A Credibilidade da Bíblia

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Nota: A coluna Pensamentos Delfonautas é o espaço para o público do DELFOS manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os mais variados assuntos. Apesar de os textos passarem pela mesma edição que qualquer texto delfiano, as opiniões apresentadas aqui não precisam necessariamente representar a opinião de ninguém da equipe oficial. Qualquer delfonauta tem total liberdade para usar este espaço para desenvolver sua própria reflexão e, como não são necessariamente jornalistas, os textos podem conter informações erradas ou não confirmadas. Se você quer escrever um ou mais números para essa coluna, basta ler este manual e, se você concordar com os termos e tiver algo interessante a dizer, pode mandar ver. Inclusive, textos fazendo um contraponto a este ou a qualquer outro publicado no site são muito bem-vindos.

Meu nome é Guilherme, conhecido pelo nick @Gilgamesh aqui no DELFOS, tenho 20 anos e sou estudante de engenharia. Esse texto era originalmente uma resposta a um comentário feito em um texto do DELFOS (a saber, a resenha de Planeta dos Macacos: A Origem). Mas ficou tão grande que eu acabei tendo a idéia de transformar em um texto e enviar para publicação nessa coluna. Assim, resolvia o problema dos comentários fora de tópico, chamava mais atenção e poderia continuar a discussão, que eu achei interessante.

Então vamos lá, comecemos pelo óbvio: todo mundo já ouviu por aí a história de que a Bíblia é um livro sagrado, e que ela contém um conjunto de regras que, de acordo com a própria, devem ser seguidas sempre, e que teremos como recompensa por isso a vida eterna. Por outro lado, a punição pra quem desobedecer Deus é um sofrimento supremo. Atualmente, o cristianismo deve ter mais de dois bilhões de fiéis – pessoas que seguem os ensinamentos da Bíblia, e influenciam tremendamente no mundo ao redor, seja na cultura, nas leis de um país ou na economia. Todo esse esquema mundial se fundamenta nesse único livro, e a maioria dos seus seguidores vivem convictos de que o que está escrito lá é a única verdade.

O problema é que boa parte das pessoas simplesmente aceita o fato de a Bíblia ser sagrada sem questionar, e pensam: “puxa vida, todo mundo aceita isso como fato, o padre me ensinou que é isso mesmo e, olha só – não mate; não roube; seja bonzinho com os seus pais – eu só vejo coisas boas escritas aqui, e elas explicam por que existe sofrimento no mundo e como resolver isso. Ah, não tenho mais dúvidas, esse tem que ser mesmo o livro de Deus”.

Outras acham na Bíblia a resposta aos seus problemas: coisas como “encontrei na Bíblia o sentido da vida”, “consegui me livrar do vício”, ou um “minha vida melhorou” são coisas que se ouve frequentemente quando se pergunta a alguém a razão de se acreditar naquilo.

Tem também aquelas pessoas que já nascem dentro da igreja: são criados por pais fiéis e crescem tendo isso sendo martelado na cabeça o tempo todo. Quando já são adultos aceitam isso do mesmo jeito que aceitam o fato de que eles são eles mesmos. Enfim, temos uma enorme parte desses dois bilhões que aceitam a Bíblia sem nem mesmo ter feito um questionamento sério sobre isso.

QUESTIONAMENTO

Quem foi que escreveu isso? Se a Bíblia é uma coleção de livros de autores diferentes, quem foi que juntou tudo? E que critério foi utilizado pra isso? A resposta imediata de que “esses caras foram inspirados por Deus” não é satisfatória. Afinal, qual a garantia de que Deus, se existe, inspirou todas essas pessoas e fez esse texto chegar intacto nas minhas mãos hoje, centenas de anos depois?

A resposta para essas perguntas faz a diferença. TODA a diferença. Essa é uma das únicas coisas na vida em que se deveria ter 100% de certeza. Eu, por exemplo, do jeito que estou, se Deus existe e for o da Bíblia, provavelmente vou acabar indo pro Inferno falar com o Bin Laden. Se eu tivesse a resposta a essas perguntas, teria ido ao culto na igreja esse fim de semana, feliz da vida. Ia ter certeza que Deus existe e ia respeitá-lo. Ia parar de ouvir Slayer. E no final dos tempos ia ser promovido a imortal.

O delfonauta Tio_Zé, nos comentários, me respondeu com um bom argumento: “o fato da Bíblia EXISTIR, apesar de por séculos ser crime passível de morte apenas possuí-la, é um sinal de que não é um livro qualquer. Não chegou até os nossos dias através da igreja católica, chegou escondida e defendida com o sangue de quem acreditou que era um livro importante”.

Pois então, o problema é que não importa se numa época a Bíblia foi proibida e se milhares de pessoas morreram em nome dela. Não se pode simplesmente confiar na causa de pessoas que viveram mil e tantos anos atrás. Mesmo se elas morreram nobremente defendendo a Bíblia, isso não me dá 100% de certeza da veracidade dela. A probabilidade de um livro não sagrado passar pelas mesmas condições e chegar nas nossas mãos existe também, e aconteceu com os livros sagrados de outras religiões.

Saber exatamente quem escreveu, quando, e quem foi que juntou tudo é de suma importância. Quem garante com 100% de certeza que a Bíblia passou por toda a história, inclusive pela obscura idade média, com o texto original intacto? Será que um daqueles papas mercenários da idade média não pode ter simplesmente mudado o valor do dízimo de 5 para 10% pra ficar mais rico? Hoje temos milhões de pessoas que pagam 10% de dízimo fielmente e não sabem responder essa pergunta. E antes, quando formaram a Bíblia: alguém me garante que o rei de Constantinopla, ou seja lá quem que comandou a parada toda, não resolveu simplesmente vetar a entrada de algum livro, ou colocar mais um lá, por interesse? Isso aconteceu, e são os evangelhos apócrifos que podem ser encontrados por aí hoje.

Sem precisar procurar muito, nós já temos exemplos grotescos de alteração no texto. Temos livros na Bíblia católica que não estão presentes na Bíblia protestante. Isso porque um cara achou que estava errado, foi lá e tirou. Outro dia um cara chamado Joseph Smith Jr. escreveu um livro e disse que é tão sagrado quanto a Bíblia. Ele disse que foi inspirado por Deus, do mesmo jeito que o autor do livro de , Amós, Mateus ou sei lá diria se perguntássemos pra ele. E agora, quem está certo? Em qual versão eu acredito? Se eu for com os católicos, os mórmons vão dizer que eu vou pro inferno. Se eu fizer transfusão de sangue, os Testemunhas de Jeová (ou seja lá como eles chamam a sí próprios) vão me condenar, porque pela Bíblia deles e pela interpretação deles não pode.

E AGORA?

Pessoas pelo mundo dedicam suas vidas inteiras seguindo um livro e tendo como a maior “garantia” na veracidade dela a própria fé. Não há nenhuma coleção de fatos que prove definitivamete isso; só indícios, “sinais de que”. Como eu vou dedicar o resto da minha vida seguindo os ensinamentos de um livro no qual eu não tenho certeza absoluta se é verídico? Vou escolher uma tradução bem aceita e torcer pAra que seja a verdadeira? Dedicar/desperdiçar a vida inteira em pesquisas para tentar descobrir a verdade, só pra no final continuarmos não tendo certeza? Ou para descobrir que eu realmente não podia ter feito transfusão de sangue e agora vou queimar no Inferno simplesmente porque já fiz? Será que Deus, se existe, realmente quer que as pessoas vivam a vida em função disso? Eu duvido.

Nós somos criaturas providas de raciocínio crítico e livre arbítrio. Sendo assim, se Deus existe e quer que a gente siga as suas regras, o mínimo que ele podia ter feito seria garantir que ele existe mesmo e que essas regras são realmente suas regras. Colocar as coisas dessa maneira pra seres que são capazes de questionar fatos incertos, e não simplesmente aceitar que são verídicos pela fé, é pedir pra arranjar confusão.

SE DEUS É PERFEITO, NÃO TEM ALGO ERRADO?

Está claro que tem. As condições dadas para crer nisso tudo simplesmente não são razoáveis. Isso significa que a Bíblia não pode ser obra de um ser perfeito (ou de alguém inspirado por um ser perfeito, tanto faz) pois, se fosse, ele teria garantido a veracidade do seu livro. Caso contrário ele estaria sendo injusto com quem não quis acreditar nisso, implicando que ele é injusto. E se ele é injusto, é imperfeito. Conclusão: não foi Deus que fez. Pura lógica.