu substituir seu antigo mascote, o Alex Kidd (aquela coisa bizarra que ninguém sabia se era um moleque ou um macaco), pelo porco espinho mais tremendão da história: Sonic. Os jogos do Sonic tinham como objetivo serem versões mais descoladas do inocente Mario e foram muito bem sucedidos nisso. Sonic e Mario se tornaram inimigos tão mortais quanto suas fabricantes e ambos eram, discutivelmente, os melhores jogos de cada console. Eles tinham que competir não apenas em videogames, mas em diversos produtos, como lancheiras e desenhos para a TV. O Mega Drive também foi o primeiro console a ter algum tipo de funcionalidade online, mas a experiência foi um fracasso. Teve uns acessórios turbinadores que eram basicamente outros videogames que dependiam do console para funcionar, mas falamos disso em breve. Por fim, foi o primeiro a apresentar o conceito de retrocompatibilidade, embora para jogar títulos de Master, fosse necessário um adaptador vendido separadamente.

Sobre o controle: Foi a primeira vez que um controle tinha um formato mais ergonômico. Tinha três botões (A, B e C, em ordem alfabética) e o start, além de um direcional tremendão. Posteriormente, com a moda dos jogos de luta, a Sega lançou um controle com seis botões (acrescentando X, Y e Z acima dos anteriores) e ainda um botão “de ombro”, chamado Mode. O controle e a jogabilidade no geral eram fatores em que o Mega era incomparável. Era inegavelmente muito mais fácil dar Shouryukens e coisas do tipo no console da Sega do que no da Nintendo, primeiro porque o controle era muito mais bem desenvolvido e depois porque a resposta do Super Nes era bem mais lenta, como ficava muito claro em jogos como Mortal Kombat.

Sobre os jogos: Muitos beat’em ups (bons tempos), RPGs, ótimas adaptações de fliperamas e jogos fofos de plataforma habitaram a gameografia deste console, sem falar de muitos completamente inovadores, como o maravilhoso Toe Jam & Earl, que mantenho até hoje como uma das minhas franquias preferidas e como um dos games mais engraçados da história (rivalizando nesse quesito até com a fenomenal série Monkey Island). Embora as outras softhouses agora fizessem jogos para a Sega, ela não se acomodou e criou a maioria dos clássicos do sistema. Contudo, algumas softhouses, como a Konami, nitidamente preferiam fazer jogos para a Nintendo, já que suas grandes franquias, como os jogos das Tartarugas Ninja, nunca foram tão bons nos consoles da Sega. Outro exemplo é o atraso no lançamento de Street Fighter II, carro-chefe do Super Nes e que ficou anos sendo desenvolvido para Mega (provavelmente por lobby da Big N). Por outro lado, em jogos baseados em desenhos da Disney, o Mega Drive brilhava, graças à desenvolvedora Virgin, amiga de longa data da Sega.

Pontos fortes: Jogabilidade fenomenal para a época, deixava o Super Nintendo no chinelo, principalmente em jogos de luta. Teve um novo fôlego com os acessórios turbinadores. A maior parte dos jogos saía no Brasil e podiam ser comprados por preços acessíveis em qualquer supermercado. Sem frescuras: se um jogo precisava de sangue, ele teria sangue. Mortal Kombat que o diga. Na minha opinião de garoto sega, o melhor videogame da história.

Pontos fracos: Gráficos e sons muito inferiores aos do Super Nes. Era comum as vozes parecerem estar sendo ditas por bocas fechadas. Algumas softhouses, como a Konami, pareciam sabotar os jogos que faziam para a Sega, enquanto criavam maravilhas para o Super Nes.

Carros-chefes: Toda a série Sonic, Streets of Rage, Golden Axe, Mortal Kombat (com sangue e fatalities iguais aos do fliperama), Toe Jam & Earl, Pit Fighter, Street Fighter e jogos de luta no geral.

Super Nintendo/Super Nes/Super Famicom

Fabricante: Nintendo

Lançamento: 1990

Sobre o console: Se o Mega Drive foi, para mim, o melhor videogame da história, o Super Nintendo sem dúvida chegou bem perto. Tecnicamente poderosíssimo para a época, permitia adaptações de fliperamas com pouquíssimas diferenças. Inclusive, um de seus títulos mais populares foi Street Fighter II, uma transcrição fidelíssima do arcade. Tamanho poder, contudo, não vinha de graça e o SNES (como foi apelidado pelas revistas de games da época) apresentou aos jogadores o conceito de “loading”. No geral, duravam apenas alguns segundos, mas foi a primeira vez que as pessoas se tocaram que as fases precisavam ser carregadas uma por vez (ou, em alguns casos, mais de uma vez em uma fase), já que no Mega Drive e nos consoles anteriores era praticamente instantâneo. Isso também era refletido na jogabilidade e alguns títulos, como Mortal Kombat, tinham uma resposta ridiculamente lenta para os controles (acredito que, nesse caso, o personagem demorava cerca de um segundo para fazer o que você mandou). No geral, quando um jogo saía para o Mega e para o SNES (tirando os casos das fabricantes nintendistas, como a Konami), este último tinha gráficos e sons bem melhores, mas o do console da Sega tinha uma jogabilidade ridiculamente superior e a ação rolava de forma bem mais rápida e dinâmica, o que deixava o jogo bem mais divertido, na minha opinião. Um bom exemplo dessas características é o próprio Mortal Kombat (e isso sem falar do sangue).

Sobre o controle: Era quase retangular (menos anatômico que o do Mega), mantinha o péssimo direcional em cruz e os botões fora de ordem (desta vez, quatro deles, o que deixava quase impossível que jogadores casuais decorassem qual era qual e tínhamos que ficar pausando o jogo para olhar para o controle sempre que alguém falava algo como “aperta o Y”). Manteve o inútil botão select e teve, como inovação, os botões “de ombro”, L e R que, curiosamente, tinham o nome correto (o da direita era o R e o da esquerda o L e não o contrário, como todo mundo esperava da Nintendo – naquela época ninguém sabia que a ordem invertida era porque a Big N teimava em seguir o padrão oriental o que, aliás, não faz sentido, pois deveria, então, usar as duas primeiras letras do alfabeto japonês). Apesar do bom conceito dos botões de ombro, é possivelmente um dos controles mais mequetrefes da história, graças ao direcional, à péssima ergonomia e à ordem bizarra dos botões “de jogo”. Quando falo disso, alguns nintendistas dizem “quão difícil pode ser decorar quatro botões?”. E quanto a isso, eu respondo que, se você tem o console, acaba acostumando, mas se você, como eu e tantos outros jogadores casuais, jogava Super Nes só quando ia na casa de algum amigo que tinha o console, era simplesmente menos intuitivo do que um controle tem que ser.

Sobre os jogos: Adaptações fidelíssimas de fliperamas deixavam os jogadores impressionados com a capacidade técnica do console. Mortal Kombat, por exemplo, era graficamente idêntico ao original. Além dos tradicionais jogos do Mario (que sempre foram maravilhosos), teve como principal lançamento um Street Fighter 2 virtualmente idêntico ao arcade (prejudicado apenas pela jogabilidade do console e pela falta de seis botões na frente), que fez com que muita gente comprasse o SNES única e exclusivamente para jogá-lo. Embora, desde essa época, estivesse programada também uma adaptação para Mega, a Capcom enrolou por muito tempo para lançá-la, provavelmente por lobby da Nintendo, que não queria perder sua galinha dos ovos de ouro. A Capcom também mandou ver numa versão do beat’em up clássico Final Fight que, embora tenha uma fase e um personagem a menos que o original, ainda era um dos grandes jogos do console. Tinha também a parceria com a Konami, que fazia jogos tremendões das Tartarugas Ninja, como Turtles in Time e Tournament Fighters e que, para Mega, fazia coisas extremamente meia boca (o Tournament Fighters de Mega parece ter sido feito por alguém que nunca jogou videogames de tão ruim, com certeza o colocaria entre os piores jogos da história). A Nintendo, por si só, fazia pouquíssimos jogos, mas os que fazia se tornavam imensos sucessos, mesmo que não fossem do Mario. Como exemplo, cito o fenomenal Star Fox (que tinha gráficos terríveis, mesmo para a época, mas que é possivelmente um dos games mais divertidos da história) e F-Zero.

Pontos fortes: Gráficos e sons. O console tinha capacidade de criar vozes cristalinas e imagens coloridíssimas, possibilitando jogos tecnicamente impressionantes. Além disso, tinha jogos muito bons. Ah, e teve Street Fighter alguns anos antes do Mega.

Pontos fracos: Jogabilidade e tempos de loading. Era mais difícil encontrar jogos de SNES do que de Mega para comprar e eles eram mais caros. Preciso falar da ordem dos botões e do direcional em cruz?

Carros-chefes: Super Mario World, Mario Kart, Zelda, Street Fighter, Star Fox, Tartarugas Ninja.

Neo Geo

Fabricante: SNK

Lançamento: 1990

Sobre o console: O fliperama que muda de jogo. Era assim que todo mundo se referia ao Neo Geo que, na época, era sinônimo de poder. Os nerds viam jogos como Art of Fighting na locadora e inundavam o local de babas, graças aos gráficos quase perfeitos e a seus personagens do tamanho da tela. Infelizmente, babar era tudo que a maior parte de nós podia fazer, já que o Neo Geo era ridiculamente caro, tanto o console quanto os jogos. Posteriormente, foi lançado uma versão cujos jogos eram em CD que, ao invés de melhorar o console, teve o objetivo de piorar para baixar o preço. Embora o Neo Geo CD ainda fosse bem poderoso, os gráficos eram um pouco inferiores aos originais e os tempos de loading eram enormes, tão longos que normalmente tinham mini-games para entreter os jogadores enquanto a fase carregava. Agora, considerando que a maior parte dos bons jogos de Neo Geo eram de luta, imagine esperar mais de um minuto cada vez que for iniciar uma batalha nova. Não é nada legal.

Sobre o controle: Era grande e feio, praticamente um pedaço de uma máquina de fliperama arrancada. Você tinha que colocar o dito cujo no seu colo para jogar e, ao invés de um direcional, tinha uma alavanca igual ao dos arcades, além de quatro botões, em uma única fileira. Rivaliza com o do Super Nes como um dos piores da história. Talvez até ganhe.

Sobre os jogos: A SNK era consagrada como uma ótima fabricante de jogos de luta para fliperama, como Fatal Fury, Art of Fighting e, posteriormente, seu maior sucesso, King of Fighters. Ela simplesmente lançava esses jogos em cartucho para seu console caseiro, sem tirar nem pôr e esse era o grande appeal do Neo Geo (ter fliperamas em casa), mas isso também era um de seus principais problemas (pouca variedade de gêneros).

Pontos fortes: Os jogos de luta. Gráficos e sons nunca impressionaram tanto os jogadores.

Pontos fracos: Preço, pouca variedade de jogos, tempos de loading (na versão CD).

Carros-chefes: Fatal Fury, Art of Fighting, King of Fighters.

Sega-CD/Mega-CD e 32X

Fabricante: Sega

Lançamento: 1992 (Sega-CD) e 1994 (32X)

Sobre o console: Nunca um passo de gerações foi tão diferente quanto com o Sega-CD (que, na verdade, era da mesma geração, tanto ele quanto o 32X eram só acessórios turbinadores para o Mega). Palavras não conseguem descrever minha sensação de euforia quando, após instalar meu Sega-CD, coloquei Sewer Shark (jogo que vinha com o console) e, pouco depois, eu estava jogando um filme, com atores e vozes reais! O único problema era a quantidade de cores, que era a mesma do Mega, o que deixava os gráficos pontilhados. Agora o som, quanta diferença. Pela primeira vez, era possível encontrarmos músicas cantadas em jogos, sem falar vozes gravadas por atores reais. Eu fico tentando pensar o que deu errado no mundo dos games pois se, há 15 anos, jogávamos filmes e desenhos animados em nossas salas, sempre achei que hoje estaríamos jogando hologramas. Eu realmente sinto falta de jogos filmados e era muito legal ter a possibilidade de vermos novas seqüências em live-action com os personagens de Star Wars (em Jedi Knight, de PC), por exemplo, filmadas especificamente para um jogo. Bons tempos. Já o 32X foi o último suspiro do Mega e foi um fracasso. Teve pouquíssimos jogos lançados e, embora melhorasse substancialmente os gráficos e sons originais, não podia encarar a nova geração que estava surgindo. Saíram, inclusive, alguns jogos que utilizam tanto o 32X quanto o Sega-CD, mas eu nunca consegui colocar minhas mãos em um. Dizem, inclusive, que o fato de a Sega ter abandonado o 32X muito rápido, fez com que os consumidores que o tivessem comprado se sentissem traídos e isso contribuiu para a decadência da tremendona suprema nas duas gerações seguintes.

Sobre o controle: Ambos usavam o mesmo controle do Mega.

Sobre os jogos: Para Sega-CD, eram basicamente jogos filmados ou em animação, como Dragon’s Lair, Night Trap (provavelmente foi daqui que surgiu a inspiração para o programa Big Brother), Sewer Shark e os maravilhosos Road Avenger e Tomcat Alley. A maior parte dos outros jogos, contudo, eram versões de jogos que já existiam no Mega, com o som melhorado e os mesmos gráficos, o que era um tanto frustrante. Sonic CD era um bom exemplo disso, já que tinha gráficos inferiores ao Sonic 2, de Mega. Outro bom exemplo é Hook, jogo que não saiu para Mega, mas que mesmo assim perdia para a versão do SNES em gráficos. Contudo, uma ótima adaptação foi feita para o clássico Final Fight que, inclusive, superou o original de fliperama. Já os de 32X não tinham filmes ou animação, mas melhoravam bastante os gráficos. Dos poucos jogos lançados, se destacam Doom, Virtua Racing Deluxe e Mortal Kombat 2 (a melhor adaptação de arcades feita nessa época).

Pontos fortes: No Sega-CD, o som e a possibilidade de jogar um filme. No 32X, os gráficos.

Pontos fracos: O Sega-CD só mudava o som e a capacidade de armazenamento em comparação ao Mega, sem falar que poucos jogos saíam no Brasil. Os tempos de carregamento pela primeira vez realmente começaram a encher o saco. Já o 32X não teve tempo suficiente para vingar e pouquíssimos jogos foram lançados.

Carros-chefes: No Sega-CD, temos Dragon’s Lair, Night Trap, Sewer Shark, Road Avenger, Tomcat Alley, Sonic CD e Final Fight CD. No 32X, temos o divertido Tempo, Virtua Fighter, Virtua Racing Deluxe, Doom e o Mortal Kombat 2.

That’s all, folks! Semana que vem a gente continua, com a entrada da Sony desafiando a supremacia da Nintendo e praticamente levando a Sega à falência. Até lá! Agora se você está lendo essa matéria atrasado, olha só que legal, basta clicar aqui e continuar sua leitura como se esse texto nunca tivesse sido dividido.