Não é novidade que em Brasília tem gangues e outros grupinhos de jovens, geralmente ricos ou de classe média, adeptos de drogas e violência. Isso todo mundo sabe. Estranho mesmo é ver um filme completamente maluco sobre um pessoal brasiliense muuuuito drogado, que vive de teorias bizarras e intelectuais do tipo: “queimemos nossas carteiras de identidade! Nós não somos ninguém! Por que nome? O nome é uma prisão!”.
Assim como o Cyrino, eu também nasci naquele quadradinho no meio do Brasil e talvez possa até falar mais de lá, já que fiquei mais tempo em Brasília do que o meu colega. O filme de José Eduardo Belmonte começa dizendo que “tem coisas que só conhece quem é de Brasília” e, em seguida cita algumas delas, como descer embaixo do bloco, sentir a garganta queimando por causa da falta de umidade, entre outras. Essas verdades, de fato, só conhece quem é de lá, ou morou lá por um tempo razoável.
Confesso que ver isso na tela grande me emocionou um bocado. Afinal, é essa a Brasília de quem vive lá e não a que aparece nos jornais televisivos. Esse início de A Concepção é bem legal por isso, mas ainda assim não diz nada a quem não é de Brasília. E o resto do filme? Uma viagem vazia, meu amigo.
Quando os garotos e garotas liderados por X (Matheus Nachtergaele) lançam o tal do “Manifesto Concepcionista”, em uma reunião repleta de drogas, até dá a impressão que o filme vai se tornar um tipo de Trainspotting brasiliense, mas não é isso que acontece. Explicando melhor: o filme Trainspotting – Sem Limites, dirigido por Danny Boyle (de Extermínio) mostra um grupo de amigos escoceses, entre eles Ewan McGregor (Ou o jovem Obi Wan Kenobi), que entram no mundo das drogas e sofrem muito para se livrarem dela e se tornarem pessoas decentes.
O que é interessante no filme de Boyle são as tentativas e erros dos personagens, que tentam parar com seus vícios, mas nem sempre conseguem. Outra coisa muito boa é que o filme mostra tanto o prazer da heroína (na frase inesquecível de McGregor: “Pegue sua melhor trepada, multiplique-a por mil e você não chega nem perto” como também a dificuldade que é largar o vício de uma droga tão pesada assim. Esses fatores, além de vários outros, que fizeram de Trainspotting – Sem Limites um dos filmes que definiu os anos 90, não estão nem um pouco presentes em A Concepção, que prefere martelar na cabeça do espectador toda essa “masturbação mental” de pessoas vazias, se drogando e falando frases de efeito.
Mesmo como uma crítica social, levando em consideração que essas pessoas existem em grande quantidade numa cidade como Brasília, o filme de Belmonte ainda parece carecer de mais conteúdo, que é justamente o que falta a esses jovens retratados e criticados na obra. Não chega a ser chato, porque tem uma montagem ágil e uma trilha sonora bem legal. Mas é vazio. Cabe perfeitamente na categoria de “Filmes nada”. Se essa foi a intenção de Belmonte, ele está de parabéns, pois conseguiu fazer um filme vazio em uma cidade sem história, mas ainda assim, no fim das contas, parece que o tempo foi perdido em personagens que definitivamente não mereciam um longa-metragem sobre suas vidas viciadas e desinteressantes.